Quando anunciaram que a franquia "Halo" seria adaptada para os cinemas, gamers de todo o mundo ficaram extasiados, ainda mais com o nome Peter Jackson na produção. Quem iria dirigir o filme seria o novato Neill Blomkamp, um entusiasta de efeitos especiais que havia mostrado qualidades inegáveis com seu curta "Alive in Joburg".
"Halo" não vingou, mas dessa decepção nasceu "Distrito 9". Peter Jackson, percebendo o talento de Blomkamp, deu carta branca para o mesmo escolher um tema e realizar seu primeiro filme - de baixo orçamento obviamente. O diretor optou então por voltar ao interessante tema de "Alive in Joburg", aproveitando elementos cenográficos que seriam utilizados no finado "Halo".
"Distrito 9" é uma ficção científica que definitivamente surpreende pela criatividade. Nascido na África do Sul, Blomkamp utiliza o país como centro de um contato mais que imediato com alienígenas, deixando os EUA - que sempre aparece como o centro das atenções em invasões deste tipo - de fora da jogada dessa vez.
Seguindo uma linha inicialmente documental, vemos a problemática situação burocrática que a capital Joanesburgo enfrenta quando uma espaçonave repleta de extraterrestres operários ancora no céu. Aparentemente sem um líder, estes "prawns" (apelido nada carinhoso que significa pequeno crustáceo, menor que um camarão) se encontram desnorteados, sem saber ao certo como proceder. Surge então o Distrito 9, uma área onde os visitantes podem residir e assim coexistir "pacificamente" com a raça humana.
Mas depois de décadas, o local (que virou uma favela criminosa) acaba se tornando um incômodo para a população. Visando a melhoria de vida dos habitantes ao redor, é autorizado uma espécie de novo apartheid, em que todos os aliens seriam reposicionados no Distrito 10, extremamente afastado da civilização. E à frente dessa desocupação está Wikus Van de Merwe (Sharlto Copley, que atuou também em "Alive in Joburg"), um funcionário da megacorporação MNU - instituição que, além de possuir esse lado "social", também domina o mercado armamentista. A principal motivação da MNU é usurpar inteligência alienígena, descobrindo, por exemplo, como utilizar suas armas biologicamente desenvolvidas.
Apesar destes "prawns" de aparência insectóide serem em totalidade ignorantes, e estarem perdidos sem o comando de uma rainha mãe, existe entre eles uma equipe que tenta a todo custo religar a nave (colmeia) e voltar para casa. Quando Wikus encontra com estes "sujeitos" em particular, sua vida muda drasticamente. Ele acaba infectado por uma substância que o faz se transmutar em um dos alienígenas, fato que o torna a cobaia perfeita para a MNU, que não possui um pingo de compaixão diante de sua delicada situação.
Além deste excepcional roteiro, que faz paralelos claros com a segregação racial que o país (e o mundo) enfrentou tempos atrás, a obra também chama atenção por sua profusão técnica. Os efeitos especiais beiram a perfeição, é tudo muito orgânico. A câmera tremida e a integração perfeita da CG com o ambiente faz das cenas uma realidade palpável. Já o humor do excelente ator Sharlto Cooper oferece um ar diferenciado para o tema: auspiciosamente espontâneo, ele improvisou todos os seus diálogos. Digno de nota.
No final, "Distrito 9" pode tranquilamente ser cotado como um dos melhores filmes de ficção científica de todos os tempos. A direção atenciosa e inventiva de Blomkamp se une perfeitamente a um roteiro de qualidades únicas. Todos os elementos transpiram criatividade: o vício e tráfico de comida de gato, a magia negra visando poderes de outro mundo, a influência da mídia e corporações malignas, os relatos da população e comentários de especialista no tema, o amor entre o protagonista e sua esposa, tudo resulta em uma história memorável. Nada mal para um novato com o apertado orçamento de 30 milhões de dólares.
Distrito 9/ District 9: EUA, Nova Zelândia, Canadá, África do Sul/ 2009/ 112 min/ Direção: Neill Blomkamp/ Elenco: Sharlto Copley, Jason Cope, Nathalie Boltt, John Sumner, William Allen Young, Nick Blake