Pacto Maldito (Mean Creek)

"Pacto Maldito" é um excelente exemplo de como um bom roteiro pode fazer uma fita de baixíssimo orçamento se tornar algo memorável. Realizada no ano de 2004, a obra independente custou míseros 500 mil dólares, e rendeu perto de 30 milhões.

Dirigido e roteirizada por Jacob Aaron Estes (realizando sua estreia), o filme conta a relevante história de um grupo de amigos - na maioria crianças e adolescentes - que planejam dar um susto no moleque valentão George, que sempre infernizou a vida de todos na escola. A lição seria conduzida pelos mais velhos da turma, o bad boy Scott Mechlowicz e seu amigo Rocky - que é irmão de Sam, a última vítima do tal bully.

O plano era o seguinte: durante um passeio de canoa, eles arrancariam as roupas de George e o abandonariam no lugar, fazendo com que ele tivesse de correr pelado até em casa. O problema foi que George se revelou um garoto disfuncional, com aparentes problemas de personalidade ou mesmo psicológicos, como (talvez) QI baixo, ser um filho único mimado, alienado... e por aí vai. 

Estas pistas denotam que o garoto, no final, é apenas o resultado de uma equação, e não um vilão como todos o pintavam, e depois de se relacionarem com o mesmo, percebem que ele é engraçado, confiante e amável .. de uma forma meio distorcida. O plano então é abortado. Só que nem tudo corre como o programado.

Com este enredo simples e ao mesmo tempo rico de significados, o diretor Aaron Estes consegue dar vida a uma pequena obra prima, que explora a fundo os caminhos tortuosos da indignação humana. E para isso, o texto coloca o próprio espectador dentro do barco, o fazendo julgar e ser julgado - definitivamente uma experiência visceral.

Diante dos fatos apresentados, somos conduzidos a escolher um lado, mesmo sabendo as opções que estão na mesa. É então que surgem os questionamentos morais do que é certo, errado e incontrolável. Esta inteligente análise segue até os últimos minutos do filme, com um desfecho crível e arrasador.

O time de jovens atores chama atenção. Como o protagonista Sam, temos Rory Culkin ainda muito jovem, já demonstrando seu talento e maturidade. Junto a ele Scott Mechlowicz também realiza um bom trabalho como Marty, e Trevor Morgan segue a mesma linha com seu Rocky. Mas o grande destaque é Josh Peck, que faz o engraçado e por vezes insuportavelmente vilão George Tooney. Peck é um velho conhecido dos fãs da série "Drake & Josh", da Nickelodeon, e demonstra muita capacidade ao interpretar este complicado personagem, cheio de camadas, contrastes e momentos extremos. Realmente um ótimo trabalho.

"Pacto Maldito" ainda é - principalmente com esta discussão enorme sobre os problemas do bullying e tudo mais - uma produção extremamente relevante, muito bem registrada, dirigida e com um roteiro excepcional, que constrói de maneira eficiente a personalidade de todos os envolvidos na ação, aproximando contundentemente o grupo da audiência, e abrindo uma discussão pertinente (e acima de tudo realista) sobre as consequências de nossas escolhas... ou falta delas. O trabalho, merecidamente, foi selecionado para o festival de Cannes e Sundance quando lançado. Recomendado.

P.S: um fato estranho sobre o nome em português do filme me chamou a atenção. Quando lançado no Brasil, o mesmo foi chamado de "Pacto Maldito" - título pelo qual optei -, mas no IMDB o nome está "Quase um Segredo". Vai entender?!





















Pacto Maldito/ Mean CreekEUA/ 2004/ 90 min/ Direção: Jacob Aaron Estes/ Elenco: Rory Culkin, Ryan Kelley, Scott Mechlowicz, Trevor Morgan, Josh Peck, Carly Schroeder, Branden Willians

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