O Retorno de um Herói (Taking Chance)

O diretor Ross Katz amplificou a voz do Tenente-Coronel Michael Strobl e propagou esta emocionante história real de um jovem soldado americano que perdeu a vida no Iraque.

O jovem Chance Phelps poderia ter seguido por diversos caminhos em sua vida, mas após os atentados de 11/09 apenas uma coisa parecia certa para ele: se alistar no exército americano. O filme “O Retorno de um Herói” apresenta o trajeto de volta para casa do corpo de Phelps, que morreu em combate. Ele foi conduzido pelo Tenente-Coronel Michael Strobl, que seguindo o procedimento padrão do exército, anotou detalhes da viagem para elaborar o seu relatório de serviço, mas tudo se tornou tão pessoal para o militar que, desta viagem nasceu o texto que no final se transformaria no filme em questão.

Com um enredo aparentemente simples, a obra tenta não escolher lados diante a guerra do Iraque e suas motivações, mas sutilmente demonstra certa oposição a ocupação do país. Ao invés de fazer uma obra política, tanto Strobl como o diretor Ross Katz (roteirista e co-roteirista) escolheram narrar de forma contemplativa todo o ritual por trás do sepultamento de um soldado americano. O filme fala da dor, da honra e principalmente do respeito para com os mortos, ainda mais daqueles que se foram cedo e para defender seu povo. De forma serena o filme demonstra o real patriotismo americano - sua maior qualidade e também sua maior sina, tendo em vista o país descarrilado que todos esses jovens tentam ajudar a controlar.


Kevin Bacon interpreta e literalmente dá vida a Strobl. Com poucas palavras o ator faz transparecer toda a emoção e surpresa de um soldado que se vê rodeado de solidariedade e compreensão por todo o trajeto que tem de trilhar para entregar o rapaz falecido a seus familiares. No longa, Strobl ocupa um cargo burocrático após ter servido no Golfo, e se sente incomodado ao ver tanta coisa acontecendo naquele momento e não poder fazer nada, tantos jovens carregando seus amigos mortos e ele não pode ajudar. Por ter mulher e filhos, tudo acaba sendo uma conveniência de difícil aceitação para o soldado que um dia jurou ser “Sempre Fiel”. É por essa inquietação que ele precisa ir um pouco além de sua mesa e seus dados. Vai como voluntário nessa missão de levar os mortos para casa.


O diretor Katz, que fez a produção de filmes como “Encontros e Desencontros” e “Maria Antonieta” (ambos da diretora Sofia Coppola), acertou neste seu primeiro filme, principalmente no andamento tranqüilo e muito bem administrado, que foi complementado pela eficiente trilha de Marcelo Zarvos. Em um filme conscientemente carregado de sentimento, a trilha sonora acaba sendo parte essencial da funcionalidade da obra em geral. 

O diretor apresentou e exaltou apenas pessoas normais, nada de egos atormentados pela guerra, revoltados e ensandecidos por horrores vividos. Seguindo a linha de um “road movie”, o personagem de Bacon se depara com diversas ocasiões inusitadas, que serviram para construir este testemunho de cumplicidade de uma sociedade claramente fragilizada pela guerra. São os funcionários de um aeroporto que respeitam a continência perante o corpo em uma caixa que é embarcada no avião, a solidariedade de uma aeromoça que entrega um crucifixo ao militar ou o vigia que entende a dedicação do soldado que dorme ao lado do corpo em um galpão a caminho de seu destino final. O filme fala do americano médio, potencialmente bom, que enxerga no uniforme do soldado a vida de seu filho, seu amigo, seu marido, mulher ou sobrinho, e com gestos simples, como uma continência seguida de um olhar, o resultado final realmente emociona.


O longa apresenta de forma surreal um respeito quase estranho e infelizmente pouco comum entre as pessoas. O filme não tenta lhe arrancar lágrimas em demasia ou te posicionar a favor ou contra a guerra, ele simplesmente conta a história de um jovem que era muito querido por seus amigos e familiares e que morreu em uma emboscada no Iraque ajudando a salvar seus companheiros. O garoto Chance claramente é apenas um entre as mais de 3,500 mortes de soldados nesta guerra, e focar tanta atenção nele pode parecer uma injustiça para com os outros, e realmente é uma injustiça, pois não há celebrações, filmes e documentários o bastante que justifique a morte desses soldados ou de qualquer outra pessoa morta em uma guerra. 

O que aconteceu ali foi que o Tenente-Coronel Michael Strobl teve a chance e o talento de contar uma história e através dela mostrar um cenário onde muitos desses jovens voltaram mortos para casa. De forma bastante explicativa ele aborda todos os elementos obrigatórios envolvidos neste momento tão delicado e triste. Elementos estes que podem parecer exagerados, mas que na verdade ressaltam o valor da vida humana, pois o modo como lidamos com nossos mortos exemplifica a personalidade de nossa sociedade.

O DVD, que chegou despercebido no Brasil, traz ainda extras interessantíssimos, que complementam em muito o tema. Os documentários sobre o jovem de vinte anos serviram como um rico material para o projeto, pois ali encontramos diversas falas e cenas do filme, todas descritas por pessoas reais, que são os pais, amigos e o próprio Strobl, idealizador por acidente - podemos dizer  - desta história no mínimo relevante.


O Retorno de um Herói/ Taking Chance: Estados Unidos/ 2009/ 77 min/ Direção: Ross Katz/ Elenco: Kevin Bacon, Tom Aldredge, Blanche Baker, Guy Boyd, James Castanien

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