#Altos e Baixos Vertiginosos
Ironicamente, Mundos Opostos é um filme de contrastes extremos. Ao mesmo tempo em que agrada muito em determinados aspectos, decepciona demais em outros. Com ele, o diretor e roteirista Juan Solanas se propõe a contar uma história de amor diferente, mas que leva em sua essência aquela impossibilidade shakespeariana. As vítimas no caso são os jovens Eden e Adam.
O pano de fundo é mais ou menos o seguinte: em uma realidade paralela, pessoas vivem em planetas gêmeos, que se posicionam um sobre o outro, de forma espelhada. Ou seja, quando os habitantes do topo olham para cima, eles veem os habitantes debaixo, também olhando para cima. Entenderam?
Em sua essência, a obra fala sobre diferenças. Seu contexto evidencia uma óbvia separação de castas, e possui argumentos que distanciam ainda mais os dois mundos, como questões de inferioridade social e cultural. O lado pobre é uma colônia de exploração de petróleo, e sua população vive controlada por um governo truculento (um cenário bem distópico). Lá tudo é sujo, escuro e frio, por isso lhes resta a alcunha de o lado de baixo. Já no lado de cima tudo é diferente, iluminado, belíssimo e acolhedor. A riqueza transborda para o povo pelas veias (cheias de petróleo) da empresa que controla tudo e todos nestes dois mundos, a TransWorld.
Só que o grande problema mesmo, que separa enfaticamente os dois apaixonados, é a estranha força gravitacional que se aplica sobre os dois planetas. Não importa onde você esteja, a gravidade sempre o atrairá ao seu mundo de origem.
Bem, como é possível perceber, existe muita criatividade autoral nesta história, algo que chama atenção. O conceito é interessante e definitivamente tem seu valor. No entanto, é no roteiro de Solanas que se encontra o maior problema. O desenrolar da trama é ridiculamente formulaico, e faz do acaso uma fada madrinha mais do que generosa. Os atores Kirsten Dunst e Jim Sturgess tentam transformar o amor de seus protagonistas em algo convincente, mas diante do texto pobre, ambos caem no piloto automático, com ele fazendo cara de afobado e ela de incomodada - fico me perguntando se Dunst foi escolhida para este papel por beijar aracnídeos de ponta cabeça em outros filmes por aí?!
Eu sei, pode parecer mesquinharia exigir muito de algo tão fantasioso, não é? Mas neste caso o que rola é um exagero de soluções rasas e grosseiras, que empurram a trama com a barriga até o desfecho, este que por sua vez é descaradamente irrisório. Tudo é muito programático. Chega a ser engraçado ver o filme acontecer exatamente como deveria acontecer. Existe também certa forçação de barra na física inventada para obra, que estranhamente reconhece objetos de um determinado planeta, os enquadrando obrigatoriamente em uma determinada gravidade (isso nem é tão problemático na verdade, mas acaba soando como uma grande lorota de qualquer maneira.)
Não esquecendo ainda do mau desenvolvido background do violento governo local, que parece uma espécie de totalitarismo. Infelizmente não existem oportunidades palpáveis de conhecê-lo melhor, sendo que o mesmo é usado quando necessário e pronto, até mais ver. E para finalizar, logo no comecinho, surge aquele voice over oportuno, cheio de filosofias de botequim, conduzindo o espectador por um tutorial sobre os mundos, para depois ser descartado ao vento.
E criando o contraste extremo de que falei no início, nascendo em meio ao descompasso, temos a direção técnica eficiente de Solanas. Sem dúvida a fita encontrará seu público devido ao visual arrebatador alcançado. Com muita criatividade e ousadia, o diretor oferta momentos de beleza admirável, com fotografia reluzente, ângulos inovadores, enquadramentos inteligentes, e o uso mais que correto de efeitos especiais deslumbrantes. O resultado é uma surpreendente pintura, praticamente surrealista, que ressalta a simetria de homens e mulheres interagindo e se relacionando em planetas invertidos.
No final, fica claro que um desenvolvimento mais bem talhado poderia ter feito de Mundos Opostos um clássico cult instantâneo, mas passou longe disso. A direção estilística de Juan Solanas te conduzirá atento até o último minuto, para que você então se decepcione e perceba que erros ridículos de roteiro superaram os acertos técnicos. É entediante ver uma trama que simplesmente segue em frente sem te oferecer desafios, é como se deslizasse nos trilhos de um trem, um caminho programado no qual você aproveita somente a vista. Literalmente um filme de altos e baixos vertiginosos.
Upside Down: Canadá, França/ 2012/ 100 min/ Direção: Juan Solanas/ Elenco: Kirsten Dunst, Jim Sturgess, Timothy Spall, Agnieshka Wnorowska, Neil Napier, James Kidnie, Holly O'Brien, Heidi Hawkins