A história se foca na trajetória dos jovens Kate e Charlie, casal que usa a bebida como elo de seu relacionamento. Ela é professora em uma escola primária, e ele é um jornalista que vive de bicos e às custas da família. Certo dia, tomada por uma ressaca fortíssima, Kate vomita na frente de sua turma, e quando um de seus alunos pergunta se ela está grávida, a mesma mente sem pestanejar - fato que acaba gerando outras situações inconvenientes.
Este foi, basicamente, o momento que despertou em Kate questionamentos sobre sua possível condição de viciada. Até aquele momento a ideia não havia tomado uma forma concreta em sua mente (talvez por medo ou simplesmente ignorância), pois beber sempre foi algo natural em sua vida. Seus pais, amigos e marido sempre beberam muito, então ela nunca relacionou isso a algo ruim. Mas um basta se mostrou necessário quando as coisas deixaram de ser vergonhosas e se tornaram assustadoras.
O argumento mais válido esmiuçado pelo filme é a dificuldade que um alcoólatra enfrenta no início de seu tratamento, quando começa a participar de grupos como os dos Alcoólatras Anônimos. Qualquer problema enfrentado serve para desmotivar e enfraquecer a pessoa que busca ajuda, abrindo espaço então para as temíveis recaídas. No caso de Kate, um dos principais empecilhos de sua recuperação é a falta de compreensão do marido Charlie, que mesmo amando sua companheira, como todo viciado, age de maneira imprevisível e potencialmente cruel.
Apesar do tom leve, contornado em certos momentos por um humor ácido, por vezes nervoso, a obra se foca mesmo no drama desta transformação, e não tenta ser complacente ou oferecer respostas e soluções que resultam em felicidade plena. O texto finca seu pé na realidade, e oferta apenas o caminho inicial trilhado pela adicta, e não o que ela colheu com suas atitudes.
A força de "Smashed" está concentrada em seu elenco. Obviamente a condução de Ponsoldt serve como um alicerce da naturalidade que vemos em cena, mas são as interpretações que verdadeiramente cativam o público. O grande destaque é Mary Elizabeth Winstead como Kate. Aqui, a jovem e bela atriz foge do estigma de bibelô, se revelando uma intérprete de alto potencial dramático. Ela consegue encontrar uma voz inspiradora em momentos importantes, como na sua primeira reunião no AA, em que descreve de forma tocante suas angústias e medos. Sempre mal vestida e aparentando pouca maquiagem, Winstead deixa de lado a ênfase em sua beleza (que até então havia sido fundamental para sua carreira) e atua sozinha, por assim dizer. Um ótima trabalho, de fato.
Junto a ela temos dois ótimos atores que são figuras conhecidas daqueles que curtem séries de TV. São eles: Aaron Paul, que interpreta o marido mimado Charlie - Paul faz sucesso com seu premiado trabalho na série "Breaking Bad" -, e Nick Offerman, que vive o amigo Dave - Offerman por sua vez participa da hilária "Parks and Recreation". De quebra, temos uma pequena participação da vencedora do Oscar Octavia Spencer, como a madrinha do AA Jenny.
Em resumo: é sempre relevante prestigiar trabalhos que tratam de maneira sensata o tema alcoolismo. Definitivamente, não existe nada pior do que presenciar uma pessoa ter sua vida sugada por este vício, e por isso, quanto mais informação melhor. "Smashed" é um filme humilde, de baixo orçamento, mas que traz em sua essência uma forte mensagem, propagada por um elenco motivado pelas qualidades do roteiro. A direção de James Ponsoldt proporciona uma vívida liberdade para as cenas, e faz com que sua protagonista Kate seja uma voz autêntica para aqueles que infelizmente já viram de perto algo parecido - basicamente uma nação de pessoas.
PS: "Smashed" ganhou o "Special Jury Prize" no festival de Sundance ano passado.
PS: "Smashed" ganhou o "Special Jury Prize" no festival de Sundance ano passado.
Smashed: EUA/ 2012/ 81 min/ Direção: James Ponsoldt/ Elenco: Mary Elizabeth Winstead, Aaron Paul, Octavia Spencer, Nick Offerman, Megan Mullally, Mary Kay Place, Kyle Gallner, Bree Turner, Mackenzie Davis