O Ditador (The Dictator)

Quando assisti "Borat - O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América", me lembro de ter achado a experiência insultante e renovadora. O grau de loucura de Sacha Baron Cohen se mostrava extremo, polêmico, e acima de tudo real. Sua interação com não atores foi algo brilhante na época - ofensivo, abusivo, deturpado... mas brilhante. Com "Bruno" ele seguiu a mesma linha, criou um personagem ridículo que, ironicamente, era horrivelmente realista, podendo ser encaixado em diversas situações absurdas sem ao menos desconfiarem de sua veracidade - apresentar realitys grotescos, com cenas fortes de nudez e racismo, para as maiores emissoras do mundo, tentando vender aquilo como programa de TV... foi, novamente, algo difícil de não se impressionar (ou rir), mas claro, foi ofensivo, abusivo... E vale a pena lembrar que nestes dois filmes ele acabou colecionando processos e sendo preso por invadir eventos como desfiles de moda e rodeios. 

Chegamos então em "O Ditador", definitivamente o produto menos inspirado do ator, roteirista e produtor britânico. Veja bem, todos os elementos polêmicos utilizados por ele estão lá: o machismo extremista e criminoso, o desrespeito a qualquer tipo de crença, credo ou raça (em especial com o povo judeu), a sexualidade doentia e a ridicularização máxima dos Estados Unidos. Não pensem que estou reclamando, todos estes são temas já muito bem explorados por Cohen, mas em "O Ditador" eles simplesmente não funcionam. E o principal motivo? Este é um filme de verdade.

O diretor de "O Ditador", Larry Charles, também conduziu "Borat..." e "Bruno", além de ter no currículo o ótimo "Religulous: Que os Céus nos Ajude", uma crítica voraz a todas as religiões feita pelo famoso comediante americano Bill Maher. Ou seja, todos estes trabalhos são documentários acima de tudo. Por mais que os primeiros filmes de Cohen possuíssem histórias rasas, o ponto central do humor era confrontar pessoas reais com piadas de mal gosto, extremamente agressivas e completamente malucas - pois na maioria das vezes, estas pessoas meio que mereciam estas piadas. Agora chamar um "especialista no tom documental" para dirigir uma "ficção de verdade"? Este foi o primeiro erro.

O segundo erro foi pensar que apenas a polêmica sustentaria o plote cretino do filme - em que um ditador insano é substituído por um sósia manipulável (devido a interesses excu$$os), sendo que agora, perdido nos EUA e com cara de mendigo asiático (ainda por cima), ele precisa aprender a ser humilde e blá, blá, blá, para assim voltar a sua tão amada autocracia. Alguns dizem que a obra é uma crítica aos governos e ditaduras, mas sinceramente... não é. Sacha tenta de forma ínfima embutir esta ideia, mas o filme no geral é simplesmente uma comédia fraca, que remete em alguns momentos ao pior lado de Adam Sandler (sim, eu ainda lembro que ele tem outro lado). Toda a polêmica criativa do passado aqui aparece simplesmente como um humor banal e gratuito. Gera risadas estranhamente sem propósitos. 

Além de tudo, o personagem principal, o Genaral Aladeen, não foi tão bem construído por Cohen como seus anteriores. Ali G e Borat, por exemplo, eram parte de quadros humorísticos para a TV, e foram lapidados com o tempo, seus backgrounds foram aperfeiçoados. Já o ditador foi algo mais espontâneo, aparentemente, e no final não convenceu.

Em resumo: "O Ditador" é uma comédia irregular, que sofre com sua direção e toda parte técnica - o andamento é trôpego e podemos notar cortes secos de cenas, sem fluidez alguma... erros banais. O roteiro traz fórmulas que funcionaram no passado, mas que usadas em um filme convencional, acabam não fazendo sentido - é mais ou menos assim: quando algo polêmico é dito para uma pessoa real, acabamos dando risada da reação, da situação em geral, e esse era o alicerce do humor de "Borat" e "Bruno"... já em "O Ditador" não existe o constrangimento de outras pessoas, apenas o nosso (de estar assistindo). Quer uma prova de como o humor documental de Cohen funciona melhor do que este exibido? Veja a campanha de divulgação do longa, com palhaçadas ao vivo no Oscar e homenagens ao ditador Kim Jong-il. Só isso já foi melhor que todo o filme.



























O Ditador/ The Dictator: EUA/ 2012/ 83 min/ Direção: Larry Charles/ Elenco: Sacha Baron Cohen, Sayed Badreya, Michele Berg, Ben Kingsley, Jason Mantzoukas, Megan Fox, Anna Faris

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