Depois de mudar a cara do cinema, os irmãos Wachowski nunca mais acertaram a ponto de superar sua obra prima “Matrix”. É claro que neste filme em questão eles são apenas os produtores, mas assim como colheram os louros do excelente “V de Vingança”, eles também podem ser responsabilizados pelas falhas deste “Ninja Assassino”.
A história começa com uma eletrizante cena onde diversos membros da Yakuza são dilacerados por um certo assassino misterioso. Somos então apresentados a Raizo, ninja aparentemente vilão que passa seus dias treinando artes marciais em seu quarto. Abusando de flashbacks, todo o passado deste jovem nos é revelado. Adotado ainda criança por uma organização secreta e muito antiga, ele foi treinado para ser uma arma letal.
Passando por dolorosos aprendizados, o jovem ninja não parece se adaptar totalmente a filosofia fria e mortal do clã, ainda mais quando mexem com a garota de seus olhos. Paralelo a isso, a pesquisadora e agente da Europol Mika Coretti, desenrola uma investigação, descobrindo que os estranhos massacres estão ligados a movimentações financeiras, revelando um possível caráter de assassinatos políticos.
O primeiro ato do filme é simplesmente maçante. Em meio às recordações da infância de Raizo, e a investigação rasa de Mika, o filme permanece num ciclo monótono, que por vezes é interrompido por alguns membros decepados. Já no segundo ato o filme toma mais corpo e fica mais interessante, mas seu desfecho incrivelmente forçado é decepcionante.
O filme acerta em muitos pontos. As lutas são espetaculares. Recheadas de efeitos visuais muito bem utilizados, elas são de uma violência absurda, chegando a ser “gore” em alguns momentos. Toda a coreografia e criatividade das cenas chamam a atenção. A montagem de verdadeiras pinturas, típicas dos Wachowski, estão lá, com seu slow motion e estrelas ninjas voando para todos os lados. Outro ponto muito positivo é a maneira com que os ninjas em questão são explorados. De forma quase sobrenatural, eles ganham ares assustadores e inovadores. Suas aparições das sombras são ótimas e todos os elementos em volta de seu treinamento, como o uso da punição física para ensinar, são muito contundentes (ao assistir parecemos sentir que aquilo deve doer pacas!).
O time de atores é fraquíssimo. Interpretando Raizo temos o jovem ator Rain (o nome dele é só isso mesmo). Homem de poucas palavras, passa metade do longa mudo, e suas habilidades marciais são muito mais exploradas do que sua capacidade interpretativa. Vivendo a agente Mika temos Naomie Harris. A atriz até que tenta, com um humor muito fraco, fazer com que sua personagem seja menos unidimensional, mas não é o bastante. Junto a ela está o parceiro Maslow, interpretado por Bem Miles, que também não consegue desenvolver nada de interessante com seu papel limitado.
O clã dos ninjas assassinos é liderado pelo severo Lorde Ozunu (cujo clã leva o nome). O ator oriental Shô Kosugi se sai melhor do que todos na produção, apesar de seu vilão não ser digno de nota. Para fechar temos a jovem Anna Sawai interpretando a ninja Kiriko jovem. A garota é de uma doçura e pureza incoerentes mediante ao treinamento insano a que é submetida.
O diretor James McTeigue tem em seu currículo o já citado “V de Vingança”, trabalhou em todos os filmes dos Wachowski como assistente dos diretores, e em “Speed Racer” dirigiu uma segunda unidade. Ele se mostra neste “Ninja Assassino” competente em suas cenas de ação, mas muito pobre no restante. O filme traz um ar caricato típico das obras ocidentais, mas que infelizmente, neste caso, soa brega e fora de contexto. Foi até uma boa idéia, mas que não surgiu o efeito esperado. Tudo é tão arrastado que acabamos por esperar (e desejar) que as cenas de ação voltem logo.
Todo idealizado (mas não roteirizado) por aqueles que deram vida a um dos filmes mais cultuados dos últimos tempos, os irmãos diretores e produtores Andy e Lana, não deram o devido valor a essa história, e na direção, McTeigue se mostrou bastante limitado. É realmente uma pena, pois este poderia ser um grande longa se não fosse por seu roteiro precário e atuações vazias. Como um filme não vive de cenas de ação o resultado é simplesmente morno.
Ninja Assassino/ Ninja Assassin: Estados Unidos, Alemanha/ 2010/ 99 min/ Direção: James McTeigue/ Elenco: Rain, Sung Kang, Randall Duk Kim, Naomie Harris, Yuki Iwamoto, Shô Kosugi