Infelizmente o nome em português é broxante: "Todo Mundo Quase Morto". O título original é "Shaun of the Dead", uma pequena brincadeira com o nome "Dawn of the Dead", em português: "Madrugada dos Mortos", clássico de George A. Romero que na época havia sido readaptado pelas mãos eficientes de Zack Snider.
Aliás, a maldição de títulos ruins nacionais parece seguir estes ingleses, principalmente Simon Pegg, que depois estrelou "Maratona do Amor" ("Run Fat Boy, Run!") e talvez a pior adaptação de um título em todos os tempos, "Um Maluco Apaixonado" ("How To Lose Friends And Alienate People"). Bem, concluindo está questão, podemos deduzir que obviamente muitos passaram longe do DVD devido a enorme falha na hora da escolha do nome... e se você é um desses, reconsidere, pois não irá se arrepender.
Alguns dizem que a fita é uma paródia do já citado "Madrugada dos Mortos" do Snider, mostrando mais uma vez como o filme foi mal compreendido, principalmente no Brasil, pois as similaridades só existem nos títulos originais e nada mais.
O roteiro é pura criatividade sangrenta, nojenta e romântica. Ele nos apresenta Shaun, um cara que pode ser considerado por alguns como um grande perdedor, na verdade ele realmente é. Tem quase trinta anos, trabalha em uma loja vendendo TVs com um bando de jovens mal educados e que estão ali só esperando a hora de conseguir algo melhor, por assim dizer. E ao lado de Shaun está seu inseparável sidekick Ed, um vagabundo clássico que passa o dia dormindo, jogando videogame e só trabalha quando vende um pouco de drogas (maconha, para ser mais exato). Ed é praticamente um encosto que Shaun adora carregar, o que mostra a falta de noção do cara, pois nos encontros com sua namorada Liz, o amigo primata está sempre presente perturbando a vida do casal.
Por Shaun ser um perdedor, Liz dá um pé na bunda dele, mas nada melhor para um homem mostrar seu valor do que... uma invasão repentina de zumbis vorazes e famintos por carne crua. Alguns nascem para jogar futebol, outros para atuar, Shaun se deu muito bem como um sobrevivente. Ele tem um plano infalível para escapar das hordas de zumbis e só precisa resgatar seus amigos para que tudo de certo. Claramente... não dá!
O andamento de "Shaun of the Dead" intercala nuances de drama, ação e humor com uma maestria única. Edgar Wright acerta tanto na direção que o filme não perde o pique em momento algum. O britânico consegue criar aquele lugar que fica marcado em nosso inconsciente... e quando lembramos sentimos saudades, mesmo estando repleto de zumbis.
Uma das grandes qualidades do longa é sua edição. Sendo um bom exemplar do cinema inglês, o corte final traz diversos lances "cools" que deixam tudo muito ágil, como takes rápidos e secos, passagens friamente calculadas, ótimos efeitos especiais (foram poucos, mas eficientes). No geral, o que reina é o dinamismo, mas tudo com muita propriedade, nada fica solto nas mãos do editor artesão Chris Dickens. Claramente inspirada na obra do diretor Guy Ritchie, a edição é um dos grades destaques e colabora fortemente para o excelente resultado final, juntamente com a maquiagem - que deixa muito "Resident Evil" no chinelo - e a trilha sonora, composta e escolhida de maneira auspiciosa por Daniel Mudford e Pete Woodhead.
Mas o que facilitou a vida dos realizadores foi o time de atores. Começando pelo sensacional Simon Pegg, um completo desconhecido para o público geral, que tinha como maior êxito de sua carreira a maneiríssima série "Spaced", projeto que ajudou a desenvolver em parceria com seu amigo Wright. No final, o britânico se revelou um ator completo e extremamente flexível, ele impressiona. Já Nick Frost pode até ficar um pouco ofuscado com seu Ed, mas é também um grande ator de comédia, com ótimo "timing" e usando seu porte desleixado sempre a favor.
Entre os coadjuvantes está ninguém menos do que o impagável Bill Nighy como Philip, padrasto de Shaun. Penelope Wilton entrega dramaticidade na medida certa com a mãe Barbara, enquanto Dylan Moran e Lucy Davis despejam excentricidade como o casal David e Dianne, dois personagens muito bem construídos, com personalidades inusitadas e incrivelmente engraçados. Kate Ashfield interpreta Liz, a ex-namorada que começa a enxergar aquele Zé Mané de antigamente com outros olhos, após vê-lo esmagando alguns crânios pela rua, e por fim, temos o insuportável colega de apartamento Pete, interpretado com eficiência por Peter Serafinowicz.
Para o roteiro, nenhum personagem é aleatório, todos têm seu peso e sua importância. Tudo é muito bem amarrado por cenas marcantes, como a abertura dos créditos, a ida ao mercadinho em meio ao Armagedom - onde Shaun passa sem perceber nada -, as mortes terrivelmente realistas e grotescas, a descoberta da mulher "bêbada" no jardim com os olhos estranhos, ou mesmo a seleção de disco como armas letais... Memorável.
A comédia não chamou atenção no Brasil quando foi lançada, mas hoje muitos reconhecem seu valor devido a repercussão da mesma na vida de seus envolvidos. Simon Pegg se tornou ativo no alto escalão de Hollywood, e participou de filmes como "Star Trek", "Paul", "Missão Impossível III" (foi o melhor do longa aliás), "Era do Gelo 3" e "As Aventuras de Tintim", repetindo a pareceria com seu amigo Nick Frost pela terceira vez, sendo a segunda - o também excelente - "Chumbo Grosso", dirigido novamente por Edgar Wright, este que por sua vez realizou o ensandecido "Scott Pilgrim Contra o Mundo", roteirizou "As Aventuras de TinTim", e já está trabalhando em o "Homem Formiga", herói do universo MARVEL...UFA! Os caras estão ocupados.
Só para medir a importância de "Shaun of the Dead" no mundo dos mortos-vivos, o próprio George A. Romero, após assisti-lo, chamou a dupla de criadores, Pegg e Wright, para fazer uma ponta como zumbis em seu novo trabalho (na época) "Terra dos Mortos". Isso que é moral!
"Shaun..." trouxe "vida" nova aos zumbis, pois pela primeira vez eles funcionaram de forma eficaz dentro do humor. A fita inspirou esse novo gênero "Comédia Zumbi", dando idéias até para seu criador George A. Romero, e sendo o impagável "Zombieland", por exemplo, um fruto desta influência. Fica então a dica imperdível!
Confira o trailer, e abaixo algumas fotos de um encontro de confraternização da galera
"Shaun..." trouxe "vida" nova aos zumbis, pois pela primeira vez eles funcionaram de forma eficaz dentro do humor. A fita inspirou esse novo gênero "Comédia Zumbi", dando idéias até para seu criador George A. Romero, e sendo o impagável "Zombieland", por exemplo, um fruto desta influência. Fica então a dica imperdível!
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