Citizenfour - Crítica


Visão Além do Alcance

Em 2014, o administrador de sistemas Edward Snowden revelou ao mundo que seu empregador – os Estados Unidos da América, via Agência de Segurança Nacional (NSA) – estava roubando informações privadas de cidadãos comuns. Basicamente, se você tem um Gmail, e enviou uma foto para alguém por esta conta, a NSA tem uma cópia da foto. Isso é fato. A invasão do massivo banco de dados da Google é apenas um pequeno exemplo do escopo da operação, pois o grosso das informações adquiridas vem de empresas gigantes de telecomunicação, como a Verizon.

Para provar a veracidade do que alegava, Snowden vazou documentos confidenciais da inteligência americana para veículos de comunicação supostamente responsáveis, e assim lavou suas mãos. Ele queria chamar a atenção e conseguiu. Posteriormente, foi acusado de traição contra sua pátria, e desde então encontra-se exilado na Rússia, único país que teve coragem de o acolher.


A produção do filme simbolicamente começou em 2013, quando Snowden contactou a documentarista Laura Poitras por meio de uma rede segura. Seu pseudônimo era Citizen Four. Ele afirmou ter provas irrefutáveis sobre um roubo de informações privadas sem precedentes, orquestrado pela NSA. Poitras, em parceria do repórter investigativo Glenn Greenwald, decide então se encontrar com o correspondente anônimo em Hong Kong. A partir dali tudo é registrado: Snowden explica as incongruências que se tornam brechas nas leis que "regulam" este tipo de invasão, dá detalhes técnicos de como funciona o imenso processo de captura dessas informações, exemplifica o perfil das pessoas que lidam diretamente com essas operações (outros como Snowden), e decide, em parceria com Poitras e Greenwald, liberar os documentos sigilosos para a mídia internacional.




Definitivamente é a importância da mensagem que faz de Citizenfour uma obra excepcional, e nem tanto sua desenvoltura como produto da sétima arte. O filme nos faz perceber que o poder de alcance da NSA vai além dos limites da imaginação de qualquer um. Chega a ser incompreensível a insaciável gana americana de vasculhar a vida alheia. São terabytes de informações captados por minuto. Uma senha complexa pode ser quebrada em segundos. Constantes investimentos erguem instalações monstruosas, que servem para armazenar esta demanda insana de dados. Existe um número assustador de drones espionando pessoas específicas por tempo indeterminado. São absurdos pisando na cabeça de absurdos. E ainda sim, tudo nos parece distante.


Percebemos no entanto que Citizenfour não tem como objetivo principal esmiuçar esses detalhes técnicos do escândalo, mas sim evidenciar o lado humano por trás deles. Como foi dito, a abordagem dos procedimentos que possibilitam a invasão da NSA existe enfaticamente, mas em sua essência, a fita principalmente nos oferece a oportunidade de entendermos como foi esse meticuloso e extenuante processo de se dizer a verdade, e nada mais que isso. É a questão moral e os sacrifícios pessoais de Edward Snowden que estão verdadeiramente em destaque. O roubo das informações já foi divulgado há tempos, mas até agora tudo continua invisível. Recomendado.



Citizenfour: EUA/ 2014 / 114 min/ Direção: Laura Poitras/ Elenco: Edward Snowden, Glenn Greenwald, William Binney, Julian Assange, Laura Poitras, Barack Obama

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