Selvagens (Savages)

Analisando a extensa carreira de Oliver Stone no cinema, é possível afirmar que o filme "Selvagens" é uma de suas piores obras realizadas. Apesar de existirem alguns pontos positivos claros, o filme perde, principalmente, com seu roteiro mal estruturado e algumas escolhas infelizes de elenco.

A trama conta a história dos amigos surfistas Chon e Ben, dois grandes traficantes de maconha da Califórnia. O produto dos caras é exemplar, pois Ben se preocupa extremamente com a qualidade de suas plantas, alcançando mais pureza para a erva. E junto a eles, esta a linda garota apresentada apenas como "O". Eles vivem um triangulo amoroso consentido, e se divertem com a riqueza e o poder que possuem.

É aí que surgem na equação os "Selvagens", uma organização criminosa que exige a absorção do mercado dos tranquilos camaradas, impondo também a colaboração dos mesmos - pois as técnicas botânicas de Ben são visadas, já que claramente influenciam no resultado final do produto.

Diante da péssima situação em que se encontram, a dupla decide sumir do mapa por uns tempos. E já pressentindo isso, seus novos e insistentes parceiros sequestram O afim de conquistar uma "amizade" instável e leal, custe o que custar. Acuados e consternados com a captura da amada, Chon e Ben decidem revidar.

E é no enredo da fita que se iniciam os problemas. Primeiramente, eu não sou um especialista em narcotráfico, mas creio que a galinha dos ovos de ouro destes grupos de bandidos é a venda de cocaína e drogas sintéticas, tendo em vista que a maconha já é comercializada com receita médica em diversos lugares dos EUA, e é praticamente um commodity a ser legalizado em grande parte do país, pelo menos daqui pouco anos. Então quando vemos um cartel latino cortando cabeças e aterrorizando dois pequenos discípulos do Bob Marley, isso soa, no mínimo, forçado.



Entram então as falhas do roteiro. O filme se desmembra em tantos eventos desnecessários, que talvez funcionaria melhor se fosse uma mini-série de TV (que também seria fraca). O tempo perdido em planos furados e discussões redundantes sobre relacionamentos, ideologias e posições espirituais é imenso, o que torna a história cansativa. Os momentos em que vemos O no cativeiro são angustiantes... de tão banais, e a relação da moçoila com a chefona da quadrilha - a solitária Elena -, beira a falta de bom senso. 

E mesmo a tal violência, que parecia uma promessa a ser comprida pelos bestiais selvagens, existe apenas em raras ocasiões - três para ser mais exato. Sem falar no excesso dos aparatos high-tech utilizados, com ameaças virtuais cheias de animações bacanescas bombando a todo momento... algo bem difícil de engolir - tendo em vista que estamos falando de gangsters.

Pouco coerente também é a construção dos personagens, que passeia por motivações rasas como: o veterano de guerra honrado e destemperado, o capanga brucutu nojento e ignorante, a líder mafiosa que parece forte mas que é fútil e tem um grande coração de mãe, e o traficante do bem, que ajuda criancinhas em algum paraíso natural na Tailândia. Está última poderia até funcionar melhor, mas não da forma juvenil e precária que foi apresentada, com um flashback pobre explicando toda a situação, acompanhado por um voice-over mais pobre ainda - voice-over este que é utilizado de maneira errante quando alguma coisa precisa ser explanada rapidamente.



Já na questão técnica, tudo corre bem. Oliver Stone sabe como registrar e fotografar suas películas de forma competente. A edição é um ponto de destaque, e segue a linha do último trabalho do diretor ("Wall Street 2: O Dinheiro Nunca Dorme"), apresentando um estilo inovador e diferenciado, algo interessante de se ver. 

A trilha também não erra, e opta bem por suas linhas sonoras, inteligentemente ligadas ao conceito do longa - uma coisa muito engraçada é ouvir, a todo momento, uma canção escolhida como toque de celular de quase todos os personagens - se trata de uma das músicas do famoso seriado "Chaves"

No elenco temos atores razoáveis e outros nem tanto. A dupla de protagonistas é interpretada por Taylor Kitsch (do malfadado "John Carter") e Aaron Taylor-Johnson ( de "Kick-Ass" e "O Garoto de Liverpool"). Os caras não são ruins - principalmente o britânico Aaron -, e tentam fazer tudo que é possível com seus personagens, que basicamente são descritos por O como opostos: um é fogo o outro é madeira (??)... um "trepa" e o outro faz amor. Só que as características realmente exploradas na trama são: um deles lida bem com a violência, e o outro é budista. Ou seja: opostos.



Já para a bela Blake Lively (atriz revelada no seriado "Gossip Girls") faltou experiência, algo que priva de naturalidade sua personagem O. Salma Hayek, mesmo com uma carreira mais contundente, também não consegue encontrar o tom exato para sua inconsistente Elena, e creio que parte desta culpa esteja no roteiro, que oferece os piores trechos do texto para a personagem (a piada do coração com botox causa silêncio apenas). 

Continuando...

O porto riquenho Benicio Del Toro realiza um overacting cansativo com seu violento Lado, e John Travolta não está mal como agente federal Dennis, mas se mostra extremamente desnecessário, existindo apenas para amarrar uma ponta conveniente do desfecho - e por falar em desfecho, ele é péssimo, e me lembrou os finais do Scooby Doo.

Em resumo: o grande problema de "Savages" é sua falta de credibilidade. O sofrível roteiro não se sustenta, aposta em sequências apáticas, pouco desenvoltas, que se tornam intragáveis e enfadonhas. Diante da qualidade técnica oferecida por Stone, o resultado é ainda mais decepcionante, pois ela demonstra que tudo poderia ser diferente... só que o roteiro mal desenvolvido suga o longa de maneira inexorável.






Selvagens/ SavagesEUA/ 2012/ 131 min/ Direção: Oliver Stone/ Elenco: Blake Lively, Taylor Kitsch, Aaron Taylor-Johnson, Benicio Del Toro, John Travolta, Emile Hirsch, Salma Hayek

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