Quando "[Rec]" chegou nos cinemas em 2007, todos se surpreenderam com a criatividade da proposta oferecida pelos diretores e roteiristas Jaume Balagueró e Paco Plaza. Fazendo a câmera existir na ambientação da trama, o filme explorava o trabalho de uma equipe de TV, que realizava uma matéria simples sobre o dia a dia dos bombeiros. Mas em uma chamada de emergência, tarde da noite, eles se deparam com algo muito estranho: pessoas que pareciam animais raivosos, que atacavam sem a menor explicação. Isolados em um edifício, todos buscavam uma forma de sair com vida, mas sempre registrando tudo que estava acontecendo. Foi um sucesso.
Três anos depois, com muio mais dinheiro e mais visibilidade, "[Rec] Possuídos" volta ao mesmo prédio, praticamente momentos depois do término do primeiro filme. Agora quem está filmando é a própria equipe de policia, que leva um cinegrafista para acompanhá-los. O local está em quarentena, ninguém entra e nem sai – apenas eles seriam a exceção, para averiguar o que estava acontecendo de fato. Juntos a eles estava Dr. Owen, principal responsável pela entrada do grupo no prédio. Depois de trombar com os humanos insanos, eles se perguntam por que diabos estavam ali. É aí que Dr. Owen revela que existem muitos outros fatores por trás desta incursão ao lugar inóspito, e que essas pessoas podem estar mais do que infectadas, elas podem estar possuídas, como avisa o título.
"[Rec]" não foi o primeiro filme a explorar este conceito de videomaker no sufoco. Devemos lembrar que muito antes disso "A Bruxa de Blair" já havia enganado muita gente devida sua inusitada câmera de mão. Vamos dizer então que o filme de Balagueró e Plaza levou o conceito para um novo nível, modernizando e deixando tudo muito mais atraente. Mesmo J.J. Abrams, aparentemente inspirado por esta fita, flertou com o formato, produzindo em 2008 seu "Cloverfield - Monstro". Mas mesmo com todo o sucesso, o segundo filme da série realmente foi uma decepção, e por dois motivos: primeiramente errou em situações onde havia acertado antes, e depois, não apresentou nada novo.
Um dos pontos mais falhos de "[Rec] Possuídos" é com certeza a construção de cenas. Ao invés de adotar um carácter obrigatoriamente espontâneo, as sequências de tom documental não são bem elaboradas, e assim tudo perde o encanto. Neste segundo filme, os diretores investiram nos sustos e esqueceram a agonia do suspense de suas tomadas. Apesar de alguns momentos horripilantes, a obra não consegue encontrar aquele clima de desespero de seu antecessor.
Além disso, a câmera realiza movimentos improváveis. Qual é a reação de uma pessoa que está filmando uma briga? Em 99,9% dos casos ela se afasta para pegar a cena inteira. Já no filme o cinegrafista parece ficar dando pulos de encontro aos possuídos, um vai e vem que faz tudo virar uma anarquia geral, sempre envolta em gritos, grunhidos e rostos demoníacos que aparecem de relance - e lembrando, quem está filmando não é um amador. A falta de criatividade perdura o filme todo, elementos como "a câmera caiu" são repetidos diversas vezes.
Além disso, a câmera realiza movimentos improváveis. Qual é a reação de uma pessoa que está filmando uma briga? Em 99,9% dos casos ela se afasta para pegar a cena inteira. Já no filme o cinegrafista parece ficar dando pulos de encontro aos possuídos, um vai e vem que faz tudo virar uma anarquia geral, sempre envolta em gritos, grunhidos e rostos demoníacos que aparecem de relance - e lembrando, quem está filmando não é um amador. A falta de criatividade perdura o filme todo, elementos como "a câmera caiu" são repetidos diversas vezes.
Outro ponto que também não ajuda em nada são os atores, antipáticos e limitados. Renegados a tentar simular desespero, eles mais parecem estar em uma novela mexicana do que um filme de suspense, sendo a diferença os inúmeros palavrões proferidos. Mesmo a eficiente Manuela Velasco, que estava incrível no primeiro longa como a repórter Ángela Vidal, neste aparece desconfortável com o roteiro precário.
No segundo ato temos ainda a aparição de alguns personagens que invadem a área restrita, sendo eles um grupo de adolescentes, um bombeiro e um morador local. O único que possui uma motivação que não beira o ridículo é o morador, que vai atrás de seus familiares, já o bombeiro e os garotos são os famosos bois de piranhas, que estão ali para serviram de aperitivo, nada mais.
Com um desfecho fraquíssimo, "[Rec] Possuídos" explica demais e agrada de menos. Interpretações fajutas e reciclagens de cenas, agora mais confusas e mal elaboradas, comprometem toda a história. É curioso analisarmos como duas obras geneticamente parecidas podem ter um resultado final tão diferente.
[Rec] Possuídos/ [Rec] ²: Estados Unidos/ 2009/ 85 min/ Direção: Jaume Balagueró, Paco Plaza/ Elenco:
Jonathan D. Mellor, Óscar Zafra, Ariel Casas, Alejandro Casaseca, Ferran Terraza, Claudia Silva