A Mulher Invisível

O filme de Cláudio Torres traz Selton Mello e Luana Piovani como um inusitado par romântico, mas o longa fica em cima do muro e literalmente não mostra nada de bom.

Toda relação tem seus problemas, mas para Pedro (Selton Mello), um controlador de trafego muito louco (pode-se dizer), o amor por sua esposa é sublime e perfeito, isso até ele tomar um pé nos fundos e vê-la partir com um alemão. Depois disso o rapaz nunca mais é o mesmo e, mergulhado numa depressão profunda, começa a escrever seus pensamentos conturbados. Em meio a toda essa tristeza, acaba por criar Amanda (Luana Piovani), a mulher ideal...  e também invisível. Pedro pira de vez e começa a dar bandeira pela rua ao andar com uma mulher que não existe.
                              
Com um enredo no mínimo interessante, “A Mulher Invisível” é um filme comercial, apesar de conter alguns palavrões que com certeza irão subir um pouco a censura.  Este caráter enlatado prejudica muito o potencial do filme, pois além de trazer todos aqueles moldes básicos e caretas do cinema brasileiro, seu roteiro é fraco. O ar do filme não chega a ser “global”, mas parece feito com falta de vontade, como se apenas a idéia original sustentasse tudo e todos, e dentro dessa realidade, os atores nada puderam fazer para ajudar o roteiro que em poucos momentos soa natural em suas vozes.

Veja por exemplo Selton Mello. Ator do momento, chamando atenção por seus variados e quase sempre excelentes filmes, estava completamente perdido em cena. Seu humor espontâneo e diferenciado esbarrava em falas duras e caricatas, nada naturais. Claramente que os melhores momentos do filme são do ator, pois afinal é impossível não rir ao vê-lo com a língua de fora simulando um apaixonado beijo no ar. Mas estes momentos de pastelão corretamente não são uma constante, só que devido à falta de conteúdo do resto, o humor acaba sendo muito ralo no que devia ser uma comédia mais sisuda em termos de risadas.


Os problemas com o elenco continuam. Vladimir Brichta interpreta Carlos, melhor amigo de Pedro. Com um papel fundamental para a história, Brichta, que não é tão mau ator assim, infelizmente se mostra limitado e revive suas eternas “personas” globais, uma cópia requentada de tudo que ele já fez e sempre faz, com todos seus cacoetes e trejeitos. Luana Piovani, que não tem muita visibilidade como atriz fica limitada, obviamente, a ser apenas a gostosa do filme, enquanto Fernanda Torres (Irmã do diretor dando uma força ao interpretar a grávida desbocada Lúcia) e Maria Manoella (interpretando a também invisível vizinha de Pedro, Vitória) aliviam as cenas com personagens mais estruturadas e dinâmicas, mas sempre presas ao ar plastificado que acompanha o longa até o final... final que por um momento quase surpreende, mas que obviamente acaba da forma mais padronizada que o cinema já inventou. Temos ainda pequenas participações que devem ser lembradas, como de Paulo Betti como Nogueira, chefe de Pedro, e também Lúcio Mauro como o Governador do estado.

A trilha sonora do filme em paralelo traz um grande diferencial, que é o uso de músicas “importadas” de forma bastante destacada, como Ramones e Janis Joplin. A trilha original também é de muito bom gosto, e utiliza de lembranças sessentistas vindas de seriados da época, trazendo tons de mistério, magia e humor, elementos muito explorados na trilha de “Jeannie é um Gênio”, por exemplo.


O diretor Cláudio Torres, que inventou moda com o ousado e interessante “Redentor”, e parece ser influenciado pelo estilo caricato do ótimo Guel Arraes, caiu em uma mesmice fatal e não mostrou nada de interessante, sendo que ao mesmo tempo a obra tenta ser “cool” em meio à mídia. Torres não utiliza de nenhuma formula nova, ângulos diferenciados, cenas prolongadas e bem trabalhadas. É simplório, o que contrasta com a concepção original do filme, que realmente trazia ares inovadores. Um dos atores mais destacados da atualidade eles já tinham. Faltou mais liberdade criativa? Parece que não, pois o filme traz em alguns momentos um linguajar mais pesado, mas que não deixa de soar forçado, como se quisesse ser notado. O filme não sabe se agrada a direita ou a esquerda e por isso perde. Falta um conceito básico que é a alma do negócio, e essa seria a chance de fazer a diferença, mesmo com um roteiro terrivelmente precário.

“A Mulher Invisível” tem seus momentos de humor, mas que são ralos perto daquilo que era esperado. Com uma promessa implícita de ser um longa diferenciado - talvez pela presença de Mello no elenco -, o longa realmente decepciona e isso acaba sendo o mais visível.


A Mulher Invisível: Brasil/ 2009/ 98 min/ Direção: Cláudio Torres/ Elenco: Selton Mello, Luana Piiovani, Marcelo Adnet, Karina Bacchi, Paulo Betti, Vladimir Brichta, Fernanda Torres

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