A Árvore da Vida (The Tree of Life)


#Sem pretensões de compreender a vida, só nos resta apreciar sua beleza e graça

Analisar profundamente o filme A Árvore da Vida é como tentar compreender nossa própria existência: não há uma resposta exata para a equação. Claramente a obra é inundada de informações que podem ser facilmente interpretadas de uma maneira por alguns e refutadas de formas diferentes por outros. Metafísica, evolução, filosofia, família, religião, o medo do desconhecido, a necessidade de entender, solidão.  No entanto, é possível afirmar que, principalmente, a obra expressa de maneira poética a magnitude e beleza da (árvore da) vida a nossa volta, e como somos minúsculos quando vistos próximos a ela. 

Terrence Malick é um diretor diferenciado. Ele sempre dedica sangue, suor e lágrimas a seus projetos, além de muitos anos de sua vida. Nada mais digno de nota. Explorar a natureza humana de forma pouco mundana sempre foi seu caminho. Depois de Terra de Ninguém e Cinzas no Paraíso, Malick passou por um hiato de duas décadas sem gravar, voltando com o contundente Além da Linha Vermelha, seguido pelo subjugado Novo Mundo.


A história de A Árvore da Vida tem como centro uma família americana dos anos 50, e aborda o desenvolvimento psicológico e até mesmo antropológico da mesma. Presenciamos a trajetória: o nascimento dos filhos, o florescer dos sentidos, o amor incondicional, a construção do pai – e sua frustração mediante os rumos da vida -, a glorificação da mãe – de beleza e compaixão sem igual –, a personalidade dos filhos, a separação do preferido, a revolta do esquecido, a preparação para vida, a rigidez do ensinamento paterno, o complexo de Édipo do filho mais velho - caracterizado pelo ódio mortal pelo pai (símbolo de austeridade) e o amor pela mãe (local seguro de afeto e carinho) -, a dor da morte, da perda, a incompreensão e a desilusão com o criador, a falta de respostas. Ao mesmo tempo em que presenciamos este crescimento da família, somos bombardeados por imagens de incrível beleza. O cosmos visto por uma perspectiva divina, miniaturizada, que exemplifica a insignificância e ressalta nossa impotência.


De forma atemporal percebemos futuro e passado, com o filho mais velho desta família, prejudicado por suas lembranças, se arrastando por meio do concreto da cidade, longe da natureza, tão longe de seu deus. Da mesma forma podemos ver dinossauros em seu habitat, enfatizando o jogo de vida e morte, sem ao menos ter consciência plena de sua existência, onde o fraco não tem vez, ou às vezes tem. A misericórdia nem sempre vem dos céus. A sensação de busca por misericórdia é muito grande na obra, exemplificando como este sentimento pode se transformar em instituição. O desamparo vem do pensamento “o que queremos ser?”, mediante aquilo que realmente somos: egoístas, frágeis, únicos. Fugazes perto da imensidão do infinito. Então porque ficarmos sozinhos no final?


De forma extremamente orgânica e bela, Malick filma seus detalhes com a sutileza do olhar. As sombras de um menino que corre pela rua, a inversão de um ângulo enquanto o mesmo se balança, os pés, as mãos, os olhos. A câmera não capta somente a imagem, mas sim a sensação, o calor, sabor, a tristeza e alegria dos personagens. Ele transforma a vida real e um épico de cores e sons, tudo acompanhado pela trilha sensacional de Alexandre Desplat (O Discurso do Rei), sempre crescente e marcante, tranquila e profusa.

No final, A Árvore da Vida é a ligação de tudo, incompreensão e beleza, divindade e solidão. Nossa existência é uma pequena semente, e os frutos estão a nossa volta, nas palavras, formas, no ar que respiramos e nas pessoas que amamos. Terrence Malick não entrega uma resposta, mas sim oferece diferentes possibilidades de se analisar a mesma verdade. Ele parece buscar com o público uma definição, como um Bergman que procura a explicação para a fonte de sua donzela. Sem pretensões de compreender a vida, só nos resta apreciar sua beleza e graça. Recomendado.



A Árvore da Vida/ The Tree of Life: Estados Unidos/ 2011/ 139 min/ Direção: Terrence Malick/ Elenco: Brad Pitt, Sean Pean, Jessica Chastain, Hunter McCracken, Laramie Eppler

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