Existe algo estranhamente mórbido e belo por trás das obras de Sylvain Chomet, que facilmente o tira do lugar comum. Seus dois trabalhos lançados até agora foram diferenciados, muito especiais, e entregaram sensações parecidas, talvez... remotamente, com as oferecidas por outro mestre da animação, o japonês Hayao Miyazaki ("Ponyo").
Assim como Miyazaki, o diretor francês é tradicionalista, e opta por trabalhar com desenhos a mão. Mas dessa aparente simplicidade surge algo belíssimo e vividamente extraordinário, pois seu 2D não é comum, muito pelo contrário. Utilizando um extenso jogo de camadas, tudo vem à tona de maneira incrível, um espetáculo visual que conquista e cativa sua platéia, que nem ao menos sente falta dos diálogos. O verdadeiro show de mágica a moda antiga.
Chomet ficou conhecido do público quando seu primeiro longa metragem, o caricato e hilário "As Bicicletas de Belleville", recebeu a indicação ao Oscar de melhor animação em 2004, fato que se repetiu em 2010 com "O Mágico" - que também concorreu a outros diversos prêmios (como o Globo de Ouro) e ganhou o César (importante prêmio Francês).
Neste último filme em questão, o francês realizou uma triste homenagem a uma classe de artistas que foi engolida pelos tempos modernos. Adaptando o roteiro original de Jacques Tati, e buscando no diretor (que faliu e vendeu todas suas obras em 1974) uma forte inspiração para contar sua história, Chomet apresenta seu incomum personagem principal, que sempre com um semblante de indiferença, sente na pele um amargo final se aproximando.
Chomet ficou conhecido do público quando seu primeiro longa metragem, o caricato e hilário "As Bicicletas de Belleville", recebeu a indicação ao Oscar de melhor animação em 2004, fato que se repetiu em 2010 com "O Mágico" - que também concorreu a outros diversos prêmios (como o Globo de Ouro) e ganhou o César (importante prêmio Francês).
Neste último filme em questão, o francês realizou uma triste homenagem a uma classe de artistas que foi engolida pelos tempos modernos. Adaptando o roteiro original de Jacques Tati, e buscando no diretor (que faliu e vendeu todas suas obras em 1974) uma forte inspiração para contar sua história, Chomet apresenta seu incomum personagem principal, que sempre com um semblante de indiferença, sente na pele um amargo final se aproximando.
E tudo começa na cidade luz. Sem encontrar muito trabalho por lá, o mágico resolve viajar pela Europa e tentar a sorte em novos lugares. Quando passa pela Escócia, conhece a pobre garota Alice, que se torna sua companheira de viagem, estabelecendo então uma relação de protegido e protetor com a mesma, uma cumplicidade entre desprovidos. Juntos, os dois passeiam por belas localidades, e colecionam algumas boas memórias.
E com o passar do tempo vemos a sociedade mudando, a música na Inglaterra estourava com os "The Britoons" (uma referência nada gentil ao Beatles), a população européia iniciava uma mudança de personalidade, a boemia de outrora começava a se transformar em algo popular, banal. É valido lembrar que esta é a visão do personagem principal, que se incomoda com as mudanças ao seu redor, pois elas significam o fim dos espetáculos teatrais de mágica, a extinção de palhaços e ventrículos. Realmente um desfecho muito triste para uma classe de artistas que sempre buscou a alegria acima de tudo.
Em contra partida, a garota Alice começa a florescer como pessoa, se mostrando cada vez mais independente, e também consumista, buscando sempre se igualar as encantadoras jovens da época, usando belos sapatos, bonitos casacos e por aí vai. Só que apesar de sua transformação, Alice continua "quase" a mesma, a diferença é que ela tem espaço neste novo mundo, enquanto o mágico não tem. Alice é o novo, o mágico é o velho. Ambos pareciam ser amigos inseparáveis, dependentes um do outro, mas as coisas sempre mudam.
No final, ironicamente, a colorida e vibrante obra de Sylvain Chomet é imensamente triste, com um desfecho de dar um nó bem apertado na garganta. É claro que, durante todo o decorrer da história, o humor surge para aliviar a tensão, mascarar a dura mensagem em forma de homenagem que o roteiro quer passar, mas fica óbvio que "O Mágico" é uma triste viagem sem volta daqueles que não encontraram um lugar na moderna, seletiva e imperdoável sociedade contemporânea. Então tudo se apaga. Um filme essencial.
No final, ironicamente, a colorida e vibrante obra de Sylvain Chomet é imensamente triste, com um desfecho de dar um nó bem apertado na garganta. É claro que, durante todo o decorrer da história, o humor surge para aliviar a tensão, mascarar a dura mensagem em forma de homenagem que o roteiro quer passar, mas fica óbvio que "O Mágico" é uma triste viagem sem volta daqueles que não encontraram um lugar na moderna, seletiva e imperdoável sociedade contemporânea. Então tudo se apaga. Um filme essencial.