Na trama temos dois caras que eram opostos no colegial: o nerd Schimidt e o popular Jenko. Depois de anos, já fora da escola, os dois se trombam numa academia de policia, onde se tornam finalmente amigos devido a mútua troca de favores envolvida: Schimidt ensina Jenko a estudar, e Jenko ensina Schimidt a ser mais durão. Mas os caras são péssimos de qualquer forma.
Por serem jovens, ambos são escalados para uma operação secreta cuja a base fica na "21 Jump Street". Resumidamente, eles precisaram se disfarçar de estudantes, voltar ao ensino médio, se enturmar com traficantes e chegar até a fonte de uma nova e perigosa droga que anda destruindo a vida de alguns pobres idiotas. E é dentro deste contexto que as coisas se desenrolam.
Como falei, o primeiro ato do filme é bem efetuado. Ironicamente, o ritmo acelerado do roteiro não se perde em nenhum momento. A estruturação do background dos personagens é inteligentemente elaborado, assim como a aproximação dos dois - tudo de maneira rápida e muito engraçada. Quando são convocados a se tornarem policias infiltrados, tudo continua no caminho certo. Até mesmo Ice Cube arranca boas risadas da audiência com seu extremamente estereotipado, boca suja e de pavio curto Capitão Dickson.
A ideia do roteiro que explora uma mudança de comportamento dos jovens de hoje também é interessante, sendo que os nerds se tornaram os caras legais e os valentões, jogadores de futebol (e por aí vai) ficaram meio que de lado. Todo este núcleo construído na escola, e a parceria de Schmidt e Jenko, rendem ótimos momentos de comédia. Boas risadas de fato.
Mas então vem a virada do segundo para o terceiro ato, e aí as coisas desandam. Bem... que o desfecho seria óbvio, isso era um fato. Só que o problema foi: para chegar ao ponto em que a parceria encara suas dificuldades, para depois se reencontrar de forma emocional, moral e elucidativa, foram utilizados recursos rasos, pouco imaginativos e forçados demais. Uma mesquinharia que beira um altismo emocional egocêntrico (sim! isso é totalmente incoerente! sim!), uma debilidade mesmo, entende? Ser mesquinho, infantil ou incompetente é uma coisa, agora ser incoerente e agir de maneira irracional é outra. E é isso que o roteiro oferece como argumento para os dilemas da fita, algo que fica difícil de engolir, e por isso, tudo acaba perdendo a graça nessa meia hora e pouco.
Mas no desfecho o clima se recompõe. Temos uma boa surpresa quase nos minutos finais, e eficientes cenas de tiroteio (em slow motion), com bastante sangue e muita graça novamente.
Mas no desfecho o clima se recompõe. Temos uma boa surpresa quase nos minutos finais, e eficientes cenas de tiroteio (em slow motion), com bastante sangue e muita graça novamente.
Os quesitos técnicos do longa são positivos. A direção de Phil Lord e Chris Miller (que conduziram juntos a animação "Tá Chovendo Hamburguer") é competente, e em certos momentos esbanja criatividade ao apostar numa edição alucinante, com viagens lisérgicas gráficas e muito mais. A trilha sonora esdrúxula também é destaque, sendo de muito bom gosto e chamando facilmente a atenção durante todo o filme. A atuação da dupla principal, Jonah Hill e Channing Tatum (que devia ficar só na comédia), é entrosada, hilária, funcionando muito bem quando precisa, perdendo o rumo quando o roteiro tropeça na superficialidade ... ou seja, no geral um bom trabalho dos caras.
No final, vale a pena ver "Anjos da Lei". Aqui na crítica pontuei que o filme tem uma queda acentuada de rendimento, principalmente no final do segundo e início do terceiro ato. Isso é verdade. Mas ninguém vai assistir essa fita procurando problemas de roteiro ou tentando desmascarar soluções rasteiras né? Isso fica pro mala do crítico. E com esse pensamento escapista, é uma boa pedida.
PS: "21 Jump Street 2" já está em pré-produção.
Anjos da Lei/ 21 Jump Street: EUA/ 2012/ 109 min/ Direção: Phil Lord, Chris Miller/ Elenco: Jonah Hill, Channing Tatum, Brie Larson, Dave Franco, Rob Riggle, DeRay Davis, Ice Cube, Ellie Kemper, Dax Flame