Como o próprio título original revela, "Arbitrage" ("A Negociação" no Brasil) fala sobre estar a frente, ter vantagem sobre o outro custe o que custar, principalmente quando a vida lhe dá um daqueles obrigatórios tombos homéricos.
Na história, acompanhamos dias turbulentos do engravatado homem de negócios Robert Miller, interpretado de maneira inspirada por Richard Gere. No início do filme, Miller parece estar no controle de tudo: sempre carismático e eloquente, ele parece feliz ao lado da família, que em uma sintonia invejável, celebra a alegria de serem ricos, belos e coisas deste tipo. Mas obviamente uma bonita fachada não revela problemas de fundação, não é?
A história contada pelo diretor e roteirista novato Nicholas Jarecki é, acima de tudo, algo que captura a atenção. No entanto, ironicamente, diversos problemas surgem durante o decorrer da trama, fazendo do filme uma espécie de prazer culpado, uma obra que constantemente tenta balancear seus erros e acertos, convencendo o espectador que até então tudo está certo e maneiro. É como se ela tirasse vantagem da audiência com suas reviravoltas mirabolantes, induzindo o olhar para um outro lado - mas isso não quer dizer que não estamos prestando atenção, não é?!
O maior problema de "A Negociação" é sua falta de naturalidade. Existe certo feeling televisivo na obra que desagrada, como se tudo acontecesse sem muita expressividade, de maneira fria e calculada. Outro ponto negativo é o uso irracional de alguns personagens, que existem por conveniência, servindo apenas para amarrar uma ponta do final e por aí vai - aliás, o final, apesar de oferecer uma estranha morbidez gratificante, decepciona exatamente com esta mudança de conduta repentina de alguns. Acaba forçando a barra legal.
Já os pontos positivos são claros. Primeiramente temos a interpretação de Richard Gere, que já ganhou alguns prêmios menores e foi indicada ao Globo de Ouro 2013. Seu principal mérito é fazer de Robert Miller um homem dúbio que deve ser compreendido, um herói vilão, aquele sem humanidade que é capaz de atos altruístas, ou seja, um resultado deturpado da perda do poder e controle que sempre estiveram em suas mãos. Miller é o retrato fiel de como um ser humano, aparentemente exemplar, reage quando acuado. Se for esperto, ele mostra o dentes, obviamente.
Além da qualidade Gere, o roteiro também se destaca. Mesmo com os problemas citados acima (é tudo bem contrastante), a fita oferece uma trama instigante, e por mais absurda que possa parecer, ela se mostra inteligente ao misturar com riqueza de detalhes dois assuntos
Outras interpretações que chamam atenção são: do (meio gordo) Tim Roth, com o detetive Michael Bryer - que infelizmente desaparece como que por encanto da história - e do jovem Nate Parker, que transita entre as posições de marionete e aliado com seu Jimmy Grant.
Já as eficientes Susan Sarandon e Brit Marling (de "A Outra Terra") só não se tornam completamente desnecessárias porque estão ali para costurar algo da trama. Não existe profundidade nestas personagens, o que acaba minando a interpretação das atrizes. Em suas poucas cenas, elas quase recorrem ao overacting na tentativa de enfatizar sentimentos.
No final, entre erros e acertos, "A Negociação" tenta te convencer de que é um bom filme... e até consegue durante seu diálogo de 107 minutos. Mas após o desfecho do acordo, naquele momento em que surge uma reflexão do assunto, talvez alguns percebam que nem tudo ali é ouro... ou então eles nem pensem nisso... e é aí que mora a vantagem.
A Negociação/ Arbitrage: EUA/ 2012/ 107 min/ Direção: Nicholas Jarecki/ Elenco: Richard Gere, Susan Sarandon, Tim Roth, Brit Marling, Nate Parker, Bruce Altman, Laetitia Casta