A fita independente Temporário 12 acompanha o dia a dia de uma instituição americana (de mesmo nome) que acolhe jovens e crianças que se encontram temporariamente "sem um lugar no mundo". Não se trata de um orfanato, apesar das semelhanças.
O local é na verdade um lar provisório para pequenos abandonados e vítimas (diretas ou indiretas) de crimes envolvendo seus responsáveis. Muitos sofrem com algum distúrbio psicológico, devido ao passado conturbado que experienciaram. Por isso um acompanhamento neste sentido é realizado.
O roteiro escrito por Destin Cretton (que também dirige a fita) se foca principalmente na rotina e vida particular de dois dos jovens responsáveis pela administração do local. Eles são a linha de frente. Estão ali para realizar as mais variadas funções, que vão desde acordar adolescentes teimosos, até lidar com tentativas de fuga e conter ataques de fúria. É um trabalho exaustivo, que consome os que se propõem a fazê-lo.
Os dois jovens em destaque (citados acima) são Grace e Mason, que formam um casal do lado de fora da instituição. Ambos se dedicam de forma altruísta a causa porque no passado receberam ajuda semelhante. Eles são, resumidamente, o resultado do serviço que prestam. Estão longe da perfeição, mas a autêntica vontade de querer ajudar faz deles seres humanos excepcionais, ou no mínimo acima da média.
A narrativa adotada por Cretton é de uma fluidez admirável. O texto consegue integrar e intercalar com perfeição as histórias de muitos personagens, fazendo com que uma complemente, influencie e até mesmo dependa da outra. Nada nem ninguém é esquecido ou deixado de lado. Enquanto o novato da instituição nos serve como a porta de entrada para as regras do local, apresentações, por aí vai... o mais velho dos internos nos revela até que ponto esta situação de coexistência, obediência ou mesmo evolução como ser humano pode chegar.
Por envolver crianças, o assunto abordado é extremamente pesado. Mas mesmo com atores inexperientes, o clima não é artificial em momento algum. Temas viscerais são discutidos (agressões e abusos) de maneira inteligente e sempre consistente. Descobrimos que em alguns casos as vítimas se tornam igualmente violentas, buscam esquecer seus problemas ao se cortar constantemente, ou se isolam em um estado quase catatônico. O tamanho da seriedade dedicada pelo elenco mirim é comovente. Todos são conduzidos pelo caminho certo no final.
Mas o trabalho que se destaca é o de Brie Larson. A atriz foi vista em alguns filmes relevantes, como Scott Pilgrim Contra o Mundo e Rampart, mas foi com Temporário 12 que ela demonstrou todo seu potencial. Sua Grace é nitidamente danificada pelo passado. Apesar de sua fachada de temor inabalável, ela luta sozinha e com dificuldades contra seus demônios. A interpretação de Larson consegue comover sem se exceder ou apelar para o melancolismo extremo. Ela parece verdadeiramente forte, mesmo guardando suas angustias de forma corrosiva. Mas afinal, quem lhe entenderia? Apenas aqueles que passaram por algo semelhante, o que parece ser o caso da nova garota Jayden.
John Gallagher Jr. também faz uma ótima participação como o sempre carismático e piadista Mason. Gallagher, que pode ser visto atualmente na série The Newsroom, parece uma promessa para o futuro. Seu ritmo de humor é perfeito, e ele se vira muitíssimo bem no drama. O background do personagem Mouses é interessante e "acolhedor", por assim dizer, o que facilita ainda mais a aproximação do público.
No final, Temporário 12 é uma fita arrasadoramente triste, mas também iconicamente esperançosa. Os dilemas apresentados vão além da compreensão de qualquer um, mas o diretor Destin Cretton consegue incluir a todos no diálogo, usando de uma narrativa inspirada e uma direção competente, que dá ênfase a grandes interpretações. Uma realização primorosa.
Temporário 12/ Short Term 12: EUA/ 2013/ 96 min/ Direção: Destin Cretton/ Elenco: Brie Larson, John Gallagher Jr., Stephanie Beatriz, Rami Malek, Alex Calloway, Kevin Hernandez, Keith Stanfield, Kaitlyn Dever, Frantz Turner