Sin City: A Dama Fatal (Sin City: A Dame to Kill For)


#Por entre acertos e pecados 

Em 2004, o lançamento de Sin City: A Cidade do Pecado foi algo transcendental. Vimos com olhos enfeitiçados o nascimento de um clássico sangrento de nossa cultura pop, que ainda hoje é uma forte influência visual e conceitual. Agora, a diferença notável entre A Cidade do Pecado e A Dama Fatal é a falta do elemento surpresa para os fãs. Fora isso, tudo parece exatamente o mesmo. Praticamente um certificado de garantia, não é?  

Sin City: A Dama Fatal foi dirigido por Robert Rodriguez em parceria com Frank Miller, o respeitado autor da HQ homônima que o filme adapta. Percebemos vividamente no roteiro de Miller a valorização necessária de todos os elementos que fizeram de seu trabalho nos quadrinhos algo cultuado, e que obviamente funcionaram perfeitamente no primeiro filme: o amor e sexo como ferramentas de construção moral e psicológica, a vingança e honra como motivações terminais destes mesmos valores, e a violência servindo de expressão artística para a loucura dos personagens. Uma válvula de escape.




As histórias atemporais apresentadas em A Dama Fatal, que se misturam cronologicamente com as de Cidade do Pecado, são guiadas por ações exacerbadas, que chegam a ser caricatas de tão honestas. Temos uma deusa capaz de levar qualquer homem a ruína, um jogador que aposta a própria vida no esforço de ser lembrado, e uma mulher à beira da loucura, guiada apenas por sua sede de vingança. 

Estas três linhas narrativas são quase sempre conduzidas por um poético, eloquente e funesto voice-overO texto de Frank Miller explora o lado mais sombrio do ser humano, mas também se preocupa em revelar fraquezas e sensibilidade. Estes já conhecidos argumentos do autor traduzem com perfeição a sensação de que, em nível molecular, estamos vendo na tela uma adaptação de sua HQ.
  
Visualmente a produção continua impressionante. A edição está mais robusta e criativa, devido a própria evolução tecnológica do cinema, e isso valoriza ainda mais o resultado. As cenas de ação parecem sádicas obras de arte, com balas, flechas e espadas transpassando com elegância o corpo humano. O enquadramento minucioso faz de cada frame um retrato belíssimo, e a trilha sonora caseira de Rodriguez complementa a ambientação.



O elenco conta com atores competentes, que no geral realizam um ótimo trabalho. Mickey Rourke retorna como Marv, talvez o sujeito mais badass das últimas décadas do cinema. Joseph Gordon-Levitt é o confiante valete Johnny, personagem criado especialmente para o filme. Jessica Alba consegue, dentro de suas limitações como atriz, trabalhar melhor sua estonteante dançarina Nancy. Josh Brolin convence como Dwight (papel que foi de Clive Owen no filme de 2004), e Eva Green chama atenção com Ava, dama fatal que aparece nua em mais da metade de suas cenas. Realizando pequenas participações vemos também Ray Liotta, Christopher Lloyd, Bruce Willis, Lady Gaga, entre outros.

A falha evidente de A Dama Fatal é sua falta de imersão. A temática pesada, carregada de diálogos pouco espontâneos (por assim dizer) e o roteiro de informações alternantes, torna a experiência mórbida e dissonante além da conta. Isso pode criar uma sensação de morosidade, que no final, para alguns, chega a comprometer todo o trabalho.

Mesmo assim, Sin City: A Dama Fatal é uma realização digna, que carrega a inspiração e suor de Robert Rodriguez e Frank Miller. Os personagens apresentados são impecáveis, as histórias possuem um conceito já mitificado, o estilo visual adotado não só reproduz perfeitamente a inovação dos traços de Miller, na verdade multiplica. Morosidade me parece um preço baixo a se pagar por um trabalho autoral e honesto nos dias de hoje, ainda mais de orçamento enxuto. Recomendado.






Sin City: A Dama Fatal/ Sin City: A Dame to Kill For: 2014/ Chipre, EUA / 102 min/ Direção: Frank Miller, Robert Rodriguez/ Elenco: Mickey Rourke, Jessica Alba, Josh Brolin, Joseph Gordon-Levitt, Rosario Dawson, Bruce Willis, Eva Green, Powers Boothe, Dennis Haysbert, Ray Liotta, Christopher Meloni, Jeremy Piven, Christopher Lloyd, Jaime King, Juno Temple, Stacy Keach, Jamie Chung, Lady Gaga, Alexa PenaVega

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