#Incesto de Cronenberg é mainstream
Mesmo para um trabalho de David Cronenberg, Mapa para as Estrelas é imensamente perturbador. O diretor canadense, celebrado por clássicos bizarros e surreais (como Videodrome, A Mosca, Marcas da Violência...), conseguiu se superar na estranheza, e como de costume, manteve seu nível técnico eficiente e narrativa impecável.
Usando o enorme letreiro de Hollywood como paisagem, e canalizando tudo que o distrito representa em uma inspiração catártica, o roteirista Bruce Wagner criou um repugnante submundo de celebridades para validar a perversidade de sua história. Completamente desequilibrados, estes personagens são o resultado de um passado marcado por incestos, incêndios fatais e episódios de esquizofrenia.
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Nesta atraente Los Angeles depravada, de artistas oportunistas e parasitas bem vestidos, nada parece louco o bastante. O absurdo e a futilidade fazem de Mapa para as Estrelas algo cinicamente irônico. Existe uma licença poética funesta que mascara o desconforto, ou pelo menos tenta. Vender tamanha polêmica numa embalagem mainstream é uma realização digna de aplausos.
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Em certa cena, por exemplo, acompanhamos perplexos uma filha que vê sua jovem mãe morta lhe assediando sexualmente. Como atenuar tamanho absurdo? Não atenua. Mapa para as Estrelas é todo sobre cadência de ritmo, ilusão e realidade, felicidade plena e depressão absoluta. Essa gangorra de emoções exemplifica as variações de tom adotadas pelo diretor, que no final impulsionam a trama quando necessário, tirando tudo da aparente normalidade e guiando as coisas de mal a pior de maneira acelerada. Repentino, mas coerente dentro da proposta.
Porém, nada seria possível sem o grande elenco escalado. Um dos destaques é Evan Bird, jovem talento que revela enorme personalidade como o astro problemático Benjie Weiss. Mia Wasikowska está competente e linda como sempre, mesmo com extensas cicatrizes de queimadura no rosto. John Cusak entrega seu melhor trabalho dos últimos 14 anos, e Julianne Moore não chega a convencer totalmente como Havana Segrand, no entanto, é compreensível que não exista empatia dela com a personagem. Havana é extremamente doentia. Recomendado.
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Mapa para as Estrelas/ Maps to the Stars: 2014/ Canadá, EUA, Alemanha, França / 111 min/ Direção: David Cronenberg/ Elenco: Julianne Moore, Mia Wasikowska, John Cusak, Evan Bird, Olivia Williams, Robert Pattinson, Sarah Gadon