O Espião Que Sabia Demais (Tinker Tailor Soldier Spy)

Baseado na obra de John Le Carré (que trabalhou para o serviço secreto britânico até os anos 60),"O Espião Que Sabia Demais" é um passeio melancólico pelos meandros da espionagem britânica no período tenso e paranóico da Guerra Fria. Tendo como foco a confirmação de um codinome, a obra explora a frieza e articulação do veterano George Smiley (Gary Oldman) em sua busca pelo agente duplo infiltrado na "Circus", alta divisão da inteligência do MI6, que, na época deste "toupeira" soviético, era comandada por aquele que se intitulava Control (John Hurt).

Quatro são os suspeitos: Percy Alleline (Toby Jones), Bill Haydon (Colin Firth), Roy Bland (Ciarán Hinds) e Toby Esterhase (David Dencik), membros ainda ativos da divisão e ligados fortemente a "projetos" paralelos com o governo, que buscam melhorias na relação com os primos americanos. O que vemos então é uma silenciosa caçada. Não espere perseguições vertiginosas ou ação desenfreada, qualidades típicas dos filmes de espionagem atuais e de outrora. A batalha em "O Espião Que Sabia Demais" é mental, apresentada por meio de arquivos surrupiados, flashbacks elucidativos e conversas cara a cara em que, poucas palavras são ditas, mas através de um olhar muito se entende.


Le Carré ganha vida nas mãos do eficiente diretor sueco Tomas Alfredson, que tem como trabalho de maior destaque o visceral "Deixe Ela Entrar". Sua direção é primorosa e ressalta com excelência as qualidades indiscutíveis do roteiro de Peter Straughn (que concorre ao Oscar de melhor roteiro adaptado). Cenas inteligentes e de criatividade única são transferidas para a tela de forma auspiciosa. Momentos belos filmados de maneira crua e imensamente engenhosa, como a abelha que busca a liberdade do ambiente ao qual não pertence, ou a coruja que inevitavelmente falha ao tentar encontrar esta mesma liberdade quando sai em chamas de uma chaminé. Por vezes Alfredson filma com o olhar distante, apreciando o quadro geral, coberto, escondido, apenas assistindo o avião que se aproxima de forma perturbadora de seus atores, fitando de longe o homem que espreita pela janela a chegada dos visitantes noturnos. Um tom surreal embala toda a película, algo que capta a influência de mestres como Polanski e Orwell.


Entre os excelentes atores o destaque vai para Gary Oldman. Seu Smiley é pura compenetração e ambiguidade. Sua aparência nos remete a um senhor frágil, de atitudes contidas, mas ela literalmente engana. Sua profunda interpretação concorre ao Oscar na categoria de melhor ator em 2012. Junto a ele está o time de peso, sendo que, além das interpretações inspiradas de Jones, Firth, Hinds e Dencik, temos ainda cenas tocantes com Mark Strong e seu sofrido Jim Prideaux, momentos de maior tensão física com Tom Hardy e seu laranja Rick Tarr, e como é bom ver o grande irmão John Hurt desempenhando papéis de qualidade ao invés de babar alguma besteira com personagens pouco relevantes.

Outro ponto de extrema importância para a ambientação diferenciada da obra é sua incrível trilha sonora, realizada por Alberto Iglesias. Composta basicamente por elementos percussivos acompanhados por jazz suave, sua presença no filme é fundamental para o resultado final. O tema dos créditos iniciais é simplesmente perfeito e distinto, assim como todo o resto, sendo sua indicação ao Oscar de trilha sonora original mais do que justa.


Toda a produção da fita também merece aplausos. Da equipe de figurinos até o eficiente departamento de som, outro elemento de grande importância durante o decorrer da silenciosa história.  

No final, "O Espião Que Sabia Demais" é um thriller cerebral. Sua trama é intrincada, e pode parecer ligeiramente pesada para o grande público brasileiro, que se vê distante deste passado conspiratório envolvendo CIA, KGB e SIS. Com uma direção atenta aos detalhes, um roteiro inspirado e uma trilha sonora marcante, o filme se torna obrigatório para os amantes das duas artes: o cinema e a espionagem.

Confira o Trailer:
   


O Espião Que Sabia Demais/ Tinker Tailor Soldier Spy: França, Inglaterra, Alemanha/ 2011/ 127 min/ Direção: Tomas Alfredson/ Elenco: Mark Strong, John Hurt, Gary Oldman, Toby Jones, David Dencik, Ciarán Hinds, Colin Firth, Tom Hardy
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