Em “Tudo Pelo Poder” temos uma aula de como funciona o organismo político americano, como ele se move por trás dos incontáveis jogos de interesses que visam levar ao poder o homem certo, que tenha mais contatos, mais amigos, mais influência e muitos favores pendentes. Em um sistema em que partidos se dividem em algo como esquerda e direita para eleger seus candidatos (nas famosas primárias americanas), apertos de mãos e acordos ilícitos são mais comuns que filmes ruins do Michael Bay.
O roteiro de George Clooney (que também dirige a fita) e Grant Heslov adapta a peça de Beau Willimon, intitulada “Farragut North”. A trama gira em torno do personagem Stephen Meyers, um jovem extremamente articulado que dirige o comitê de campanha de Mike Morris, governador que disputa com um colega do partido Democrata a vaga de candidato a presidente dos Estados Unidos. Meyers responde ao chefe da campanha Paul Zara, e também auxilia diretamente o governador em seus debates realizados por todo os EUA.
Ligeiramente idealista, o rapaz acredita fielmente que Morris é a melhor escolha para a presidência de seu país. Mas seria isso política se não houvesse algum problema? Tudo começa a mudar de figura quando Meyers encara Tom Duffy, chefe de campanha do adversário de Morris. E para exacerbar a situação, duas mulheres surgem como peças chave em reviravoltas e jogadas desesperadas dos homens do poder. Basicamente uma perseguição de gato e rato, sendo que estes papéis, até o final da história, não se mostram totalmente definidos.
De forma perspicaz, George Clooney aproveitou o momento certo da política em seu país para lançar “Tudo Pelo Poder”. Com a atual imagem saturada de Obama, Clooney não poupa referências à campanha do presidente, criando assim certa equivalência entre seu Mike Morris e o atual chefe da Casa Branca. As vésperas de uma possível reeleição, o filme alerta sobre como as almas destes políticos já foram vendidas há tempos.
Com uma mão eficiente, o diretor não investe em arrojos criativos ou elementos peculiares que roubem a atenção. A grande aposta está no roteiro inteligente e extremamente envolvente, além dos personagens bem construídos e interpretações sólidas. O excelente cast conta com o sempre sagaz Ryan Gosling como Stephen Meyers, personagem que por vezes parece sucumbir mediante as pressões exercidas, mas que, com boas cartas nas mãos e muita frieza, é capaz de tudo para vencer. Phillip Seymor Hoffman explora seu talento como o chefe de campanha Paul Zara, Paul Giamatti surge cínico como Tom Duffy e Evan Rachel Wood empresta sua malícia a bela estagiária Molly Stearns. Sem esquecer George Clooney como o candidato Mike Morris, personagem que conquista a afeição de todos desde o início, como deveria ser.
No final, em meio a muitos thrillers políticos eficientes, “Tudo Pelo Poder” consegue seu lugar ao sol. Usando um pano de fundo recheado de simbolismo, Clooney aproveita para misturar referências e contar uma história criativa, que em certo momento usa do acaso como fada madrinha, mas que mesmo assim se mostra bem amarrada e muito interessante. Com interpretações incríveis, principalmente de Ryan Gosling, o filme é relevante, especialmente para o povo americano.
Tudo pelo Poder/ The Ides of March: Estados Unidos/ 2011/ 101 min/ Direção: George Clooney/ Elenco: Ryan Gosling, George Clooney, Philip Seymour Hoffman, Paul Giamatti, Evan Rachel Wood, Marisa Tomei