Ahh... a violência. A imbecilidade humana (neste caso, americana, acima de tudo) definitivamente pode gerar filmes muito engraçados. Em "Goon", acompanhamos a trajetória de Doug Glatt, um cara estúpido e honesto, que foi adotado por um casal de judeus (assim como seu irmão gay Ira), mas que não se deu muito bem na vida. Ele trabalha como segurança em bares na sua pequena cidade Orangetown (Massachusetts), buscando sempre achar algo em que seja verdadeiramente bom. Parecia impossível.
Em uma noite qualquer, quando assistia uma partida de hockey com seu amigo insano Ryan, Doug se envolve em uma briga com um dos jogadores, e simplesmente nocauteia o cara com uma cabeçada (lembrando que o jogador estava de capacete). O técnico dos Orangetown Assassins resolve então contratá-lo, o que se mostra uma sábia decisão. Finalmente Doug acharia algo em que é bom. E começa aí sua escalada, feita a base de socos e dentes perdidos, ao topo dos anais da história do hockey... pelo menos da Minor League, onde o bicho realmente pega.
O termo "Goon" significa guarda-costas ou membro de gangue intimidador. A gíria é usada no hockey para aqueles profissionais que não jogam de verdade, apenas protegem atacantes e fazem a truculenta defesa. Pra você que não sabe, a violência é um dos pontos altos do hockey, tanto estrategicamente como na questão "entretenimento". É o único esporte em que todos param para assistir uma luta, até os juízes. Uma sangrenta e belíssima tradição, um literal liquidificador de punhos que faz parte do espírito edificante do jogo (digite no youtube "epic hockey fights" e comprove).
O longa foi baseado no livro "Goon: The True Story of a Unlikely Journey into Minor League Hockey", escrito por Adam Frattasio e Doug Smith, o ex-lutador de box no qual o filme se inspira (Doug "The Hammer" Smith hoje é um treinador profissional de luta e policial em Hanson, Massachusetts). O roteiro adaptado foi escrito por Evan Goldberg e pelo ator Jay Baruchel (que participa como o doentio amigo Ryan). A direção é do competente Michael Dowse, conhecido pelo lisérgico "It's All Gone Pete Tong" - história real de um DJ surdo que perde a sanidade nas baladas eternas da Grécia. Seguindo uma linha visceral, o diretor capta muito bem o espírito do hockey dentro e fora da pista.
O intérprete escolhido para o desparafusado Doug foi Seann William Scott, o Stifler de "American Pie" (sim, aquele idiota). Apesar de ter feito muita coisa ruim, o cara foi a escolha perfeita para o papel, e ele incrivelmente desenvolve um bom trabalho com seu personagem, fazendo dele um cara extremamente careta, honrado, engraçado e brutal. Como a namorada bonitinha e ordinária Eva, temos Alison Pill ("Scott Pilgrim Contra o Mundo"). O relacionamento entre os dois é muito bem explorado, fugindo bastante do convencional e gerando ótimas cenas, principalmente pela qualidade de Alison, que sabe ser engraçada.
Os outros destaques do time são Marc-André Grondrin, que faz o habilidoso astro decadente Xavier Laflamme, e Liev Schreiber, que surge maligno como o terror irlandês Ross "The Boss" Rhea, o mais violento jogador de hockey até então. O encontro dele com Doug "The Thug" é uma espécie de batalha final entre Darth Vader e Luke Skywalker. Testosterona a flor da pele.
As informações e inspirações vindas do universo do hockey em "Goon" são direcionadas para o Philadelphia Flyers, time da NHL que se tornou popular (ou impopular) por intimidar fisicamente seus oponentes na década de 70. Os uniformes dos dois times de Doug, o Orangetown Assassins e o Halifax Highlanders, são inspirados nos Flyers, apesar de existirem algumas referências ao New York Islanders. Outros elementos, como o incidente em que Rhea bate com o taco na nuca do adversário, ou a briga de um jogador com um qualquer na plateia, aconteceram de verdade, está tudo devidamente registrado na história do esporte. Até mesmo o jogador canadense aposentado da NHL, Georges Laraque, participa do longa em duas brigas honestas.
Se saindo razoavelmente bem com a crítica mundial, "Goon" é uma agradável surpresa. Mas lembre-se, a imbecilidade é muito grande, piadas pesadas, gestos obscenos e insinuações sexuais são mais frequentes do que... diálogos, talvez. Mas com um bom roteiro (ironicamente), interpretações autênticas, uma trilha calcada no mais puro rock 'n' roll épico, e uma eficiente direção de Dowse, o filme agrada quem se liga neste tipo diferenciado de humor. Quando a fita chegar ao Brasil, "se" chegar, espero que o título não fique "O Brigão" ou algo do gênero...
Veja o trailer:
Os Brutamontes\ Goon: EUA, Canadá/ 2011/ 92 min/ Direção: Michael Dowse/ Elenco: Seann William Scott, Jay Baruchel, Alison Pill, Liev Schreiber, Marc-André Grondin, Kim Coates, Richard Clarkin