The Last Lions

Uma coisa é certa: "The Last Lions" é, sem sombra de dúvida, uma das experiências mais viscerais e emocionantes já registradas no reino animal. O documentário realizado pela National Geografic Society, dirigido e filmado pelo casal Dereck e Beverly Joubert, nos leva ao coração da África, último local onde ainda existem leões selvagens... mas eles são poucos.

Há 50 anos atrás a espécie contava com meio milhão de animais. Hoje são apenas 20 mil, um triste e assustador número que nos leva a questionar fortemente a presença da raça humana  em nosso planeta. Ela obviamente desequilibra a vida por aqui.

Buscando primeiramente nos conscientizar moralmente da urgência da situação, o filme "The Last Lions" apresenta a história de Ma di Tau ("Mãe de Leões"). Devido ao habitat reduzido, os felinos se enfrentam constantemente em busca de território, e no meio desta batalha, Ma di Tau se encontra exilada após a derrota de seu parceiro, mas seus filhotes lhe dão a força necessária para compreender o significado de sua existência, um elo forte, belíssimo e inquebrável.

A captura de imagens não tem nada de excepcional. São lindas, claramente, mas podemos ver cenas de maior beleza em séries como "Life", da BBC, por exemplo. A força desta obra está na história destes "personagens" em especial. Tudo nos é passado de maneira tão orgânica que podemos compreender seus pensamentos, igualar suas atitudes primordiais com nossas próprias lutas diárias, admirar seu poder de destruição, momentos inacreditáveis de tristeza e coragem, nos afeiçoar a uns e detestar outros. A vida real se mostra inacreditavelmente épica, algo que nem ao menos parece verdade. 

O caminho trilhado por Ma di Tau é com certeza especial e diferenciado. E o mais triste é perceber que todo seu sofrimento vem da intervenção direta do homem sobre seu ambiente. Infelizmente o territorialismo é um dos instintos mais fortes da raça (nem precisamos nos perguntar por que, não é mesmo?). Eles já perderam todo seu território, e esta forma de defesa violenta acabou gravada em seu DNA... a ferro e fogo, literalmente. E diante desta realidade, uma mãe sem bando, e com crias, simplesmente não consegue achar um local seguro para desenvolver um macho que pode ser um provável líder no futuro. Para os outros, representa um grande risco.

E acompanhando todo esta epopeia, temos um texto poético e talhado com perfeição, que é narrado por Jeremy Irons (que já dublou Scar em o "O Rei Leão", ironicamente). Já a trilha sonora incrivelmente tocante foi composta por Alex Wurman ("A Marcha dos Pinguins") e é uma peça fundamental para o resultado final da obra. Premiado no "Palm Springs International Film Festival" de 2011, o documentário é o terceiro trabalho do casal explorando o tema "grandes felinos". Juntos, eles já entregaram "India: Land of the Tiger" e "Eye of the Leopard".

Em resumo: "The Last Lions" é uma crítica voraz a falta de proteção que, no mínimo, o governo local deveria conceder a esses animais. Mas o buraco é mais em baixo, como sempre. A indústria de eco-turismo arrecada cerca de 200 bilhões de dólares por ano mundialmente, sendo que ao mesmo tempo, leões precisam brigar em espaços praticamente confinados por sua existência. A hipocrisia deita e se finge de morta.  

A extinção desses predadores, que estão no topo da cadeia alimentar, causaria um total desequilíbrio nas raças abaixo, ocasionando um colapso no ecossistema que precisa ser levado em consideração o mais rápido possível. Um filme obrigatório. 
























The Last Lions: EUA, Botswana/ 2011/ 88 min/ Direção: Dereck Joubert/ Elenco: Jeremy Irons

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