Heitor Dhalia ganhou certo status de herói após a realização do interessante "O Cheiro do Ralo". O fato que marcou este filme, que tem Selton Mello como protagonista, foi seu baixíssimo orçamento e o apoio incondicional de todos os envolvidos. Antes disso, o diretor havia chamado a atenção da crítica com seu obscuro "Nina", e depois de alcançar o sucesso não disse muita coisa com "À Deriva", mas também não se saiu mal.
Já em "12 Horas" Dhalia acaba se aprisionando em uma espécie de inferno kármico particular, e dentro dele decide desaparecer. Ele nem demonstra estar presente por trás das câmeras do enlatado hollywodiano. Algo definitivamente triste de se ver.
Na trama acompanhamos o intenso sofrimento de Jill, jovem perturbada por traumas passados que agora tem de lidar com o possível sequestro de sua irmã. Desacreditada pela polícia, ela parte em uma investigação solitária, buscando, principalmente, uma verdade pessoal, pois o crime está conectado a sua própria história.
No geral a fita é fraca, e seu maior pecado é ser completamente desinteressante. O roteiro é um festival de clichês e em nenhum momento chega a levantar algum mistério ou oferecer a mínima empolgação. Na realidade é até engraçado ver a personagem, praticamente uma mitomaníaca, inventando incessantemente histórias para conseguir suas informações. Era pra soar articulado, acabou somente exagerado.
O núcleo de atores também é decepcionante e Amanda Seyfried é a porta voz desta afirmação. A atriz tem como cena mais contundente de sua carreira um beijo em Megan Fox no pouco relevante "Garota Infernal". Ela até agora não demonstrou nada que justifique toda a bajulação que a rodeia, sendo a única explicação para seu sucesso a clássica: "um rosto bonitinho e nada mais". E além dessa falha central temos um festival de personagens descartáveis, abandonados, e uma lista de suspeitos simplesmente equivocada.
Mas o problema maior de "12 Horas" é sua falta de personalidade. Heitor Dhalia resolveu não dar as caras no filme, disfarçando bem por trás de uma direção neutra, que em alguns momentos usa movimentos de câmera desnecessários. Mas apesar de toda culpa de Dhalia, é certo dizer que ele também é vítima. Estava no lugar errado, na hora errada e acabou fazendo produto, não arte. Filme não recomendado.
12 Horas/ Gone: EUA/ 2012/ 94 min/ Direção: Heitor Dhalia/ Elenco: Amanda Seyfried, Daniel Sunjata, jennifer Carpenter, Sebastian Stan, Wes Bentley, Joel David Moore