A singularidade de "Hunger" é definitivamente desafiadora. O visionário diretor Steve McQueen - um artista acima de tudo, que transfere de forma poética sua mensagem - e a roteirista Enda Walsh ("Disco Pigs") escolheram uma história real visceral para propagar esta tese sobre a condição humana, abordando valores e principalmente a coragem que somos capazes de emular.
A obra explora a famosa greve de fome irlandesa de 1981. Prisioneiros do IRA, mantidos na Her Majesty’s Prison Maze, também conhecida como Long Kesh, iniciaram seus "dirty protests" (protestos sujos) no intuito de adquirirem status de presos políticos. Estes protestos se baseavam em não usar roupas, não se lavar nem cortar cabelos, barbas, e esfregar as fezes nas paredes das celas.
Após essa investida, Robert Gerard "Bobby" Sands, um voluntário de bom grado do Provisional Irish Republican Army, e membro do parlamento britânico, liderou uma greve de fome, sendo sua morte um ponto icônico que influenciou um maciço recrutamento para a organização e um aumento significativo de suas atividades.
A obra explora a famosa greve de fome irlandesa de 1981. Prisioneiros do IRA, mantidos na Her Majesty’s Prison Maze, também conhecida como Long Kesh, iniciaram seus "dirty protests" (protestos sujos) no intuito de adquirirem status de presos políticos. Estes protestos se baseavam em não usar roupas, não se lavar nem cortar cabelos, barbas, e esfregar as fezes nas paredes das celas.
Após essa investida, Robert Gerard "Bobby" Sands, um voluntário de bom grado do Provisional Irish Republican Army, e membro do parlamento britânico, liderou uma greve de fome, sendo sua morte um ponto icônico que influenciou um maciço recrutamento para a organização e um aumento significativo de suas atividades.
Claramente "Hunger" é um filme mais humano do que político. O pano de fundo conta uma história extremamente importante, mas o enfoque maior da obra está na condição e no ato, e não na mensagem propriamente dita. Dividido em três situações distintas, primeiramente acompanhamos o isolamento e bestialidade que estas condições insalubres causam aos prisioneiros. McQueen então usa sua verve artística (fortíssima) para realmente causar repulsa. Logo no início acompanhamos o sentimento claustrofóbico de um novo prisioneiro, que ao entrar em sua cela, a vê pintada de fezes até o teto, e agachado no canto está seu novo amigo, de barbas e cabelos longos que lhe tampam praticamente todo o rosto.
Contrastando com o horror da situação, McQueen demonstra sua qualidade única ao enquadrar tudo de maneira simétrica e paciente, fazendo do detalhismo seu diferencial. A beleza de seus planos é algo admirável para um diretor de primeira viagem. Simplesmente memorável. Seu Caméra d’Or em Cannes foi mais do que merecido.
Após esta apresentação dos limites humanos no cárcere, temos a discussão em torno da moralidade do ato heroico e o repúdio ao suicídio. Em uma cena de exatos 22 minutos, sem cortes, o personagem Bobby Sands tem um conversa franca com um padre católico irlandês, expondo e debatendo o valor do que estava sendo realizado ali. Ao mesmo tempo, o religioso cumpre sua função de tentar valorizar a vida humana acima de tudo, o fazendo pensar em seu filho e na importância do futuro. Mas Bobby queria ser um herói, um mártir, e não apenas isso, ele acreditava em sua mensagem, pois era fruto desse meio e não tinha ideia de como não ser assim.
E finalizando os três atos, temos a morte. Vemos Sands definhar rumo a sua mensagem de protesto, que garante seu tão valorizado reconhecimento. Foram 66 dias de fome.
Não é preciso dizer que "Hunger" foi importantíssimo para o ator Michael Fassbender, pois influenciou diretamente sua ascensão ao mais alto escalão de Hollywood. Hoje ele participa de filmes como "Bastardos Inglórios" de Tarantino, "Prometheus" de Ridley Scott, e dá vida de forma incrível a personagens importantes como Magneto, em "X-Men: Primeira Classe". E todo esse sucesso é merecido. Seu emagrecimento em "Hunger" revela comprometimento extremo, algo profissionalmente corajoso e merecedor de respeito.
No final, "Hunger" é um filme de mensagens contundentes e violentamente gráficas. Steven McQueen se mostrou um diretor fora dos padrões tradicionais, impôs qualidade acima da média à produção, optou por uma história mais do que relevante e gravou sua mensagem no inconsciente de todos. O britânico revelou ter feito este filme por lembrar que, quando criança, via o rosto de Sands na TV todos os dias, com números abaixo dele – eram os dias da greve de fome. Em sua opinião, a contagem regressiva desta morte assistida precisava de um grito mais forte, necessitava ficar gravada como algo real e não apenas como um rosto fugaz em uma notícia de imprensa, pronta para ser esquecida.
Bobby Sands