Três é Demais (Rushmore)

"Rushmore" (o título em português é simplesmente genérico demais) foi o primeiro grande sucesso de Wes Anderson. Anteriormente ele havia conduzido "Pura Adrenalina", descente primeiro filme que roteirizou em parceria com Owen Wilson - um de seus maiores sideckicks, que também contribuiu em "Os Excêntricos Tenenbauns", além do próprio "Rushmore". 

Neste últimos 18 anos, Anderson construiu para si uma carreira sólida e impecável. Flertando descaradamente com o cinema arte, o texano sempre embuti em seus trabalhos certa áurea pop inigualável, com uma simetria auspiciosa (verve clássica européia), trilhas sonoras impecáveis, roteiros poéticos, personagens inesquecíveis e atenção meticulosa a produção e aos detalhes de cenografia, sendo este o ponto que se revela um grande diferencial - todos esses elementos fizeram escola entre os diretores indie da atualidade, que beberam da fonte de maneira desmedida. E munido então de tanto talento, obras memoráveis foram apenas uma feliz consequência: como "A Vida Marinha de Steve Zissou", "Viagem a Darjeeling", "O Fantástico Sr. Raposo" e o recentemente idolatrado "Moonrise Kingdom" (além dos já citados acima). Mas tudo começou mesmo com "Rushmore". 

Como é de praxe, seu roteiro amarra uma história inteligente, hilária e completamente imprevisível, que traz personagens estranhos e enigmáticos - para se dizer o mínimo - como o centro das atenções. Max Fischer é aluno da renomada escola Rushmore, o maior orgulho de sua vida. Além de fundar diversos clubes nerds (como a "Sociedade de Queimada" de Rushmore), ele presidia a maioria deles, produzia e dirigia peças de teatro épicas, era capitão da equipe de esgrima e destaque das líderes de torcida. O cara era uma sensação! Eram tantas atividades extracurriculares que lhe faltava tempo para estudar de verdade... ou isso não passava de uma mera desculpa que camuflava certa mediocridade acadêmica latente.

O jovem "prodígio" vivia rodeado de fiéis escudeiros, como o jovem Dirk (Mason Gamble, que fez "Dennis, o Pimentinha" em 93), ou mesmo amigos mais velhos, como o instável Herman Blume (Bill Murray, the king) - que depois de um tempo vira seu inimigo mortal, pois acaba se afeiçoando pela professora Rosemary (a bela inglesa Olivia Willians, excelente em cena), por quem Max se apaixonou fervorosamente. É exatamente nesta encruzilhada moral do amor obrigatoriamente platônico (e talvez correspondido) que os dilemas do filme eclodem, e ele acaba, acidentalmente (mentira), fazendo a vida da mulher se transformar em um pequeno inferno.  

Sempre obstinado, Max trilha cegamente este caminho rumo a improbabilidade do amor, buscando alcançar metas insanas para assim chamar a atenção de Rosemary. Possuindo uma personalidade cativante, certo orgulho infantil cretino e uma habilidade natural para comandar, o garoto de 15 anos vira de ponta cabeça a vida de todos os personagens da trama, tendo tempo ainda de aprender suas valiosas lições morais e finalmente tentar ser um garoto de verdade. 

O sobrinho de Coppola, Jason Schwartzman, é quem interpreta Max Fisher. Este foi o primeiro papel de sua prolífera carreira como ator - um começo respeitável, pois mesmo muito novo, ele conseguiu segurar a moral do filme, tendo em vista a responsabilidade de dividir cenas com atores experientes como Bill Murray ou Brian Cox. Empregando sempre muito de sua personalidade nos papéis, Schwartzman usa certa esquisitice egocêntrica - mesclada a uma timidez desenvergonhada - para compor o protagonista de voz singular: Max é um revolucionário, dentre tantos que já existiram, ele é único! E ninguém conseguirá provar o contrário. 

Em Resumo: "Rushmore" é um filme obrigatório. A visão única de Wes Anderson gerou uma obra complexa. O humor parece estranhamente mórbido, mas é ao mesmo tempo frágil, calmo e sutil. Quando tudo aparenta leveza, algo se distorce e fica pesado, mas ainda é humor. As plásticas cenas dirigidas por Anderson são imensamente prazerosas de se ver, com a mistura ideal das cores, as parafernálias no cenário - sempre abarrotado de quadros bizarros, estatuetas esdrúxulas, papéis de parede gritantes e outros elementos que deveriam poluir, mas que incrivelmente contribuem para o enquadramento perfeito capturado pelas lentes do diretor. E acompanhando tudo isso, de maneira importantíssima para o resultado final, temos a trilha sonora...talvez uma das melhores reunidas até hoje (ou talvez não, mas só por rolar "Oh Yoko!" já ganha automaticamente um ponto a mais em tudo). Simplesmente assista... hoje se puder!






Três é Demais/ Rushmore: EUA/ 1998/ 93 min/ Direção: Wes Anderson/ Elenco: Jason Schwartzman, BillMurray, Olivia Williams, Seymour Cassel, Brian Cox, Mason Gamble, Sara Tanaka, Luke Wilson

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