#Spring Breakers é mais do que apenas libertinagem, embora Korine faça questão de tentar lhe convencer do contrário
O caminho escolhido por Harmony Korine rumo a implacável Hollywood não poderia ter sido mais sagaz. Conhecido por filmes tidos até mesmo como grotescos, o californiano deixou o bizarro de lado para desvirginar a imagem de pureza (ou o que restava dela) de algumas princesas Disney, mais especificamente Selena Gomez e Vanessa Hudgens. Ele também aproveitou a oportunidade para demonstrar suas reais qualidades como diretor, se apresentando oficialmente para um público maior e de maneira bem mais acessível do que anteriormente.
Em um passado recente, Korine foi canonizado como a voz deturpada de uma geração quando escreveu o roteiro de Kids, com apenas 19 anos. Mas verdade seja dita: roteiros não são o seu forte. O que fez de Kids um sucesso foi a polêmica e não a narrativa.
Muitos anos se passaram, e como roteirista Korine ainda continua passeando pela mediocridade, talvez porque ainda não tentou, de verdade mesmo, escrever sobre um tema que se leve a sério. Mister Lonely meio que revelou um certo amadurecimento em termos criativos, mas ainda sim foi fraquíssimo de conteúdo. O fato é que o autor trabalha com um fiapo de história, e a partir dele consegue capturar seus momentos, quase todos improvisados e inegavelmente verdadeiros.
O enredo de Spring Breakers também não tem conteúdo. Ele fala sobre um grupo de garotas entediadas numa cidade pequena, que para conseguir o dinheiro das férias de verão, realizam um roubo. O plano é bem sucedido e as mesmas embarcam numa viagem cheia de sexo e drogas. Alguns problemas surgem pelo caminho, mais ou menos na mesma hora em que o gangsta Alien aparece. O bandido força um vínculo perigoso com as moçoilas, um contrato moral difícil de ser quebrado.
Diante desta falta de apego com a própria história, percebemos a estratégia de Korine, que no final serve aos seus propósitos. O texto possui algumas falas de impacto (até relevantes), mas no geral, o que absorvemos é o sentimento de que nada ali é programado, tudo parece espontâneo. Essa forma de trabalhar acaba gerando alguns momentos de artificialidade, devido talvez a uma falta de direcionamento para cena, ou mesmo a pouca experiência do jovem elenco. Mas quando as coisas estão pegando fogo, surge o tão almejado realismo, quase sempre transgressor e amoral. Esse contraste, que intercala naturalidade e falsidade, é a base do estranho e característico estilo do diretor.
Mas o que faz de Korine um nome a ser lembrado é sua estética. O sujeito é um marqueteiro do caos, que consegue trabalhar de forma memorável os polêmicos conceitos visuais de seus filmes. Em Gummo e Julien Donkey Boy, por exemplo, ele fez da podridão humana algo belo de se ver, por mais perturbador que isso possa parecer. Agora, tendo em mãos uma matéria prima mais agradável aos olhos, fica perceptível como sua inversão de valores, envolvendo comportamento, moda, sexo, drogas e crime, formam um estilo visual apurado e de personalidade, com figurinos milimetricamente selecionados, carregados de cores fortes, etc. Enquanto isso, a fotografia e iluminação estabelecem um fascinante clima de imersão, uma imagem que fica impressa na memória. Já a trilha sonora é basicamente composta por músicas eletrônicas, muitas delas do famoso Skrillex.
Mas o que faz de Korine um nome a ser lembrado é sua estética. O sujeito é um marqueteiro do caos, que consegue trabalhar de forma memorável os polêmicos conceitos visuais de seus filmes. Em Gummo e Julien Donkey Boy, por exemplo, ele fez da podridão humana algo belo de se ver, por mais perturbador que isso possa parecer. Agora, tendo em mãos uma matéria prima mais agradável aos olhos, fica perceptível como sua inversão de valores, envolvendo comportamento, moda, sexo, drogas e crime, formam um estilo visual apurado e de personalidade, com figurinos milimetricamente selecionados, carregados de cores fortes, etc. Enquanto isso, a fotografia e iluminação estabelecem um fascinante clima de imersão, uma imagem que fica impressa na memória. Já a trilha sonora é basicamente composta por músicas eletrônicas, muitas delas do famoso Skrillex.
No elenco, além das já citadas Gomez e Hudgens, estão também Ashley Benson, Rachel Korine (mulher do diretor) e James Franco, o mais experiente ator da produção, ironicamente. Analisar a carreira de Franco é algo complicado, pois ele mais parece um grande impostor do que ator de verdade, vide a franquia Homem-Aranha ou o sofrível Planeta dos Macacos: A Origem. No entanto, quando seus papéis possuem algo em comum com ele, vemos interpretações mais inspiradas, como o Desario de Freaks & Geeks, o traficante de maconha em Segurando as Pontas, ou o aventureiro de 127 Horas. Enfim, em Spring Breakers ele demonstrou estar bem confortável na pele do maluco Alien, e sendo assim, realizou um eficiente trabalho. As chances do personagem ter descambado para uma caricatura rasa eram grandes, mas no geral o cara convenceu.
Entre as atrizes o destaque é Selena Gomez com a personagem Faith, que é a santinha da história. Rachel Korine surge como a pervertida Cotty, e Vanessa Hudgens, de mãos dadas com Ashley Benson (como Candy e Brit, respectivamente), encarnam as vilãs do grupo, que protagonizam até mesmo uma sequência basicamente jedi quase no desfecho, carregada de licenças poéticas, por assim dizer.
Separadamente, todas as garotas são atrizes novatas, que não oferecem muito mais do que sua beleza para o filme. Mas quando reunidas, Korine consegue criar momentos estranhamente icônicos, como a cena em que cantam sucessos da cantora Britney Spears – praticamente a embaixadora das jovens problemáticas com cara de santa do mundo todo. Um simbolismo juvenil, piegas, mas culturalmente pertinente.
Em resumo, talvez o elemento que mais se destaque na embalagem de Spring Breakers seja a libertinagem, mas o filme consegue ir além disso. Obviamente que existem garotas nuas, girando os seios, enquanto alguns caras derramam cerveja nelas, simulando o ato de urinar... e por aí vai. Mas sinceramente, perto do nosso carnaval (que é televisionado, devemos nos lembrar disso), o verão deles parece uma festa de crianças (o que na verdade é). Enfim, aqueles que não se importam em assistir algo do tipo, notarão que ali estão presentes qualidades a serem apreciadas.
Como disse no início, existe uma escassez de conteúdo nos roteiros de Korine, por isso é impossível encontrar alguma espécie de moral nesta história. Seria hipocrisia dizer que o diretor escancara a porra-louquice do mundo, de maneira sórdida, para assim enfatizar algo que deve ser evitado. Esse é o papo furado que eu ouvia quando criança daqueles que tentavam defender o valor artístico de Kids. Korine simplesmente entrega o caos do niilismo para que você o absorva da maneira que bem entender. Mas aqui tudo está bem mais tranquilo do que Kids, acredite. Recomendado.
Entre as atrizes o destaque é Selena Gomez com a personagem Faith, que é a santinha da história. Rachel Korine surge como a pervertida Cotty, e Vanessa Hudgens, de mãos dadas com Ashley Benson (como Candy e Brit, respectivamente), encarnam as vilãs do grupo, que protagonizam até mesmo uma sequência basicamente jedi quase no desfecho, carregada de licenças poéticas, por assim dizer.
Separadamente, todas as garotas são atrizes novatas, que não oferecem muito mais do que sua beleza para o filme. Mas quando reunidas, Korine consegue criar momentos estranhamente icônicos, como a cena em que cantam sucessos da cantora Britney Spears – praticamente a embaixadora das jovens problemáticas com cara de santa do mundo todo. Um simbolismo juvenil, piegas, mas culturalmente pertinente.
Em resumo, talvez o elemento que mais se destaque na embalagem de Spring Breakers seja a libertinagem, mas o filme consegue ir além disso. Obviamente que existem garotas nuas, girando os seios, enquanto alguns caras derramam cerveja nelas, simulando o ato de urinar... e por aí vai. Mas sinceramente, perto do nosso carnaval (que é televisionado, devemos nos lembrar disso), o verão deles parece uma festa de crianças (o que na verdade é). Enfim, aqueles que não se importam em assistir algo do tipo, notarão que ali estão presentes qualidades a serem apreciadas.
Como disse no início, existe uma escassez de conteúdo nos roteiros de Korine, por isso é impossível encontrar alguma espécie de moral nesta história. Seria hipocrisia dizer que o diretor escancara a porra-louquice do mundo, de maneira sórdida, para assim enfatizar algo que deve ser evitado. Esse é o papo furado que eu ouvia quando criança daqueles que tentavam defender o valor artístico de Kids. Korine simplesmente entrega o caos do niilismo para que você o absorva da maneira que bem entender. Mas aqui tudo está bem mais tranquilo do que Kids, acredite. Recomendado.
Spring Breakers - Garotas Perigosas/ Spring Breakers: EUA/ 2012/ 94 min/ Direção: Harmony Korine/ Elenco: Selena Gomez, Vanessa Hudgens, Ashley Benson, Rachel Korine, James Franco