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(18.12.2014) Quem esteve fora do planeta nas últimas semanas provavelmente não sabe que a gigante Sony Pictures, divisão da megacorporação responsável por filmes e séries, foi hackeada pelo grupo autodenominado Guardians of Peace (Guardiões da Paz). O ataque foi severo, aparentemente 100 terabytes de informação foram roubados. Isso é inacreditavelmente muita coisa.
Basicamente tudo foi levado: dados completos de funcionários e ex-funcionários, roteiros, projetos para TV, e-mails de altos executivos e produtores ofendendo celebridades como Adam Sandler, Angelina Jolie e Leonardo DiCaprio, até mesmo longas inteiros que aguardam lançamento. A situação não poderia ser pior para a Sony. E o motivo disso tudo só pode ser descrito como estupidamente estúpido: a agenda dos tais Guardiões da Paz era impedir o lançamento do filme A Entrevista, da dupla dinâmica Seth Rogen e James Franco.
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Bem, A Entrevista conta a história do apresentador de televisão americano (fútil e idiota) David Skylark (Franco) e seu produtor Aaron Rappaport (Rogen), que passa por uma espécie de crise de consciência, diante do lixo televisivo que produz, o que lhe desperta uma gana por matérias mais relevantes. Eles conseguem então uma entrevista histórica com Kim Jong-un, líder supremo da Coreia do Norte, que por acaso é super fã do programa de Skylark. Sabendo dessa possibilidade rara de aproximação, a CIA pede gentilmente para os americanos assassinarem o ditador, assim que possível.
Alguns críticos assistiram A Entrevista, e foi unânime que o filme é mediano. Um típico trabalho de Rogen, com dois amigos malucos tentando escapar de situações perigosas, enquanto fumam maconha e cultivam uma relação homoerótica fortíssima. Só de ver o trailer, fica bem claro que os americanos são o verdadeiro alvo das críticas, enquanto Kim Jong-un é simplesmente uma caricatura simbólica. Ou seja, um filme meia boca, que agora o planeta inteiro quer ver.
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Os Estados Unidos acreditam ter provas que a Coreia do Norte está por trás do hack da Sony. A Coreia por sua vez declarou, em diferentes ocasiões que, "se recusa a negar o fato, mas que o mesmo foi algo justo". Parece que não existe muito o que possa ser feito, diplomaticamente falando. A bomba de efeito moral seria a Sony se render ao sabor da vingança, e lançar o bendito filme para todo mundo ver. Mas nem isso vai acontecer, pelo menos até agora. Algumas ameaças e referências ao 11 de setembro, divulgadas pelo grupo hacker, fizeram cadeias de cinema abandonarem a missão de trabalhar com a fita. Uma após a outra, todas desistiram. A Sony resolveu então cancelar A Entrevista, nos cinemas e também suas vendas em DVD. Não haverá lançamento nenhum, Seth Rogen e James Franco cancelaram entrevistas de divulgação e não falam mais do póstumo trabalho.
Nem é preciso dizer que a internet reagiu de maneira explosiva a decisão da Sony. O pensamento geral é: caramba, hackers terroristas venceram, eles dominaram Hollywood, é o fim da liberdade de expressão (veja aqui). Realmente, é muito triste saber que um grupo terrorista hacker pode cancelar o lançamento de um filme. Talvez alguns não sintam a pressão dessa ação de maneira enfática, por que afinal, como disse, esta é uma produção meia boca, de dois comediantes que provavelmente estão rindo disso em casa enquanto fumam maconha e se congratulam por terem entrado para história do cinema (e realmente entraram). No entanto, e se amanhã alguém quiser falar sério sobre o assunto, sobre a Coreia do Norte e seu regime ditatorial insano? Não vai rolar? Hollywood vai se curvar com o rabo entre as patas?
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Talvez a decisão da Sony de não lançar o filme seja mais financeira do que qualquer outra coisa. Eles já perderam muito dinheiro com o escândalo, e os prospectos devem ser piores ainda, então, mesmo com o prejuízo da produção, o quanto antes pararem de falar nela melhor. Mas aconteceu exatamente o contrário, tudo mundo só fala disso, todo mundo quer ver A Entrevista, e provavelmente vai conseguir, de uma forma ou de outra.
A atitude da Sony, de cancelar o lançamento do filme, simbolicamente monta uma imagem de Hollywood se acovardando, e isso é realmente negativo para aquele conceito de liberdade de expressão (mesmo que Hollywood meio que seja um antônimo disso em alguns casos). Sendo assim, a cruzada juvenil dos hackers foi bem sucedida, A Entrevista sumiu, eles venceram. Mas toda a repercussão do ataque, desse "ato de guerra", fez de A Entrevista uma espécie de clássico cult. Se Kim Jong-un foi responsável por esta presepada toda, ele saiu mais queimado do que nunca, por mais impossível que isso pareça.
PS: Faça-me o favor Sony, libere A Entrevista na net.
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