A história se passa em 1954 e se inicia com a chegada dos detetives Teddy Daniels e Chuck Aule na Shutter Island, local onde se encontra o Hospital Psiquiátrico de segurança máxima Ashecliffe, um manicômio destinado unicamente para doentes mentais que cometeram crimes graves - em sua totalidade, assassinatos.
A dupla de detetives está incumbida de solucionar um estranho e aparentemente impossível desaparecimento (ou fuga). Em meio a muita burocracia imposta pelos manda-chuvas da instituição, e uma forte tempestade que castiga o local, as investigações acabam se revelando tortuosas, demonstrando que as aparências quase sempre enganam.
Baseado no livro "Paciente 67", de Dennis Lehane - que também é autor do excelente "Sobre Meninos e Lobos" -, a obra teve seu texto roteirizado por Laeta Kalogridis, que tem poucos filmes no currículo, alguns bastante esquecíveis, como o fraco "Os Desbravadores". Seu trabalho com "Ilha do Medo" não é dos melhores, só que para compensar o peso nesta balança,
Kalogridis tinha a seu favor um dos melhores diretores vivos filmando suas linhas. Apesar de alguns problemas de montagem e andamento, o filme é belo e envolvente.
Em "Ilha do Medo", Scorsese homenageia aquele suspense de velha guarda, que tinha Hitchcock como mestre criador. Acompanhado por uma trilha sonora retumbante, o diretor encontra espaço para inovar e se utiliza de uma linguagem pouca usada por ele até então: a surrealidade. Por se tratar de um filme onde "a loucura parece contagiosa", diversos elementos um tanto quanto perturbadores são explorados de forma eficiente, transparecendo a insanidade que paira no ar.
Interpretando o detetive Teddy Daniels temos o alter ego de Scorsese Leornado DiCaprio, que realiza sua quarta colaboração com o diretor. Como em seus últimos papéis, DiCaprio está muito bem na pele do dedicado investigador que carrega um passado de dor e ressentimento. Veterano de guerra, o detetive participou da tomada americana frente aos nazistas, e por lá viu cenas que se lembra com muito pesar (o que rende uma das melhores sequências do filme). Além disso, ele é constantemente visitado em seus sonhos por sua falecida mulher Dolores. Ela morreu em um terrível incêndio proposital e Teddy busca justiça desde então, mesmo que não esteja 100% certo em relação ao culpado. DiCaprio chega a perder a linha em alguns momentos, mas no geral sua atuação é a força principal do longa.
No papel do enigmático Dr. Cawley temos Ben Kingsley, que traz toda a sua gama de cumplicidade para o personagem, de postura sempre austera e ligeiramente estranha. Já Mark Ruffalo surge como o parceiro Chuck Aule, pouco relevante no início do filme, mas que ganha força com o desenrolar da história.
O time de coadjuvantes é excepcional. Estão presentes o icônico ator sueco Max Von Sydow, Michelle Williams (como a esposa morta Dolores), Emily Mortimer e Patricia Clarkson (ambas interpretando a desaparecida Rachel Solando), Jackie Earle Haley - que faz apenas uma cena como o lunático George Noyce -, e Elias Koteas - também em aparição relâmpago interpretando Laeddis, indivíduo bastante assustador.
"Ilha do Medo" é um filme prazeroso de se assistir. Lidando com a loucura em um cenário onde a guerra fria ganhava cada vez mais força, a história pode não trazer nada de muito novo, mas todo o suspense investigativo prende a atenção. Como já foi dito, algumas falhas estão presentes, mas o resultado final não decepciona e, mesmo trazendo uma conclusão que pode ser considerada pouco inovadora, toda a tensão e dúvida criada até o último momento torna a experiência gratificante.
Ilha do Medo/ Shutter Island: Estados Unidos/ 2010/ 138 min/ Direção: Martin Scorsese/ Elenco: Leonardo DiCaprio, Mark Ruffalo, Ben Kingsley, Max von Sydow, Michelle Willians, Emily Mortimer, Elias Koteas