Toda animação precisa ter bem definido seu público alvo, para assim não correr os riscos de um empreendimento sem identidade certa. Esta falta de direcionamento é um dos problemas da animação “Batalha por T.E.R.A”, do diretor canadense Aristomenis Tsirbas. Mas apesar dos evidentes erros, o filme acaba chamado a atenção.
A história se passa em um futuro onde nosso planeta Terra pereceu. Após drenar todos os recursos naturais disponíveis, a raça humana entrou em guerra e o resultado foi à destruição total. Vagando pelo universo em busca de um lugar para recomeçar, os sobreviventes se deparam com o planeta T.E.R.A, onde esta nova existência seria possível. No local vive uma raça harmoniosa e pacífica, que através de sua religião convive em paz com o universo, por assim dizer. Claramente que os humanos, para lutar pela continuidade de sua raça, chegaram sem pedir licença, tentando realizar uma colonização violenta.
Em meio a uma batalha inicial, o soldado Jim Stanton acaba sofrendo um acidente com sua nave de ataque e é socorrido pela bondosa (e cheia de personalidade) Mala, habitante daquele planeta. O pai de Mala foi capturado pelos humanos e sua esperança é que Jim ajude a encontrá-lo. Percebendo a índole pacífica de sua salvadora, e consequentemente de seu povo, o soldado começa a enxergar que a dominação por meio da força imposta pelos humanos está errada, e isso muda tudo para ele.
Podemos notar que o roteiro não traz nada de novo. A relação forasteiro que se afeiçoa pelo inimigo é então trabalhada como tema principal. Mas apesar de batido, este epicentro da trama acaba se desenrolando de forma muito natural, sendo que no final a relação de amizade entre Jim e Mala acaba salvando todo o filme. Trabalhando com mais coesão o drama e apenas flertando com o humor, a história aborda de forma eficaz a ignorância da guerra, mostrando com situações extremas que as escolhas em um campo de batalha sempre são injustas quando conhecemos os dois lados da moeda. O soldado Jim só tinha em mente os amigos que morrerão em acidentes de sua nave mãe, que estava velha e perigosamente instável com o passar dos muitos anos de viagem pelo universo, mas depois de conhecer Mala, suas necessidades acabaram se mostrando não maiores do que as dela.
Com uma proposta aparentemente focada nos mais jovens, o filme pode não agradar tanto, devido ao conteúdo dramático, assim como pode espantar alguns adultos que buscam animações com mais requinte visual. E o requinte visual realmente deixa a desejar. O planeta T.E.R.A é terrivelmente desprovido de beleza, sendo basicamente uma nuvem espessa de onde saem grandes espécies de troncos, que servem de casa para os habitantes. Sem cor e sem graça, o local não cativa, em nenhum momento, uma espécie de apego. Os habitantes do planeta seguem a mesma linha, parecendo bonecos de massa mal acabados. Já os humanos são um pouco mais trabalhados, mas o aspecto plástico e a falta de detalhes são evidentes. A qualidade técnica não é necessariamente fator crucial para um filme ser bom, mas se tratando de uma animação, e comparando o que vem sendo feito por outros estúdios na área, realmente ficam claras as limitações. Temos algumas boas sequências, como a nave de Jim disparando seus foguetes em slow com uma bonita luz por trás, mas no geral, o aspecto visual não é o maior atrativo. Nem mesmo o 3D salva, sendo explorado de forma irrisória.
A dublagem nacional é decente e consegue captar bem o sentimento de seus personagens. No time dos dubladores originais temos nomes famosos como Brian Cox dando vida ao vilão implacável do longa, o General Hemmer, Evan Rachel Wood como a já citada heroína de ocasião Mala, Luke Wilson como o corajoso Jim Stanton. Temos ainda nomes como Ron Perlman, Dennis Quaid, Danny Trejo, Justin Long, Amanda Peet, Chris Evans e Danny Glover.
Possuindo uma espécie de charme “Star Trek”, abordando os costumes e características de novas raças, e apresentando detalhes inovadores – que não vem ao caso citar – da aniquilação da Terra, o filme possui seu carisma, só que ao mesmo tempo esbarra nos problemas técnicos e de criação já citados. Apesar da trama comum, o texto acaba trabalhando bem a relação dos personagens principais, explorando de forma humilde e positiva uma mensagem de tolerância. Começando de forma arrastada, engrenando no segundo ato e finalizando de maneira muito interessante, “Batalha por T.E.R.A” poderia ser melhor estruturado, mas passa sua mensagem.
Chad Allen, Rosanna Arquette, Bill Birch, Brooke Bloom, Tom Connolly, Brian Cox, Chris Evans, Danny Glover, Mark Hamill