Scott Pilgrim Contra o Mundo (Scott Pilgrim vs. the World)

Insano, barulhento, acelerado. Este filme é uma festa para os olhos daqueles que buscam mais vida e atitude no cinema moderno.

“Scott Pilgrim Contra o Mundo” pode ser considerado um filme destinado para um público específico. Talvez o longa seja louco demais para aqueles acostumados a uma história mais linear e (fatidicamente) comum. Baseado no aclamado graphic novel de Bryan Lee O'Malley, o filme conta a história de Scott Pilgrim, baixista arrasador, conquistador nato e exímio lutador. Depois de idas e vindas de sua vida amorosa, ele parece ter encontrado a garota de seus sonhos (literalmente). Ramona Flowers é tudo aquilo que um rapaz descolado quer: misteriosa, independente, espontânea e cheia de atitude, o único problema são suas cicatrizes de guerra, ou seja, seu passado amoroso constituído, mais especificamente, por sete ex-namorados do mal, todos empenhados em destruir os relacionamentos da moça (novamente... literalmente). Fica então a cargo de Scott defender sua posição e assim derrotar esta liga barra pesada, para no final ter o caminho livre com Ramona.

Primeiramente é importante frisar, para os fãs da graphic novel, que muita coisa foi transformada, algumas com um resultado muito positivo, outras nem tanto. Seguindo praticamente ao pé da letra o primeiro volume, “Precious Little Life” (fundamental por explorar o início do relacionamento de Scott e Ramona), o roteiro acaba dando aquela embolada básica em todo resto. Mas no geral o texto de Michael Bacall e do diretor Edgar Wrigth funciona bem. Não é perfeito, pois após o primeiro ato impecável o filme dá uma pequena caída no rendimento, mas suas soluções acabam sendo de bom gosto até o desfecho.


Mas com certeza o grande diferencial da obra é a parte técnica. A direção de Wright é eletrizante. Tendo os excelentes "Todo Mundo Quase Morto" e "Chumbo Grosso" em seu currículo, o inglês eleva até a quinta essência o seu apuro visual, muito diferente da obra original, que opta por um estilo mais cult, todo em preto e branco. Utilizando de efeitos fantásticos, o quesito "game" é realmente debulhado de todas as maneiras possíveis. Juntamente a isso, onomatopéias saltam freneticamente em todos os sons, transformando tudo em uma grande HQ. É a união perfeita de duas vertentes que nunca haviam sido exploradas de forma tão enfática. Ainda com muita criatividade, diversos outros elementos pop são inseridos de forma inusitada, como uma homenagem ao seriado "Seinfield" (simplesmente perfeita), a vinheta da Universal em "8bits" também arrasa, e toda a parte musical, que apesar de não ter as mesmas letras de O'Malley e possuir mais de três notas (diferentemente da HQ), funciona de forma excepcional. Punk rock misturado com british rock, uma doidera só.

A edição e montagem insanas, herança do cinema inglês de Guy Ritchie, aqui são reinventadas. Sendo parte fundamental do êxito visual da obra, as passagens e cortes bruscos dão a sensação frenética e muitas vezes não linear do filme. Muita qualidade também na direção de arte, onde as cores ganham vida de forma incrível. Trilha sonora contagiante, efeitos especiais épicos, o filme se sai bem em quase todos os quesitos.


O time de atores também é destaque. Michael Cera foi a escolha certa para o papel principal. Com cara de nerd, franzino, e com um “timing” para comédia diferenciado, seu Scott tem o carisma necessário para conquistar o público. Ele trabalha muito bem todos os dilemas reais de uma geração, se tornando assim um símbolo de fácil associação. Mary Elizabeth Winstead também se sai bem como Ramona. Além de parecer muito com a figura da HQ, sua seriedade contrasta paralelamente com seu charme, e sua busca por um relacionamento verdadeiro se torna uma motivação perspicaz diante do público que busca atingir. Não menos importante temos Ellen Wong como a perseguidora apaixonada de Scott Knives Chau. A atriz imprime trejeitos irresistíveis para a personagem, passeando facilmente entre o estilo menina meiga e a louca varrida. Já entre os amigos de banda podemos ver Alison Pill como a durona e hilária baterista Kim Pine, Mark Webber é o talento paranóico Stephen Stills, e Johnny Simmons é o sonso boa gente Young Neil.

No time dos vilões estão nomes de peso como Chris Evans, interpretando o mala Lucas Lee, Brandon Routh é o poderoso vegano Todd Ingram, e o excelente Jason Scwartzman aparece influente como Gideon Graves. Outros destaques são Kieran Culkin como o impagável gay descolado Wallace Wells (roubando a cena), Anna Kendrick interpretando a irmã fofoqueira Stacey Pilgrim, Brie Larson como a sedutora Envy Adams e Aubrey Plaza, que faz a desbocada Julie Powers. Um time de peso. Diversos personagens que, incrivelmente, são todos bem explorados.

“Scott Pilgrim Contra o Mundo” adapta sua história de forma respeitável. Apesar de comprimir muito coisa, a obra se fortalece nos detalhes, em todo o apuro visual, na direção perfeita de Edgar Wright e nas interpretações eficientes de seus atores, definitivamente uma pequena obra prima cult. Com suas influências calcadas no mangá, nos games vintage (com suas moedinhas e tudo mais) e no mundo musical frenético, o filme tem tudo para atrair nerds em geral. Embora tenha sido recebido de forma pouco positiva mundo a fora, a fita com certeza tem um valor inestimável para aqueles que buscam algo diferente em meio à normalidade muitas vezes cansativa dos blockbuster’s em geral.


Scott Pilgrim Contra o Mundo/ Scott Pilgrim vs. the World: Estados Unidos, Inglaterra, Canadá/ 2010/ 112 min/ Direção: Edgar Wright/ Elenco: Michael Cera, Alison Pill, Mark Webber, Johnny Simmons, Ellen Wong, Kieran Culkin, Anna Kendrick, Mary Elizabeth Winstead

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