In Darkness


Protegidos pela escuridão.

Por mais que existam obras relevantes sobre o holocausto, como a "A Lista de Schindler" de Steven Spielberg - que é marcada principalmente por sua violência gráfica -, são as histórias individuais e menos focadas em atrocidades que exemplificam de forma aprofundada os horrores da Segunda Guerra Mundial. Em "In Darkness", percebemos que para ser um herói basta salvar uma vida, e ter a coragem de se fazer a coisa certa em condições extremamente adversas.

O longa dirigido por Agnieszka Holland é baseado na história real do "goy" Leopold Socha, um "trabalhador dos esgotos" que, durante a ocupação nazista na Polônia, usou seu conhecimento da rede de esgoto da cidade de Lwów para refugiar um grupo de judeus que escapou do extermínio no gueto de Lemberg. O que primeiramente se iniciou como uma barganha comercial, terminou como um elo de amizade e proteção inquebrável, com Socha arriscando sua vida e de sua família para proteger "seus judeus".

A direção de Holland é sutil e inteligente. Procurando se diferenciar, ele emprega no início da obra um clima estranhamente ameno, não ausente de urgência, mas definitivamente diferenciado. A câmera se esgueira por entre as cenas, como se procurasse seus personagens em meio a fumaça e pessoas que insistem em cruzar o caminho de suas lentes. O roteiro, alicerçado pelo livro da pequenina sobrevivente Krystyna Chiger (The Girl in the Green Sweater: A Life in Holocaust's Shadow), detalha de maneira honesta a luta pela sobrevivência deste grupo de pessoas que passou mais de um ano vivendo nos esgotos. O texto inova ao explorar os judeus de forma menos mecânica, não como vítimas robóticas prontas para a morte. Existe egoísmo, falta de consideração de todas as partes, impulsos sexuais aparentemente incompreensíveis e diversos outros elementos que fazem da experiência algo humanamente crível.

O time de atores traz alguns rostos conhecidos do cinema europeu, como Benno Fürman, que interpreta o valente Mundek, e Herbert Knaup, que vive Ignacy, o rico patriarca da família Chiger. Toda a produção da obra é impecável, recriando os ambientes inóspitos com requintes de detalhes - os ratos se tornam brinquedos nas mãos das crianças. A eficiente trilha sonora de Antoni Lazarkiewicz cumpre sua função de conduzir o público de forma cadenciada por este caminho - no mínimo inacreditável - trilhado pelos sobreviventes, sendo contundente nos momentos de tensão e mais silenciosa na hora da dor.

No final, "In Darkness" deve ser visto devido a sua arrasadora história real. No filme podemos sentir mais de perto o horror da guerra, sentir por debaixo da pele, imaginando como foi possível que uma proeza dessa tenha se realizado. A luz já havia sido esquecida pelos menores, ela causava medo, insegurança. Eles já estavam morbidamente acostumados à escuridão.
     
PS: "In Darkness" foi merecidamente indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2012, perdendo para o iraniano "A Separação". 







In Darkness: Polônia, Alemanha, Canadá/ 2011/ 145 min/ Direção: Agnieszka Holland/ Elenco: Robert Wieckiewicz, Benno Fürmann, Agnieszka Grochowska, MAria Scharader, Weronika Rosati

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