Um retrato honesto e visceral do cenário independente de games.
Definitivamente vivemos uma era sem igual para o mundo dos video games. Eles nunca geraram tanto dinheiro, nunca foram tão influentes em nossa cultura pop, nunca foram tão legais.
Mas em como todo bom mercado de entretenimento - pulsante, acelerado -, é possível perceber que hora ou outra algo se perde pelo caminho... quando a grana que rola por trás é altíssima sabe? Leia-se qualidade. Estamos falando de jogos imensos que para alguns dizem muito, muito pouco.
Definitivamente vivemos uma era sem igual para o mundo dos video games. Eles nunca geraram tanto dinheiro, nunca foram tão influentes em nossa cultura pop, nunca foram tão legais.
Mas em como todo bom mercado de entretenimento - pulsante, acelerado -, é possível perceber que hora ou outra algo se perde pelo caminho... quando a grana que rola por trás é altíssima sabe? Leia-se qualidade. Estamos falando de jogos imensos que para alguns dizem muito, muito pouco.
Por isso sempre existirá o bendito independente. Pode ter certeza que, paralelamente a qualquer indústria, sempre teremos o honesto, criativo, batalhador e - acima de tudo - necessário cenário independente, de qualquer coisa, neste caso em particular: dos games. Esse é o interessante mote de "Indie Game: The Movie", documentário
canadense que acompanha basicamente três jogos exponenciais do meio: "Braid", "Super Meat Boy" e "Fez".
Quando "Indie Game..." foi gravado, "Braid" já havia sido lançado, e
seu criador Jonathan Blow já possuía certa áurea Jedi perante a comunidade gamer.
Altamente cotado por sites especializados, o título é um marco nesta
ascensão dos jogos independentes, feitos por equipes enxutas (de duas ou três
pessoas), com baixo orçamento e retorno financeiro e midiático mais que satisfatório.
No entanto o foco da fita não está no sucesso dos "produtos", mas sim na análise
profunda do impacto causado por este extenuante, complicado e solitário processo
de trabalho. Para se conseguir um jogo com personalidade própria é preciso
doação, e não apenas limar imagens até alcançar a perfeição. É como um filho
que nasce, e muitos desses profissionais acabam sofrendo de depressão pós-parto.
Blow mesmo disse ter enfrentando momentos difíceis após o lançamento de "Braid",
principalmente por que sua obra não foi compreendida totalmente, foi encarada
como um puzzle inovador, diferenciado, mas não do jeito que ele imaginava. Por mais mesquinho que isso possa parecer,
tudo é resultado de um desenvolvimento verdadeiramente estressante, alicerçado por uma
pressão enorme causada por diversos motivos - leia-se fim da vida social,
negociações com a Microsoft e por aí vai.
O caso de Edmund McMillen e Tommy Refenes não é muito diferente,
psicologicamente falando. A dupla que forma o Team Meat é meio que o centro do
documentário. Seu jogo, "Super Meat Boy", foi acompanhado em seus últimos sete
meses (decisivos) de finalização. Temos então estes dois indivíduos complexos
que amam os games de uma maneira extrema, como uma forma autêntica de
expressão. O passado e presente de ambos são esmiuçados. Vemos histórias
emocionadas de como os jogos são importantes, como influenciaram suas famílias, a formação de caráter. No final tudo se resume a integridade autoral.
Tommy em certo momento diz, "Tenho de fazer isso eu mesmo, pois não me vejo
trabalhando na EA ou na Epic, isso me soa como o inferno. Se existe um público
que prefere comprar "Modern Warfare" ou "Halo Reach" tudo bem, mas esses jogos
são uma merda, e essas pessoas não irão comprar meus jogos, pois eu não faço
jogos de merda". "Super Meat Boy" se tornou um fenômeno maciço de vendas e
crítica.
Por fim temos o sofredor Phil Fish e seu já lendário "Fez".
Fish talvez exemplifique de maneira mais abrangente o que é ser um desenvolvedor indie.
Seu projeto extremamente pessoal – Fez é Fish – primeiramente se revelou uma
promessa animadora em 2008. Depois de alguns anos se tornou uma dúvida sarcástica,
e hoje... finalmente foi lançado com sucesso. O cara enfrentou todos os tipos de
problemas possíveis durante este árduo período: seu parceiro de equipe o abandonou (o que acarretou posteriormente problemas judiciais relacionados a direitos autorais), seu pai
teve leucemia, a namorada o largou. Problemas e mais problemas que fizeram de
Fish uma pilha de nervos ambulante. Ao acompanharmos sua epopeia na feira de games PAX East, com uma demo sofrível e cheia de bugs, percebemos que o cara enfrenta sua última tentativa de fazer a coisa dar certo. Se o jogo não fosse bem ele literalmente sumiria do mapa. Um futuro incerto e cruel.
"Indie Game: The Movie" é um documentário acima da média. Os diretores Lisanne Pajot e James Swirsky analisaram mais de 20 histórias
diferentes, selecionando apenas três delas, e o resultado não poderia ser
melhor. Muito bem registrado, editado e acompanhado pela excelente trilha de Jim
Guthrie ("Superbrothers: Sword & Sworcery EP"), o filme é um passeio prazeroso e ao mesmo tempo melancólico por este universo gamer tão único e expressivo, que mesmo sofrendo de certas contradições morais, almeja principalmente a satisfação dos jogadores, buscando influenciar novos olhares e pensamentos. Novas vertentes. Todos esses sentimentos misturados constroem um cenário independente relevante e - repito - extremamente necessário. Vida longa aos indie games!
PS: "Indie Game: The Movie" contou com um financiamento colaborativo
(só para honrar o tema) e foi realizado com 100 mil dólares. Foi
premiado no Festival de Sundance e selecionado para o Hot Docs, South by
Southwest (SXSW), entre outros. O longa terá uma única exibição no Brasil, no dia 26 de junho
na Estação Sesc, Rio de Janeiro. Ele está disponível para download neste link.
Indie Game: The Movie: Canadá/ 2012/ 94 min/ Direção: Lisanne Pajot, James Swirsky/ Elenco: Jonathan Blow, Phil Fish, Edmund McMillen, Tommy Refenes