Michael

O austríaco Markus Schleinzer escolheu um tema polêmico para iniciar sua carreira como diretor. Em seu primeiro trabalho, ele aborda de forma metódica o comportamento de um pedófilo, mas não um qualquer. O personagem Michael - que dá nome ao filme - é um corretor de seguros que aparentemente leva uma vida normal, a não ser por manter preso no porão de sua casa um garoto de 10 anos, Wolfgang, do qual abusa periodicamente.

Fica claro que Schleinzer  se propõe a contar uma história e nada mais. O realismo - a única mensagem da fita - é caracterizado pelo andamento extremamente lento, a total ausência de trilha sonora, e planos basicamente fixos. Abordando o tema através do ponto de vista do agressor, o diretor cria uma obra autêntica, e que mesmo sem ser explícita em qualquer sentido, choca profundamente.

O ator principal, ironicamente, se chama Michael Fuith. Ele declarou em uma entrevista, para o site Deutsche Welle, que inicialmente não queria interpretar o papel, mas diante do desafio acabou aceitando. Para incorporar o pedófilo sequestrador, Fuith simplesmente adotou uma personalidade vazia, completamente desprovida de sentimentos, sendo seus momentos de humor ou satisfação uma distorção bizarra desta falta de humanidade.

Schleinzer - que é um experiente diretor de elenco e colaborador de longa data do mestre Michael Haneke ("A Fita Branca") - se inspirou para este trabalho nas surpreendentes histórias reais de Josef Fritzl - o monstro de Amstetten, que violentou sua própria filha durante absurdos 31 anos (e teve sete filhos com ela) -, e Natascha Kampush - garota que ficou presa por mais de oito anos no porão de Wolfang Priklopil (que se matou após a mesma fugir) e desenvolveu síndrome de Estocolmo. Definitivamente histórias interessantes e altamente indigestas.

No final, "Michael" merece ser visto. Ele incomoda, causa revolta, nos faz sentir pelas famílias envolvidas (principalmente pela do agressor) e nos lembra que, por mais deturpado e desprezível que esse comportamento possa ser, essas pessoas (violentas) existem, e muitas vezes passam pela vida incólumes. Isso é o mais assustador.

PS: No Brasil também foi registrado um desses casos, muito semelhante ao de Josef Fritzl. O ex-lavrador José Agostinho Bispo Pereira foi acusado de estuprar suas duas filhas, gerando nelas oito filhos-neto. Ele também abusou de duas dessas crianças.





Michael: Áustria/ 2011/ 96 min/ Direção: Markus Schleinzer/ Elenco: Michael Fuith, David Rauchenberger, Christine Kain, Ursula Strauss, Victor Tremmel

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