Amer

Munidos de grande engenhosidade na direção - algo realmente distante do lugar comum -, os diretores Bruno Forzani e Hélène Cattet fazem de "Amer" um belo quadro, no qual pintam diferentes estilos de filmagens, trucagens e artimanhas. O resultado é um trabalho de personalidade única, memorável do início ao fim.  

O filme pode ser caracterizado como um pulp giallo (termo que inventei agora mesmo, ok!?), pois contém elementos clássicos do estilo criado por Dário Argento, e ao mesmo tempo bombardeia a audiência com referências de cunho pop, uma especialidade do americano Quentin Tarantino.

O roteiro é uma desculpa interessante, utilizada para explorar a beleza ímpar da protagonista Ana. Possuindo uma presença perigosamente hipnotizante, a existência de Ana serve a propósitos que nem mesmo ela parece conhecer plenamente. Acompanhando sua trajetória desde a infância (assustadora, diga-se de passagem), chegamos a juventude e idade adulta da mesma ouvindo apenas algumas sentenças proferidas - um silêncio incômodo que é quebrado através da profusa, vibrante e atemporal trilha sonora, composta por uma mistura de linhas de jazz, funkadelic, músicas francesas (clássicas e românticas) e temas incidentais perturbadores, afiados como uma navalha. 

Como foi dito, a parte técnica da fita é o grande destaque. Sendo visivelmente uma produção de baixo orçamento, ironicamente, "Amer" é puro deslumbre visual. Enquanto o roteiro caminha vagarosamente, a verve da direção oscila de maneira frenética através de proezas que aguçam os sentidos e despertam curiosidade diante do que está por vir.

Inicialmente são utilizados planos fixos e afastados, contemplativos. Começam então closes extremos, que enfatizam detalhes (bocas, olhos, o cabelo mordido no canto dos lábios), e cores monocromáticas piscam insanamente. Com ângulos e enquadramentos simétricos (hora improváveis), a câmera voa livremente acompanhando o vento por debaixo da saia de Ana, seguindo sua corrida, fixando em sua face, chacoalhando, ofegando, insinuando sexualidade a todo momento - fator chave da obra. E tão importante quanto a direção, a edição final resolve a equação com ideias simples e autênticas. É cinema de atitude que abraça sem medo o gênero cult.

Mas apesar de "Amer" ter sido acolhido de forma positiva pela crítica mundial, ele não é um sucesso de público, que tende talvez a não captar sua verdadeira proposta cinematográfica. Devido ao forte anticlímax imposto - claustrofóbico e genuinamente desconfortável -, algumas pessoas podem não curtir a experiência, perdendo assim a capacidade de apreciar a qualidade técnica da direção, que conquista credibilidade de forma tangível. No final, "Amer" é mais que recomendado, mas fica a dica: assista... se puder.   
































Amer: França, Bélgica/ 2009/ 90 min/ Direção: Hélène Cattet, Bruno Forzani/ Elenco: Cassandra Forêt, Charlote Eugène Guibeaud, Marie Bos, Bianca Maria D'Amato

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