Os experientes diretores e produtores ingleses Peter Lord e Jeff Newitt, da Aardman Animations, possuem diversos trabalhos de sucesso no currículo. Peritos no exercício de dar vida a bonecos de massa, eles alcançaram o reconhecimento do grande público com "A Fuga das Galinhas", e logo em seguida com "Wallace & Gromit - A Batalha dos Vegetais". Após os dois êxitos, veio "Por Água Abaixo", em que resolveram apostar apenas no estilo icônico de suas modelagens, deixando de lado o stop-motion e caindo de cabeça na computação gráfica. O resultado foi positivo, mas faltou aquela "magia" da dupla. Era hora de retornar as origens, uma missão cumprida com este impagável "Piratas Pirados".
A história gira em torno do Pirata Capitão, um terror dos sete mares (nem tanto assim na verdade) que, cheio de uma autoestima perigosa, e dono de uma barba vistosa, não vê a hora de ganhar o cobiçado prêmio de "Pirata do Ano" - ele tem muitas chances dessa vez, pois a marinha britânica dominou os mares, fazendo com que a matemática estivesse a seu favor (isso foi o que ele pensou). Junto de seu inseparável papagaio Polly, ele acredita ser capaz de qualquer coisa.
Mas na verdade a competição será duríssima. Os temidos Peg Leg Hastings, Cutlass Liz e Black Bellamy são os verdadeiros candidatos a ganhar o troféu de "faca na caveira" do ano. Sendo um mais extravagante que o outro, seus saques são grandiosos e respeitados, enquanto o Pirata Capitão é apenas um piada sem graça, que sofre com a falta de vítimas em potencial.
Depois de invadir navios de leprosos, crianças e naturistas, o Capitão se depara com ninguém menos que Charles Darwin, ainda muito jovem (ele nem alcançou a segunda base com uma garota... aliás, tudo que ele faz é pensando nisso). O cientista faz então uma proposta irrecusável para o bandido dos mares: o fato é que, aquilo que a tripulação chamava de papagaio, na verdade é - nitidamente - um dodô, uma ave aparentemente extinta há mais de 150 anos. Com ela, ambos poderiam vencer a mais importante feira de ciências de Londres - ganhando assim pontos na competição dos piratas (será?) -, mas tudo se complica quando a rainha Victoria se interessa vorazmente pelo animal.
O trabalho dos diretores é pura diversão. A qualidade técnica se equivale ao simbolismo inteligente do roteiro, recheado de ótimos personagens, esteriótipos clássicos que são revitalizados. Existe uma pureza na composição dos britânicos que hoje em dia não se vê. Apesar de ligeiramente lento em alguns momentos, o texto é definitivamente cativante.
Entre os dubladores os destaques são: Hugh Grant (desaparecendo por trás da voz do Pirata Capitão) e Martin Freeman (o novo Bilbo Bolseiro), que faz o braço direito sem nome do capitão. A obra conta ainda com o talento de Imelda Staunton, David Tennant, Jeremy Piven, Salma Hayek, Anton Yelchin, Brendan Gleeson, entre outros. A trilha sonora é outro ponto mais que positivo, oferecendo desde "Also Sprach Zarathustra" (tocada na sanfona, acompanhada por um macaco nos tambores) e "Garota de Ipanema", até "London Calling" e "Alright" (hits exponenciais do rock britânico)
No final, "Piratas Pirados" se mostra mais que uma simples animação. Mesmo utilizando um pouco de CG, é o realismo dos cenários - com suas sombras, trucagens e movimentação - que se destaca de forma sem precedentes. Uma trabalho artesanal dificílimo, que merece ser apreciado.
PS: A Aardman Animations também é responsável pelo famoso seriado infantil "Shaun, O Carneiro", apresentado no Brasil pela TV Cultura.
Piratas Pirados!/ The Pirates! Band of Misfits: Reino Unido, EUA/ 2012/ 88 min/ Direção: Peter Lord, Jegg Newitt/ Elenco: Hugh Grant, Martin Freeman, Imelda Staunton, David Tennant, Jeremy Piven, Salma Hayek, Lenny Henry, Brendan Glesson, Anton Yelchin, Ashley Jensen