Em "O Corvo", Edgar Allan Poe acaba sofrendo de um mal que todo autor que se preze repudia: a superficialidade. Mesmo alcançando uma estética interessante - aquele típico "fog alley" que é reproduzido de tempos em tempos -, a fita peca na falta de criatividade na hora de explorar seus personagens, que acabam pouco aproveitados ou mesmo esquecidos pelo roteiro.
Na trama temos um copycat que remonta assassinatos, todos eles publicados em livros que vieram da mente sombria de Allan Poe. Sendo então o alvo primordial deste admirador secreto, o escritor acaba se envolvendo nas investigações. Mas tudo muda de figura quando sua amada é sequestrada.
A direção de James McTeigue ("Ninja Assassino") no geral se mostra ineficiente. Sem o apoio de efeitos especias ou cenas de lutas frenéticas, ele fica perdido, optando sempre pela saída mais fácil e menos interessante. Sua sequência inicial, por exemplo, é praticamente uma cópia descarada da abertura de "Sherlock Holmes" (de 2009), mas com menos personalidade do que Guy Ritchie.
Apesar de um plote interessante, o grande destaque do filme reside, única e exclusivamente, em uma cena de assassinato... bem instigante na verdade, sangrenta e gráfica, mas pouco importante no final das contas. Com o decorrer da história, a investigação em torno dos outros crimes se torna tão rasteira que parece nem existir. As obras citadas (que deveriam servir como um trunfo na hora de despertar o interesse do público) são apenas folheadas, como uma sinopse feita as pressas.
A maioria dos personagens, como foi dito, são meros fantoches, pouco aprofundados e que podem ser descartados a qualquer momento - ninguém vai sentir falta deles mesmo. O astro da fita, John Cusak (que não faz nada relevante desde "Grace is Gone"), se esforça para segurar a moral do projeto, mas falha ao cair na mesmice típica do "escritor bêbado, louco e traumatizado". Se tratando de um mestre do macabro, obviamente algo a mais poderia ter vindo à tona. Sem o apoio de diálogos contundentes, este Poe - como um escritor que é - não oferece muita verve artística, e quando tenta, soa destoante e superficial.
Talvez a única surpresa agradável seja a bela Alice Eve, que concede uma voz real a personagem Emily Hamilton. É uma pena que sua existência seja apenas um capricho sem sentindo, um propósito forçado que cria um interesse romântico para o protagonista. O assassino (?) é outro que se mostra hábil em cena, mas também acaba pouco explorado.
No final, "O Corvo" é uma decepção. Se ao menos o filme caminhasse em uma direção "gore", como a bendita cena memorável do início, o resultado final se aproximaria de algo parecido com entretenimento fugaz. No mais, é apenas um capítulo mal conduzido da icônica história de Edgar Allan Poe.
O Corvo/ The Raven: EUA, Hungria, Espanha/ 2012/ 110 min/ Direção: James McTeigue/ Elenco: John Cusack, Luke Evans, Alice Eve, Brendan Gleeson, Kevin McNally