É interessante perceber como uma fórmula que deveria resultar em sucesso pode culminar em algo extremamente errado. Foi isso que aconteceu em "O Besouro Verde", uma adaptação do vigilante mascarado criado na década de 30 por George W. Trendle e Fran Striker.
O personagem fez fama em programas de rádio, TV e gibis, sendo um de seus pontos altos a participação de Bruce Lee como o Kato, sidekick ninja do herói Britt Reid (o besouro em pessoa), jovem editor chefe do jornal Daily Sentinel que, na calada da noite, se aventura combatendo o crime com seu super carro e aparatos extraordinários.
A fórmula de que falei começava com o diretor escolhido: Michel Gondry. O francês tem em seu currículo obras excelentes, como "Natureza Quase Humana", "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças" (estes dois com o roteiro do genial Charlie Kaufman), "Sonhando Acordado" e "Rebobine, Por Favor". Acrescentando ainda mais elementos na equação, tínhamos um elenco promissor, com Seth Rogen, Cameron Diaz, Tom Wilkinson, James Franco e Christoph Waltz (o Coronel Hans Landa de "Bastardos Inglórios").
No entanto, o resultado foi algo sofrível de se ver, quase vergonhoso na verdade, começando pela direção de Gondry, que foi compactada pelos moldes do enlatado. Dono de uma linguagem diferenciada, cheia de trucagens e efeitos interessantes, ele até tenta demonstrar algumas de suas qualidades em certos momentos - ironicamente em cenas de ação bem realizadas e montagens -, mas no geral, tudo não passa de um apanhado de besteiras filmadas de forma contida e genérica.
E como o maior algoz do filme... temos o roteiro escrito por Rogen e Evan Goldberg ("Superbad - É Hoje", "Goon"). O texto beira, na maioria do tempo, uma infantilidade inacreditável. A forma como a dupla de protagonistas se conhece é de uma futilidade absurda, e o desenrolar da história, simplesmente, não é levado a sério. Tudo isso é potencializado pela péssima interpretação de Rogen como o herói incomum Britt. Ele surge como uma criança mimada, pulando, cantando e falando besteiras de maneira caricata, esquecendo o senso do ridículo - tá certo, esta fórmula já funcionou no passado, muito bem na verdade (vide "O Virgem de 40 Anos" ou "Ligeiramente Grávidos"), mas tentar repetir a mesma linha de atuação neste "O Besouro Verde" foi algo completamente sem noção... o que acabou, obviamente, custando muito caro.
Continuando.
O inexperiente Jay Chou, que interpreta Kato, não convence em nenhum momento da fita. Cameron Diaz é totalmente dispensável, pois não recebe profundidade alguma do roteiro, sendo apenas uma estranha muleta para o desenvolvimento da "carreira" dos vigilantes, além de servir como suposto affair de um triângulo amoroso, também explorado superficialmente. Já o único que faz algo louvável é Waltz com seu Chudnofsky. Ele consegue compor uma personalidade problemática para este chefão do crime organizado - que enfrenta uma forte crise de meia-idade, buscando ser mais temido do que nunca por seus adversários. O ator ameniza um pouco o clima de irregularidade, mas não chega a diminuir os deméritos gerais. Talentos desperdiçados, na verdade, só atenuam os problemas.
No final, "O Besouro Verde" conseguiu o mais difícil: estragar algo que facilmente daria certo. Mesmo com um bom elenco e um excelente diretor, nada se salva. E o pior é que tudo isso foi em 3D (eles acreditavam mesmo no projeto). Passe longe.
PS: nem sabia que a obra havia sido dirigida pelo Goundry... e quando descobri, acabei assistindo por curiosidade mórbida.
O Besouro Verde/ The Green Hornet: EUA/ 2012/ 119 min/ Direção: Michel Goundry/ Elenco: Seth Rogen, Jay Chou, Cameron Diaz, Tom Wilkinson, Christoph Waltz, David Harbour, James Franco