Em seu primeiro trabalho como diretora, a americana Lorene Scafaria faz de "Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo" algo leve, engraçado, e melancólico na medida certa. Seu roteiro original questiona a conformidade humana, que, mediante a um fim eminente (proporcionado pelo meteoro Matilda), se transforma em uma estúpida deterioração de valores, com pessoas procurando desesperadamente por sexo, drogas, entre outras coisas - ou seja, elas emulam algo que parece correto em um nível cretinamente midiático: elas almejam um dia em Hollywood. Mas tudo não passa de uma tentativa patética de compensar suas vidas repletas de erros e falta de coragem - pelo menos é isso que o longa inteligentemente sugere.
Mas nem todos optam por essa abordagem hedonista terminal. Alguns se sentem simplesmente afetados demais pela realidade para serem tão egoístas, e mesmo que suas vidas tenham sido patéticas e mentirosas, um final digno parece ser bom o bastante - tudo isso analisado por uma perspectiva moral, obviamente (este é o caso de Dodge). Já outros aproveitaram bem seus dias na Terra, amaram livremente, sofreram com algumas escolhas, mas nunca mudaram seu jeito de agir. E diante do fim do mundo, não existe outra opção a não ser continuar sendo a mesma pessoa de sempre (este é o caso de Penny).
E é assim que este casal improvável de amigos se conhece à beira de um abismo existencial... e escolhem trilhar juntos uma última jornada.
Mas é no drama que o texto se destaca, explorando de maneira aprofundada a busca pela redenção de um homem honesto, que um dia teve a chance de ser feliz... ou revelando a tristeza da extinção de uma garota especial, que merece continuar ouvindo seus discos de rock clássico. E de forma emocionante, o longa passeia por temas relevantes como: a importância da família, o acerto de desavenças com a mesma, a decepção pelo rompimento de um antigo amor verdadeiro, a possibilidade de uma segunda chance, o descobrimento de um novo e puro relacionamento, livre de qualquer pressão ou impedimento.
No final, mesmo não sendo perfeito em sua totalidade, "Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo" agrada bastante. Os atores Steve Carrel e Keira Knightley são talentosos e oferecem uma química peculiar e funcional para a fita, aproximando a audiência de seus personagens. A trilha sonora é excepcional, sendo composta basicamente por canções icônicas do Rock 'N' Roll (com certeza uma perda a se lamentar com o fim do mundo). Já a direção de Scafaria não ousa sair do lugar comum, mas também não erra em suas escolhas, o que deixa visível a opção de apenas enfatizar a história dos personagens, com seus descobrimentos e epifanias latentes, tristezas e alegrias, erros e acertos evidentes - lições de uma última semana de existência.
O filme explora a busca pela verdadeira felicidade, que não acarreta "quantidades" mas sim "qualidades", e como seria digno se todos aqueles que precisam... pudessem encontrá-la - ainda mais perto de um fim inesperado, surreal e ironicamente retumbante. Só que na verdade, o roteiro conversa mesmo é com o mundo real, sendo um grande alerta para todos que assistem a vida passar enquanto se encontram inertes... adormecidos. Ele diz, sutilmente, que é possível bem mais que isso. Recomendado.
Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo/ Seeking a Friend for the End of the World: EUA, Cingapura, Malásia, Indonésia/ 2012/ 101 min/ Direção: Lorene Scafaria/ Elenco: Steve Carrel, Keira Knightley, Adam Brody, Rod Corddry, Connie Britton, Melanie Lynskey, William Petersen, Gillian Jacobs, Martin Sheen