007 - Operação Skyfall (Skyfall)

Definitivamente este é um assombroso novo mundo para o agente 007 Bond... James Bond. 

É certo dizer que todos entendem bem como a franquia 007 mudou com a entrada de Daniel Craig, mas talvez poucos se lembrem que, quando "Cassino Royale" foi lançado, ele buscava se esgueirar dentro de um novo nicho de espionagem, alavancado por Paul Greengrass com seu eficiente "A Supremacia Bourne". 

As mentes criativas por de trás dos filmes do "agente com licença para matar" precisavam abandonar aquele cenário de ação pitoresca, que na época pintava o cara (tragicamente) como uma espécie de piada (veja "Um Novo Dia Para Morrer"). Era preciso urgentemente adentrar este universo em que a credibilidade e o realismo das cenas eram o foco primordial. Ironicamente, com o recuo da série "Bourne", hoje são os filmes de Bond que se transformaram em um sinônimo desta veracidade sagaz do gênero.  

Mas toda essa complicada e polêmica transição não impediu o diretor Sam Mendes ("Estrada Para Perdição") de inserir singelas homenagens aos tempos de 007 em que vilões possuíam mandíbulas potentes, cortavam cabos teleféricos como manteiga e por aí vai. Em uma primeira sequência arrasadora de "Operação Skyfall", temos bandidos com armas espalhafatosas (e pouco práticas), uma perseguição de motos sobre telhados, e até mesmo o uso de uma escavadeira como arma opcional. Algo rico, imensamente atrativo, e que consegue se encaixar perfeitamente neste novo jeito de ser da marca. Uma reinvenção reinventada.

"Operação Skyfall" é de longe o melhor filme desta nova geração (comparar com os antigos seria algo simplesmente insano). Se com "Cassino Royale" todos levantaram os dedões, e "Quantum of Solance" passou pelos olhos sem dizer nada, é com "Operação Skyfall" que a franquia encontra um de seus melhores momentos, e todos os méritos vão exclusivamente para Sam Mendes. Sua direção se revela algo fora do comum. A atenção oferecida para as cenas de ação é absurda, sendo milimetricamente planejadas, coreografadas, fotografadas... algo vívido e bonito de se ver.



Incrivelmente, a iluminação efetuada consegue se destacar em meio a tudo. Sempre criativa e desafiadora, ela usa as sombras como um manto para os personagens, revelando apenas silhuetas que se engalfiam próximo a janela quebrada de um (talvez) vigésimo quinto andar. Em outro contexto, o amarelo do fogo mostra expressões escondidas pela escuridão de um descampado - tudo extremamente poético, como podem perceber. Ou seja, escolhas ousadas e pouco convencionais do diretor, que dobram o valor técnico do filme. 

A trilha sonora de Thomas Newman também cumpre a importante função de servir como personagem da trama, sempre desmembrando o tema clássico de John Barry por caminhos eletrônicos, percussivos, orquestrados, hora suntuosos, hora sutis - sem falar que a canção "Skyfall", da cantora Adele, é a mais arrasadora desde "Live and Let Die", do mestre Paul McCartney.

E se for para apontar algum problema, ele está no roteiro. Em certo momento decisivo, mais especificamente em uma situação cara a cara, Neal Purvis, Robert Wade e John Logan (roteiristas) acabam optando por uma solução conveniente, que depois, ao tentar ser explanada, se torna ligeiramente inconsistente. Na verdade, a trama que se desenrola paralelamente as ações de Bond, que envolvem burocraticamente a líder M e sua poderosa instituição de combate ao crime, o MI6, não se revelam tão importantes no final das contas, e servem apenas como um alicerce das reais motivações exploradas, que são basicamente: fidelidade, superação, ressurgimento e vingança.

Só que mesmo com esses pequenos deslizes, o texto trabalha excepcionalmente bem seus personagens, em especial o antagonista Silva (vivido por Javier Bardem, que mais uma vez entrega um vilão memorável). A relação com as Bond Girls Eve e Sévérine (Naomie Harris e Bérénica Marlohe, respectivamente) também é bem talhada, se mostrando madura, profunda e inteligente. Os momentos de humor, presentes principalmente na relação de Q (excelente Ben Wishaw) e Bond, aliviam o clima na medida exata, e a nova aquisição para a franquia, o sempre contundente Ralph Fiennes (como Gareth  Mallory), promete momentos interessantes para um futuro próximo.



Mas entre os atores, o destaque é Judi Dench com sua (quase) sempre austera e fria M. Neste episódio, particularmente importante para a personagem, ela demonstra mais uma vez toda sua experiência conquistada por décadas de atuação, revela a humanidade de "Emma" e emociona verdadeiramente a audiência. Dench é uma das maiores e mais respeitadas atrizes da atualidade, e nada mais justo do que um momento emblemático como esse para fortalecer seu nome na história da sétima arte. 

Bem, se você ainda não entendeu, "Operação Skyfall" é sensacional. A direção de Mendes é o ponto forte de todo o deslumbre técnico e emocional que salta da tela de forma grandiosa. Mas o roteiro também tem suas qualidades exponenciadas quando decide navegar por águas profundas da personalidade de seus personagens, principalmente do mocinho, do vilão, e da criadora da situação, M. O motivado time de atores entrega credibilidade e realismo acima de tudo, sendo que Daniel Craig novamente cala aqueles que um dia duvidaram de sua capacidade frente ao personagem que encarnou (e reinventou) de maneira irretocável. 

No final, fica claro que este é um assombroso novo mundo para James Bond... um assombroso novo mundo que lhe pertence. E mesmo com o céu desmoronando, sua honra vem acima de tudo... algo assim.




007 - Operação Skyfall/ Skyfall: Reino Unido, EUA/ 2012/ 143 min/ Direção: Sam Mendes/ Elenco: Daniel Craig, Judi Dench, Javier Bardem, Ralph Fiennes, Naomie Harris, Bérénice Marlohe, Ben Whishaw

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