Enquanto assistia a esta adaptação do livro "O Hobbit", do mestre da fantasia J.R.R. Tolkien, ficava tentando imaginar o que o autor sentiria ao ver Gollum ganhando vida de maneira tão surpreendente. Além de o ator Andy Serkis oferecer voz, movimento e principalmente espírito para o personagem, os efeitos digitais revolucionários da Weta Digital fizeram do ser algo tão crível, que ouso dizer, deixaria seu criador orgulhoso, pois afinal, ele apreciava a riqueza de detalhes.
Em "O Hobbit: Uma Jornada Inesperada", o diretor Peter Jackson, juntamente com sua dupla inseparável de roteiristas (Fran Walsh e Philippa Boyens) e com a colaboração do sempre criativo Guillermo del Toro, novamente reinventa, à sua maneira, os contos da Terra Média. Assim como fez na trilogia "O Senhor dos Anéis", Jackson caminha de forma independente com o longa, tendo o livro como base e não um evangelho. Ou seja, ele ousa inovar com o rico material, amarrando (por exemplo) os 60 anos que separam as duas obras de Tolkien com uma cena recheada de simbolismos, e trazendo de volta Frodo, que nem ao menos aparece na história em questão.
Jackson tem a noção exata do que funciona nas páginas e nas telas. Sendo assim, sua cronologia é levemente alterada, alguns momentos ganham mais ênfase no filme, e muitos trechos vindos de apêndices complementam o roteiro. Ironicamente, Jackson dessa vez não precisou comprimir as coisas como fez em "O Senhor dos Anéis", na verdade ele adicionou elementos "extras". E por fim, o espírito do livro está lá, intacto, descrito e retratado de maneira fiel e inquestionável.
Jackson tem a noção exata do que funciona nas páginas e nas telas. Sendo assim, sua cronologia é levemente alterada, alguns momentos ganham mais ênfase no filme, e muitos trechos vindos de apêndices complementam o roteiro. Ironicamente, Jackson dessa vez não precisou comprimir as coisas como fez em "O Senhor dos Anéis", na verdade ele adicionou elementos "extras". E por fim, o espírito do livro está lá, intacto, descrito e retratado de maneira fiel e inquestionável.
Obviamente a obra não é livre de defeitos. Durante a emblemática reunião na toca de Bilbo, o andamento se arrasta um pouco. Um pequeno contratempo que logo perde força conforme a caravana engrena em sua jornada - Jackson quis inserir o máximo possível deste inesperado encontro inicial, o que justifica o ritmo mais lento (do ponto de vista cinematográfico). E deste momento em diante o que vemos é a já conhecida busca obstinada de Thorin por um lugar ao qual possa chamar de lar, a batalha contra o medo e a busca do autoconhecimento de Bilbo (um tema universal e rico em significados), o humor dos anões, o ódio vingativo dos Orcs... e Gollum, em sua primeira aparição no universo da Terra Média. Épico.
Sinceramente é difícil apontar problemas sérios no roteiro e direção de Peter Jackson. Ele consegue balancear com perfeição gêneros distintos, como ação, humor e drama - tudo ofertado na medida exata e sempre agregando valores. Mas são nos momentos aventurescos que a fita ganha mais vida: cenas e sequências são moldadas com uma riqueza de detalhes impressionante, e sua movimentação de câmera intuitiva enfatiza ainda mais isso. Podemos perceber que Jackson busca, avidamente, o melhor caminho rumo a interação do real com o digital... e encontra seu destino.
Enquanto isso, a trilha sonora original de Howard Shore molda organicamente sua nova personalidade, mas não deixa de passear por temas antigos quando os mesmos se fazem necessários. Sua função de conduzir o ritmo de tensão do longa é composta de maneira primorosa. Na verdade, toda a parte técnica se mostra afiada - até mesmo um departamento especial para a animação das barbas foi criado! Os efeitos sonoros são incríveis, assim como as maquiagens e figurinos imponentes, ou aquela fotografia amarelada incólume, que faz do pôr do sol uma figura sempre presente no horizonte. Os méritos de "O Hobbit: Uma Jornada Inesperada" estão na grandiosidade e ao mesmo tempo em seus detalhes, que foram esmiuçados.
E completando os acertos, surge o elenco. Entre tantos personagens de baixa estatura e barbas longas, destacaria Bofur, interpretado pelo excelente ator irlandês James Nesbit (que tem no currículo o memorável "Domingo Sangrento", de Paul Greengrass). Além dele, obviamente, temos Martin Freeman - agradando até mesmo os mais xiitas - com seu Bilbo Baggins, Richard Armitage com o estóico e melancólico Thorin Escudo-de-Carvalho, e Ian McKellen como Gandalf, sempre profuso e profissional - mesmo não estando plenamente contente com a forma pouco interativa das filmagens.
A Polêmica dos 48fps
A exibição em 48fps não foi muito bem recebida pela crítica mundial - alguns disseram que Jackson errou ao escolher um "visual de televisão" para seu filme.
Minha análise sobre este tópico é a seguinte: o resultado é transcendental. É como olhar uma peça de teatro por uma janela, um espetáculo grandioso com os melhores efeitos especiais da Terra. Acompanhar os atores em um cenário 3D impecável, de profundidade tão crível, é algo sem igual... e creio que indescritível. É preciso ver para crer.
Mas verdade seja dita: em alguns poucos momentos, realmente senti que este formato de altíssima definição, estranhamente, remetia a uma sensação televisa (lembrando que este "televisava" seria uma imagem cristalina e com a maior resolução da história do universo). É algo incomum de fato, mas que, pelo menos para mim, se normalizou em questão de minutos, e acabou sendo uma experiência muito mais confortável do que o 3D normal.
Esta estranheza, que muitas pessoas afirmam ter sentido, pode ser explicada cientificamente, o que talvez não atenue ou mude a opinião de quem não gostou do resultado, mas acaba sendo muito interessante de se entender. O fato é que, definitivamente, a percepção de "O Hobbit: Uma Jornada Inesperada" varia de pessoa para pessoa - principalmente para aqueles que já estão acostumados com altas taxas de fps, como os gamers, com seus 60fps tradicionais.
Toda a polêmica gira em torno da capacidade humana de captar estes "frames por segundo" (fps). Quando vamos ao cinema, esperamos ver algo falso (um filme). Nosso cérebro capta 60 fps (e isso é basicamente nossa visão), mas o mesmo aproveita deles apenas 40fps reais. Como "O Hobbit..." é exibido em 48fps (ou seja, mais do que o nosso cérebro consegue trabalhar), surge então a sensação de que aquilo é estranho, praticamente real, e a ilusão tradicional dos filmes normais (que utilizam apenas 24fps) teoricamente é perdida. É como se víssemos uma interpretação na nossa frente: o que para alguns é normal (ou mesmo irado), para outros pode parecer cafona ou uma simples mentira (ironicamente). É válido lembrar que o filme está sendo exibido em 24fps na maioria do país e do mundo, pois nem todas as salas suportam o formato. Caso alguém queira entender melhor os porquês deste tema "48fps", aqui vai um link bem relevante e imparcial.
Mas é interessante frisar que podemos perceber o ápice do formato quando vemos elementos não reais na tela, como as criaturas moldadas por computação gráfica. São nestes momentos que entendemos com clareza como o sistema simplesmente dá vida aos seres fantásticos (o cérebro deve mandar um sinal: isto não é real! Estamos bem agora!). É hipnotizante - a veracidade de Gollum, ou das águias gigantescas, emociona apenas por sua beleza. Aparentemente o 48fps só será totalmente compreendido em um filme feito todo em CG - provavelmente "Avatar 2".
Minha análise sobre este tópico é a seguinte: o resultado é transcendental. É como olhar uma peça de teatro por uma janela, um espetáculo grandioso com os melhores efeitos especiais da Terra. Acompanhar os atores em um cenário 3D impecável, de profundidade tão crível, é algo sem igual... e creio que indescritível. É preciso ver para crer.
Mas verdade seja dita: em alguns poucos momentos, realmente senti que este formato de altíssima definição, estranhamente, remetia a uma sensação televisa (lembrando que este "televisava" seria uma imagem cristalina e com a maior resolução da história do universo). É algo incomum de fato, mas que, pelo menos para mim, se normalizou em questão de minutos, e acabou sendo uma experiência muito mais confortável do que o 3D normal.
Esta estranheza, que muitas pessoas afirmam ter sentido, pode ser explicada cientificamente, o que talvez não atenue ou mude a opinião de quem não gostou do resultado, mas acaba sendo muito interessante de se entender. O fato é que, definitivamente, a percepção de "O Hobbit: Uma Jornada Inesperada" varia de pessoa para pessoa - principalmente para aqueles que já estão acostumados com altas taxas de fps, como os gamers, com seus 60fps tradicionais.
Toda a polêmica gira em torno da capacidade humana de captar estes "frames por segundo" (fps). Quando vamos ao cinema, esperamos ver algo falso (um filme). Nosso cérebro capta 60 fps (e isso é basicamente nossa visão), mas o mesmo aproveita deles apenas 40fps reais. Como "O Hobbit..." é exibido em 48fps (ou seja, mais do que o nosso cérebro consegue trabalhar), surge então a sensação de que aquilo é estranho, praticamente real, e a ilusão tradicional dos filmes normais (que utilizam apenas 24fps) teoricamente é perdida. É como se víssemos uma interpretação na nossa frente: o que para alguns é normal (ou mesmo irado), para outros pode parecer cafona ou uma simples mentira (ironicamente). É válido lembrar que o filme está sendo exibido em 24fps na maioria do país e do mundo, pois nem todas as salas suportam o formato. Caso alguém queira entender melhor os porquês deste tema "48fps", aqui vai um link bem relevante e imparcial.
Mas é interessante frisar que podemos perceber o ápice do formato quando vemos elementos não reais na tela, como as criaturas moldadas por computação gráfica. São nestes momentos que entendemos com clareza como o sistema simplesmente dá vida aos seres fantásticos (o cérebro deve mandar um sinal: isto não é real! Estamos bem agora!). É hipnotizante - a veracidade de Gollum, ou das águias gigantescas, emociona apenas por sua beleza. Aparentemente o 48fps só será totalmente compreendido em um filme feito todo em CG - provavelmente "Avatar 2".
Resumo da ópera: assim como Tolkien possuía um espírito inovador em sua época, Peter Jackson hoje tenta apresentar algo novo para o cinema, e não apenas uma simples adaptação da obra literária que deu vida ao universo da magia. Ele busca a imersão de sua audiência, e acima de tudo a satisfação da mesma. Sua direção é apaixonada, seu roteiro adapta de forma respeitável o texto deste grande mestre, seu elenco oferece de corpo e alma anos de suas vidas pelas obras... E o resultado é brilhante, um filme que não será esquecido jamais - e isto é apenas o início da jornada.
Curiosidade: Andy Serkis foi o diretor da segunda unidade do filme.
O Hobbit: Uma Jornada Inesperada/ The Hobbit: A Unexpected Journey: EUA, Nova Zelândia/ 2012/ 169 min/ Direção: Peter Jackson/ Elenco: Ian McKellen, Martin Freeman, Richard Armitage, James Nesbitt, Elijah Wood, Hugo Weaving, Cate Blanchett, Christopher Lee, Andy Serkis