4:44 - O Fim do Mundo (4:44 Last Day on Earth)

Com "4:44 - O Fim do Mundo", Abel Ferrara nos oferece o estranho e monótono vazio que antecede o fim.

A raça humana sempre buscou, de maneira desesperada, significados para sua existência, e a ideia de uma aniquilação total não deixa de ser uma delas. O fim do mundo pode ser enxergado como uma prova cabal de que existe sim algum sentido para o nosso planeta, mesmo que seja o de ser extinto. 

Em "4:44 - O Fim do Mundo", o diretor Abel Ferrara ("Vício Frenético") resolveu passear por este conhecido tema, apresentando as últimas horas do planeta Terra - que será engolido pelas previsões "alarmistas" do ex-vice presidente Al Gore. 

Temos então como foco uma surreal percepção do evento, vivenciada pelo casal Cisco (Willem Dafoe) e Skye (Shanyn Leigh). O roteiro simples aborda emoções e relações humanas, investigando os pontos positivos e negativos desta união conjugal, e como esses "pontos" influenciam comportamentos diante do Armagedom

Os elementos mais discutidos são: sexo, relacionamentos paralelos do casal (parentes e amigos), e a falta de compreensão, e também reação, diante do desfecho inesperado - ninguém ali fez planos para o fim do mundo.



Ferrara também esmiúça o uso da tecnologia como forma de comunicação, demonstrando ela como uma ferramenta que possui suas qualidades (de encurtar distâncias) e também defeitos (de se acomodar com as distâncias). Fora o casal, praticamente todas as interações humanas do filme são feitas através do Skype. Despedidas de pais e filhos, por exemplo, são sem expressividade, completamente desprovidas de sentimentos.

Willem Dafoe é um competente ator, que cumpre bem seu papel no longa. Já a jovem Shanyn Leigh parece um pouco perdida, mas não chega a ser um problema. No entanto, é o ritmo escolhido por Ferrara o grande X da questão: lento e moroso, ele se torna extremamente cansativo, e o fato de tudo ocorrer no mesmo ambiente (o apartamento do casal) só piora a falta de dinâmica. Mesmo assim, temos bons momentos propiciados pelo roteiro, quase sempre vivenciados por Dafoe.



Apesar da razão do fim do mundo se tornar praticamente uma piada (cujo rosto é o de Al Gore), a obra nos faz refletir sobre qual seria nosso comportamento diante de um apocalipse eminente, que foi provado cientificamente e alertado pela mídia. É algo mórbido, que vem disfarçado de ironia e conformismo, originando então o sentimento de cansaço que o diretor explora. Só que apesar da cadeia de raciocínio ser válida, ela, ao mesmo tempo, não oferece muita profundidade.

Em resumo: "4:44 - O Fim do Mundo" não é um filme fácil. Seu ritmo lento e arrastado busca, aparentemente por vontade própria, incomodar a audiência... e consegue. Ainda assim, existem alguns propósitos interessantes explorados pelo diretor, e a opção corajosa, de se apoiar completamente nos protagonistas, também pode ser considerado um mérito nos dias de hoje. É curioso, mas pouco relevante.


4:44 - O Fim do Mundo/ 4:44 Last Day on Earth: EUA, Suíça, França/ 2011/ 82 min/ Direção: Abel Ferrara/ Elenco: Willen Dafoe, Shanyn Leigh, Natasha Lyonne, Paul Hipp, Anita Pallenberg, Dierdra McDowell

[COLE AQUI]