"Frank e o Robô" é definitivamente um filme atípico. Ele ousa misturar elementos completamente distintos em sua trama, e o resultado, apesar de conter certa irregularidade, é deveras interessante.
A obra nos fala sobre um futuro próximo, em que nossa sociedade começa a se acostumar com a interação entre homem e robô. Os caros e prestativos brinquedos de gente grande se tornaram uma peça importante no dia a dia de muitas famílias, que viram a oportunidade de configurar o serviçal perfeito, que organiza metodicamente suas casas, prepara refeições deliciosas e saudáveis, e até cuida de idosos, criando para eles rotinas, projetos e determinadas funções.
Devido então a esta "dependência" criada pela máquinas, grupos ativistas se proclamaram contra o uso indiscriminado das mesmas, alertando que elas devem ser evitadas e por aí vai - uma típica cadeia de raciocínio que já foi exaustivamente explorada no cinema do gênero. Mas no final, estes argumentos servem para ilustrar o período de transição em que a sociedade se encontra, e não desempenham um papel importante na história.
O centro das atenções é mesmo Frank, um senhor que possui um passado conturbado. Em sua juventude ele foi um famoso ladrão de jóias (e foi preso duas vezes por isso). Já "aposentado", o velho anda meio esquecido, se confundindo a todo momento e se irritando facilmente com qualquer coisa - talvez um reflexo de seu isolamento proposital. O fato é que Frank não gosta de se sentir incapaz, e para provar sua independência (que outrora foi tão vívida), ele afasta seus filhos com seu papo rabugento.
No entanto o filho Hunter, diante de uma visível doença mental que começa a se manifestar no pai, decide presentear Frank com o tal Robô, que é recebido da pior maneira possível. Mas com o decorrer do tempo eles começam a se entender, até bem demais, pois o ex-ladrão decide voltar a trabalhar com este novo e improvável parceiro que, em suas constantes análises de probabilidades, vê na elaboração de um golpe o exercício mental perfeito para o idoso sair do ostracismo.
Em sua essência o longa funciona bem. O jovem diretor iniciante Jake Schreier consegue oferecer uma profundidade diferenciada para o tema que aborda, e definitivamente demonstra uma linguagem cinematográfica atraente.
Já o elenco é o grande destaque. Apesar de James Marsden e Liv Tyler surgirem ligeiramente apagados como os filhos Hunter e Jennifer, é com o experiente Frank Langella que a fita encontra seu alicerce. O ator presenteia este filme indie de baixo orçamento com uma interpretação dedicada. Para ele, dar vida a Frank foi a oportunidade perfeita de conversar com um público mais jovem, uma jogada estratégica articulada. Susan Sarandon também ajuda a tornar tudo mais envolvente, e Peter Sarsgaard convence com sua voz de Robô.
Porém, o problema de "Frank e o Robô" é sua falta de direcionamento conceitual - o que consequentemente caracteriza uma falha no roteiro de Christopher D. Ford. Com tantos gêneros diferentes trabalhando ao mesmo tempo (drama, humor, ficção científica, crime e romance), acabamos não nos identificando enfaticamente com nenhum deles. A fita consegue fazer rir, e também emociona, mas no geral fica uma sensação de que falta um pouco de personalidade. Isso acaba minando o resultado - até certo ponto.
Mas como foi dito, a participação de Langella está impecável, a condução esforçada de Schreier gera bons frutos, os dois protagonistas se complementam perfeitamente, e no final, uma agradável surpresa acaba relevando alguns erros. Vale a pena ser visto.
Frank e o Robô/ Robot & Frank: EUA/ 2012/ 89 min/ Direção: Jake Schreier/ Elenco: Frank Langella, James Marsden, Liv Tyler, Susan Sarandon, Peter Sarsgaard, Jeremy Strong, Jeremy Sisto