Um retrato violento e aterrador da mente de um serial killer.
A proposta estética central de Maníaco é bem interessante: colocar o telespectador na pele de um assassino extremamente perturbado. Para isso, o diretor Franck Khalfoun resolveu filmar quase todas suas cenas em primeira pessoa, ou seja, vemos tudo através dos olhos do insano Frank, interpretado de maneira assustadoramente convincente por Elijah Wood - que possui um perfil que se encaixa perfeitamente/estranhamente no papel (algo que também foi devidamente aproveitado em Sin City - A Cidade do Pecado).
E diante desta abordagem incomum, o resultado alcançado não passa desapercebido. Khalfoun realiza inteligentes trucagens de câmera para posicionar Elijah Wood por trás dos olhos do assassino (em espelhos e reflexos), a fotografia trabalha de forma eficiente ambientes de pouca luminosidade, e a trilha sonora consegue apoiar o clima bizarro da produção, com músicas sintetizadas e andrógenas, oriundas dos anos 90.
São ofertados também ótimos efeitos especiais, que colaboram para que a violência seja a mais realista possível. Este é outro ponto de destaque que faz de Maníaco um filme diferenciado: ele é insanamente violento, e pode até mesmo ser perturbador para os mais impressionáveis - por exemplo: como todo bom serial killer, Frank coleta troféus de suas vítimas, que neste caso são os escalpos de lindas mulheres. O que vemos então são sequências brutais do ato, efetuadas sem nenhum tipo de censura, muito pelo contrário, a violência é valorizada, o que a torna morbidamente distinta.
Em contra-partida, o roteiro adaptado acaba se revelando falho em alguns fatores - lembrando que este é um remake do slasher homônimo de 1980, dirigido por Willian Lustig. A história de Maníaco não é forte o bastante para manter seu andamento de forma concisa, sendo que no segundo ato sentimos o ritmo se arrastar um pouco, e o desenvolvimento dos argumentos não encontra um propósito mais enfático. Outro ponto que lesou a produção foi a escolha da atriz francesa Nora Arnezeder para o papel de Anna, figura central que se transforma no fetiche máximo de Frank. Apesar de belíssima, Nora ainda precisa evoluir muito para se tornar mediana no ofício.
Já a construção do personagem principal é excelente. O texto explora bem a edificação da insanidade de Frank. Em sua infância, ele por muitas vezes testemunhou a mãe fazendo sexo em lugares públicos, com dois homens ao mesmo tempo, consumindo drogas e por aí vai. Quando adulto, o jovem demonstrou vocação para um trabalho que pode ser considerado por alguns como pouco masculino, o de restaurador de manequins, e isso com certeza adiciona algumas perturbações na sua conta.
No entanto é impossível dizer claramente o que motiva a sede de sangue de Frank. A causa é muito bem explanada, mas não o real significado disso para ele. É tudo simbólico, e fica a cargo do público tirar suas conclusões. Obviamente existe uma ligação com a mãe, mas é algo muito mais deturpado que isso.
E tornando este complicado personagem crível, temos a interpretação de Elijah Wood, que de tão visceral chega a ser desconfortável. Estamos falando de um sujeito altamente doentio, que lava suas mãos compulsivamente com palha de aço - lacerando-as -, que usa o escalpo de suas vítimas como perucas de manequins (objetos que cultua e mantém estranhas relações), que tem visões vívidas de acontecimentos terríveis de sua infância, e que sofre de escruciantes dores de cabeça. Acompanhar tudo isso pela visão do personagem definitivamente causa um impacto maior, e o trabalho - principalmente vocal de Wood - é um dos fatores que potencializa esta experiência.
Em resumo, Maníaco é um filme que vale a pena ser visto, ainda mais para quem curte um cinema gore realista e cruel. Apesar da história que serve de guia para o filme ser ligeiramente pobre, e se arrastar no segundo ato, a elaboração da psicopatia de Frank se mostra bem estruturada, e Elijah Wood colabora para que ela seja inesquecível e aterradora. Além disso, toda a concepção da obra é inovadora, o visual é excelente, temos longas e eficientes cenas sem cortes, filmadas com muita atenção ao detalhes, e carregadas de uma violência que já se tornou atípica em Hollywood, ainda mais com atores de visibilidade na produção. Recomendado.
Uma curiosidade - estou acompanhando a série Hannibal, e devido a isso, recentemente, resolvi assistir mais uma vez o filme O Silêncio dos Inocentes. Após ver Maníaco, percebi que o diretor Franck Khalfoun utilizou a música tema do psicopata Bufallo Bill em uma de suas cenas. O nome da banda em questão eu já não sei... e nem quero, para ser honesto.
Maníaco/ Maniac: França, EUA/ 2012/ 89 min/ Direção: Frank Khalfoun/ Elenco: Elijah Wood, America Olivo, Nora Arnezeder, Liane Balaban, Megan Duffy, Jan Broberg, Sammi Rotibi, Genevieve Alexandra