Envolto por ares já lendários, o diretor J.J. Abrams entrega um Sci-Fi belíssimo, carregado de adrenalina e ótimas interpretações.
Após o bem sucedido "Star Trek" de 2009 - em que J.J. Abrams, sem medo algum, reinventou a clássica série televisiva de 1966 para novas audiências -, era chegada a hora de uma continuação da saga, para a alegria incondicional de trekkies universo adentro. Novamente se focando na força de seus personagens, "Além da Escuridão - Star Trek" explora os valores e conflitos morais de uma verdadeira amizade, principalmente quando a mesma é desafiada por forças maiores.
A história começa com um resgate conturbado do Comandante Spock, que se encontra preso no interior de um vulcão no planeta Classe-M Nibiru (dono de uma paleta de cores impressionante). Sem pensar no impacto que a visão de uma nave espacial poderia causar na civilização pre-histórica que habitava o local, o Capitão James T. Kirk decide desobedecer os protocolos da Federação Unida dos Planetas e assim salvar seu amigo, mesmo que para isso ele abandonasse o status sigiloso da missão. Por esta interferência na evolução de Nibiru, Kirk é afastado do comando da USS Enterprise, o que consequentemente desmantela toda a tripulação. No entanto, isso não dura muito tempo. Diante de uma nova ameaça, que surge inesperadamente e com violência extrema, o grupo se reúne novamente para uma caçada humana que os conduzirá ao lado mais escuro do espaço.
Visualmente, "Além da Escuridão - Star Trek" é deslumbrante. Diante da qualidade técnica de J.J. Abrams como diretor, fica muito fácil entender porque ele é a escolha perfeita para conduzir o próximo capítulo da saga "Star Wars". A construção de suas cenas é impecável, a atenção aos detalhes da produção é de um nível altíssimo, diálogos se fazem sempre relevantes - podemos perceber que ele usa apenas o melhor de seu elenco. Junto a isso, a trilha sonora de Michael Giacchino destaca perfeitamente todas emoções para a audiência - um trabalho auspicioso, hora melancólico, hora retumbante.
A companhia de Abrams, Bad Robot Productions, oferece efeitos digitais surpreendentes. Temos sequências que emulam planos abertos belíssimos, simplesmente hipnotizantes. Mesmo irreais, não existe sentimento algum de que aquilo é um engodo, tudo é extremamente crível e orgânico, sendo que o 3D - muito bem utilizado - intensifica ainda mais a experiência. Uma verdadeira obra de arte em CG, técnica que ainda nos dias de hoje não recebe seu devido valor quando analisado como artifício da sétima arte.
Uma grande diferença deste filme para seu antecessor é o clima mais sério. Gags foram visivelmente reduzidas, devido a maturidade que a estória exige. Apesar de estruturado e bem amarrado, o plote central da trama funciona mais como um trilho que mantém tudo no eixo, alavancando a movimentação frenética das cenas de ação, e também a profunda investigação da personalidade de seus protagonistas. Quando se fala em terrorismo, coisa e tal, o ritmo parece perder força, mas quando Spock explica sua concepção única de morte e sacrifício, vemos a genialidade do roteiro.
O elenco escalado é sem dúvida formidável, e como um todo, funciona de forma inspirada. São eles: Chris Paine (Kirk), Zachary Quinto (Spock), Zoe Saldanha (Uhura), Karl Urban (Bones), Simon Pegg (Scotty), John Cho (Sulu) e Anton Yelchin (Chekov). Bruce Greenwood (Pike) e Peter Weller (eterno Robocop, interpretando Marcus), acabam destoando um pouco do resto do grupo, nem tanto por suas interpretações, mas sim por certas incoerências, principalmente do Capitão Pike, que parece não se conectar de maneira apropriada com sua participação no primeiro filme - em certo momento ele crítica impiedosamente o comportamento de Kirk, parecendo não lembrar que o mesmo arriscou a vida para o salvar das mãos do romulano Nero. Faltou um pouco de consideração ali (coesão, na verdade). Mas isso não prejudica o resultado final.
No entanto, o grande destaque entre os atores é sem dúvida Benedict Cumberbatch, que interpreta o vilão John Harris (apesar de todos já saberem quem ele realmente é, vou manter este segredo para você que não sabe). A desenvoltura do ator britânico é impressionante, assim como seu trabalho vocal para o personagem. Inteligentemente, ele é analisado friamente pelo roteiro, e se torna peça fundamental para o êxito da fita. Um dos melhores vilões dos últimos (e também de todos os) tempos.
No final, "Além da Escuridão - Star Trek" é um clássico instantâneo do gênero Sci-Fi - nada mais justo para com a franquia. Diante de tamanha qualidade técnica e narrativa, é possível perceber a real admiração de J.J. Abrams pelo universo criado por Gene Roddenberry, mas principalmente vemos o quão apaixonada é sua gana por entregar uma direção perfeita e rica em detalhes. Como já foi exposto no primeiro "Star Trek" de 2009, este é um universo paralelo ao de Leonard Nimoy e Willian Shatner. Com esta liberdade em mãos, de recriar tudo do zero, Abrams tem a possibilidade de homenagear de maneira épica alguns dos mais importantes momentos do universo trekkie, mas dessa vez de forma diferente, com novos valores e significados - um verdadeiro toque de classe. Recomendado.
Além da Escuridão - Star Trek/ Star Trek Into Darkness: EUA/ 2013/ 132 min/ Direção: J.J. Abrams/ Elenco: Chris Pine, Zachary Quinto, Zoe Saldana, Karl Urban, Simon Pegg, John Cho, Anton Yelchin, Bruce Greenwood, Peter Weller, Alice Eve