Em 2007, Brian De Palma ousou sair de sua zona de conforto ao explorar de maneira documental a Guerra do Iraque com "Guerra Sem Cortes", que apesar de oferecer uma abordagem inovadora, foi menos contundente do que o esperado. Cinco anos depois, com "Paixão", o diretor retorna à suas raízes mais fortes: belas mulheres, sedução, intriga e morte.
Na história acompanhamos a estranha relação de Christine (Rachel McAdams) e Isabelle (Noomi Rapace). A primeira lidera uma famosa empresa publicitária, a segunda é sua mais importante funcionária. Apesar da proximidade e tensão sexual entre as duas, o clima de traição fica evidente quando Christine rouba os méritos de uma importante campanha elaborada por Isabelle, que por sua vez se aventura com o namorado da chefe. É em meio a este pesado clima de dissimulação que se inicia um tenso jogo de aparências, manipulação e vingança.
É possível perceber que, conscientemente, De Palma escolheu uma personalidade quase difusa para obra, o que torna a experiência estranha e ao mesmo tempo intrigante. O forte clima europeu contrasta também com certa americanização latente, simbolizada principalmente pela presença da atriz Rachel McAdams. No entanto, essas tais opções "ousadas" tornam a produção menos impactante em termos narrativos. Elas inviabilizam a densidade necessária que as personagens exigem para se tornarem menos caricatas dentro da trama que, querendo ou não, é pouco natural. Ou seja: ficou tudo muito exagerado.
Um dos elementos que potencializa esse sentimento desregrado é a trilha original de Pino Donaggio, um antigo colaborador do diretor. É certo dizer que em algumas sequências o tom musical agrega valores claros à produção, principalmente quando flerta com uma espécie de humor atípico, que dentro da realidade da história se revela um refresco e tanto. Já nos momentos de tensão, as linhas escolhidas são de uma nostalgia cafona que, mesmo sendo uma opção corajosa, acaba por enfraquecer o impacto das cenas. Foi algo bem intencionado, mas que simplesmente não funcionou positivamente.
As duas belíssimas atrizes principais trabalham bem, em especial a sueca Noomi Rapace, que consegue esconder totalmente seu sotaque europeu para o papel. Ambas as atrizes demonstraram maturidade diante da relação de amor e ódio de suas personagens, que serve de guia principal para a história. O desenvolvimento sórdido de suas personalidades também é trabalhado de forma eficiente, sendo essas evoluções um fator instigante. Já a equipe de coadjuvantes é fraquíssima, o que lesa o resultado geral.
No final, Brian De Palma realiza um filme irregular, mas que possui suas qualidades inerentes. O diretor reúne diversos fetiches em sua trama, conseguindo roteirizar um interessante thriller criminal - de carácter passional - que, mesmo com um andamento atípico, segura a atenção da audiência até o final. Mas é nos "detalhes" (sempre fundamentais) que "Paixão" tropeça feio. A atmosfera escolhida para obra não funcionou e acabou desvirtuando as qualidades técnicas e narrativas da produção. Além de que, fora do eixo de diálogos das atrizes protagonistas, não existe muita naturalidade a ser absorvida. Não é ruim, mas passa longe de ser bom.
Passion: Alemanha, França/ 2012/ 105 min/ Direção: Brian De Palma/ Elenco: Rachel McAdams, Noomi Rapace, Karoline Herfurth, Paul Anderson, Rainer Bock, Benjamin Sadler