Este novo "Chamada de Emergência" tinha algumas boas chances de ser bem sucedido, mesmo com um enredo extremamente genérico servindo como base. Primeiramente ele conta com a participação de duas atrizes queridas pelo público: a veterana Halle Berry e a jovem Abigail Breslin, conhecida principalmente por ser a garotinha bonitinha do famoso "Pequena Miss Sunshine".
Em segundo lugar vem o experiente diretor Brad Anderson, que já trabalhou bastante com TV - conduzindo, por exemplo, 12 episódios da épica série Sci-Fi "Fringe" - e que tem no currículo pelo menos dois ótimos filmes: "O Operário" (aquele em que Christian Bale aparece cadavericamente magro) e "Expresso Transiberiano" (thriller intercontinental arrasador). No entanto, nada disso parece ter resistido ao precário roteiro de Richard D'Ovidio ("13 Fantasmas"), que afetou todos os aspectos da produção como um vírus letal.
A trama acompanha a desesperada luta pela sobrevivência da adolescente Casey, que foi sequestrada na saída de um shopping center. Presa no porta malas do veículo de seu raptor, ela liga para o 911, famoso serviço de emergência americano. Do outro lado da linha, prestando não só assistência, mas servindo também como uma conselheira, está a atendente Jordan Turner, que depois de um tempo afastada - devido a uma crise nervosa, resultado da forte pressão que enfrenta no dia a dia da profissão -, retorna meio que bruscamente nesta ocorrência em específico. A situação para ela, mais que rapidamente, se torna pessoal - algo desaconselhado, obviamente.
O problema geral de "Chamada de Emergência" é a superficialidade de sua edificação e execução. O texto de D'Ovidio não se preocupa em fundamentar as transformações de seus personagens, sendo que diretor e a equipe de atores não conseguem amenizar o grave problema, muito pelo contrário, eles apenas o potencializam. O resultado então é um descompasso geral, marcado por mudanças narrativas abruptas e completamente inconsistentes. Colapsos psicológicos, por exemplo, não têm força dramática alguma, parecem apenas chiliques incompreensíveis, algo que definitivamente não condiz com o estrutura da história.
A direção de Anderson se prende a uma escassez de originalidade absurda. O único suspiro de inovação que o americano tenta agregar à fita são closes extremos do rosto da vítima, mas o resultado é fraco, não há nada de excepcional no artifício. A atriz Halle Berry bem que se esforça (como sempre), mas diante da falta de naturalidade da trama, seu desempenho dramático se transforma em um overacting mal regrado (eu na verdade nunca vi a atriz como uma grande intérprete, para ser honesto). Já pela vitimizada (e agora belíssima) Abigail Breslin, certa empatia é estabelecida, mas sua participação não escapa das caras e bocas comuns do desespero. Outro ponto negativo é a péssima equipe de coadjuvantes: nenhum se salva, ainda mais com o direcionamento pouco inspirado da produção.
No segundo ato, quando todo o plote foi estabelecido e personagens devidamente apresentados, temos um certo dinamismo proveniente da investigação policial e do trabalho coletivo da equipe de atendentes, que realiza uma troca rápida de informações, possibilitando a identificação do carro em que o vilão leva sua refém... e por aí vai. Essa parte até que agrada, mas ela dura no máximo dez minutos. No final, "Chamada de Emergência" parece um filme "sessão da tarde" bem ruim, daqueles que você assiste enquanto tira um cochilo. Algo genérico, com personagens descartáveis e pobremente realizado. Passe longe.
Chamada de Emergência/ The Call: EUA/ 2013/ 94 min/ Direção: Brad Anderson/ Elenco: Halle Berry, Abigail Breslin, Morris Chestnut, Michael Eklund, David Otunga, Michael Imperioli, Justina Machado, José Zúñiga