Definitivamente, "O Lugar Onde Tudo Termina" não era nada do que eu estava esperando. Mas não me entenda mal, isso no final foi muito bom. A verdade é que a fita oferece uma grata sensação de surpresa, alicerçada principalmente por sua criatividade e ousadia narrativa.
Aparentemente a produção é um drama que promete profundidade - levando em consideração o trabalho anterior do diretor e roteirista Derek Cianfrance, o triste e inesquecível "Namorados Para Sempre". No entanto, o que acompanhamos é um grande amálgama de histórias que, apesar de convenientemente interligadas, nos levam a questionar o senso de humor sórdido da realidade, que se revela forçosamente plausível no final das contas.
No início temos a relação problemática de Romina e Luke. Ela é uma garçonete que busca se manter focada em seus objetivos pessoais, e ele é um piloto de moto que arrisca a vida em um globo da morte circense. Após um ano sem nenhum contato, o casal se reencontra, e Luke descobre que é pai de um recém nascido. Empenhado em prover o sustento desta "nova família", o cara tenta se acertar dentro da sociedade, só que a possibilidade de faturar uma boa grana realizando assaltos relâmpagos a bancos acaba por dominar o disfuncional comportamento do motociclista - o vício por adrenalina leva pessoas as mais estúpidas atitudes.
Enfim, este é apenas o alicerce da trama, que se desmembra em três núcleos diferentes, todos interligados, mas distintos narrativamente. O principal tema discutido no final é a responsabilidade de um pai perante o filho, como este último vai encarar o legado que lhe foi deixado, e o que fará com ele.
O Lugar Onde Tudo Termina/ The Place Beyond the Pines: EUA/ 2012/ 140 min/ Direção: Derek Cianfrance/ Elenco: Ryan Gosling, Eva Mendes, Mahershala Ali, Ben Mendelsohn, Bradley Cooper, Rose Byrne, Harris Yulin, Bruce Greenwood, Ray Liotta, Emory Cohen, Dane DeHaanEnfim, este é apenas o alicerce da trama, que se desmembra em três núcleos diferentes, todos interligados, mas distintos narrativamente. O principal tema discutido no final é a responsabilidade de um pai perante o filho, como este último vai encarar o legado que lhe foi deixado, e o que fará com ele.
É possível perceber que os personagens são retratados de maneira ligeiramente esquemática. Temos escancarados os defeitos e qualidades dos mesmos, e também os porquês disso, mas não a sensação real do sentimento que os conduziu até aquele determinado momento. Essa falta de profundidade por vezes faz com que atitudes e motivações sejam questionáveis, mas isso é atenuado pela direção competente de Cianfrance, que entrega um andamento orgânico e ao mesmo tempo carregado de personalidade. O diretor oferece uma austeridade quase mórbida diante da dura realidade explorada pelo texto, deixando o filme menos melancólico e mais imersivo.
A trilha sonora de Mike Patton é outra peça fundamental que fortalece o desenvolvimento do longa. No currículo do compositor (que é no mínimo excêntrico) estão bandas como Faith No More e Mr. Bungle, e devido a esta diversidade óbvia na sua forma de pensar em música, o resultado final se apresenta como algo nitidamente estranho e atraente. Temos linhas carregadas de um suspense exacerbado, que emulam em certos momentos um clima quase "hitchcokiano". Tons funestos geram uma áurea surrealista, que remete às composições de David Lynch, sendo que em seguida tudo pode mudar ao som de uma batida melódica e sentimental, enfatizando assim algum drama em destaque.
O trabalho do elenco é sólido, o que atenua ainda mais a tal falta de profundidade dos personagens. A lista de bom atores presentes é extensa: temos Ryan Gosling, Eva Mendes, Ben Mendelsohn, Ray Liotta, Harris Yulin, Bruce Greenwood, Rose Byrne e Dane DeHaan. Bradley Cooper é um dos grandes destaques com sua interpretação do oficial Avery, que se envolve diretamente no caso dos assaltos a bancos efetuados por Luke. Cooper ainda é fortemente vinculado a franquia "Se Beber, Não Case!", mas com "O Lugar Onde Tudo Termina" ele prova mais uma vez sua versatilidade, após o excelente "O Lado Bom da Vida".
Em resumo: "O Lugar Onde Tudo Termina" surpreende. Mesmo com o acaso servindo de fada madrinha, temos um roteiro inteligente, que vem cheio de significados, possibilitando que a audiência meça valores. Em determinados trechos os personagens parecem um pouco desconexos diante da objetividade obstinada do diretor Derek Cianfrance, mas tudo é amenizado pela qualidade técnica oferecida, trilha sonora distinta e atuações motivadas. O filme é longo e levemente moroso, o que pode ser um problema para alguns. Mesmo assim, é uma experiência extremamente válida.