O Hobbit: A Desolação de Smaug (The Hobbit: The Desolation of Smaug)

Um retorno épico de Peter Jackson à Terra Média.

Revisitar a Terra Média é sempre uma experiência inesquecível. O mítico local, saído da mente de J.R.R. Tolkien, sabidamente possui fortes raízes nestes tempos modernos, raízes estas plantadas pelo diretor Peter Jackson e as roteiristas Fran Walsh e Philippa Boyens - que foram auxiliadas nesta "Trilogia Hobbit" pelo mexicano Guillermo del Toro.
  
E depois do subestimado "Uma Jornada Inesperada", Jackson continua sua peregrinação criativa pelos capítulos e apêndices do infanto-juvenil "O Hobbit" (de 1937), sendo agora a vez de "A Desolação de Smaug" vir à tona. Depois das devidas apresentações do primeiro episódio, este parece mais livre para entreter o público, e é isso que acontece.

O grande trunfo da escrita de Tolkien (e consequentemente de sua adaptação para o cinema) é a capacidade da mesma transitar entre diferentes gêneros com enorme naturalidade. O resultado disso é uma mistura uniforme de ação estonteante - cheia de brutalidade, cabeças decepadas e transpassadas por flechas certeiras -, que se mistura à sequências impagáveis de humor, e também cenas de forte apelo dramático, donas de uma beleza narrativa sem igual.

O apuro visual de "A Desolação de Smaug" é estupendo. Trabalhando com a alta taxa de frames por segundo (48 fps), o resultado é de uma vividez impressionante. É de encher os olhos de lágrimas, quando Bilbo, por exemplo, encontra seu caminho rumo ao sol sobre as árvores da Floresta Das Trevas, ou quando Tauriel se mostra entusiasmada ao dividir suas histórias de aventura com Kili, pequenino cheio de proezas.



A riqueza de detalhes da direção demonstra novamente a paixão de Jackson pelo tema. Tudo é orquestrado de maneira minuciosa, desde a contundente cenografia (vide a Casa de Beorn) até maquiagens embasbacantes, da movimentação inventiva de câmeras até a construção de cenas incríveis, com transições perfeitas de núcleos e temas (o que não é fácil), tudo acompanhado pela trilha sonora impecável de Howard Shore - que dessa vez passeia por novos caminhos, melodicamente revigorantes.

É possível perceber que, para dar corpo ao roteiro, o texto em certos momentos se estende de forma morosa, mas nunca irrelevante. No entanto, isso pode desagradar os mais impacientes, uma reclamação constante quando falamos de filmes longos. Parece que, infelizmente, certo pensamento "enlatado", de que filmes precisam ter duas horas no máximo, acaba minando a apreciação de parte do público.



Mas obviamente, são grandes atores que fazem de "A Desolação de Smaug" um filme acima da média. É possível perceber que até mesmo Orlando Bloom, antes jovem e inexperiente, amadureceu como profissional. Ian McKellen (que interpreta o mago Gandalf) parece, inacreditavelmente, ter encontrado espaço para evoluir como intérprete, trabalhando de forma fantástica o gestual do personagem, e fazendo ecoar cada palavra dita pelo mesmo. Martin Freeman como Bilbo continua a escolha certa, sendo que sua personalidade, caricata e amigável, serve de base para este memorável protagonista. Algo digno de muito respeito.

Entre outros muitos atores, creio que os destaques sejam: a belíssima Evangeline Lilly como Tauriel - atriz que surpreende no papel, e entrega algumas das sequências mais tocantes do longa. Lee Pace chama atenção com o andrógeno Thranduil, elfo impiedoso que tem pouco tempo de cena. Mikael Persbrandt também merece ser lembrado pelo seu trabalho como o temível e amargurado Beorn, e Benedict Cumberbatch se mostra visível por trás da voz e olhos assustadores de Smaug.

Em resumo: "O Hobbit: A Desolação de Smaug" é mais uma inesquecível viagem à Terra Média. O filme é um êxito cinematográfico em termos narrativos e visuais. Como adaptação, podemos dizer que ele enriquece o universo criado por Tolkien. Este segundo filme pode parecer mais fluido e dinâmico do que o primeiro, mas vejo isso como uma questão de perspectiva. No final, as três obras provavelmente funcionarão plenamente para todos. Nos vemos "Lá e de Volta Outra Vez".








O Hobbit: A Desolação de Smaug/ The Hobbit: The Desolation of Smaug: Eua, Nova Zelândia/ 2013/ 161 min/ Direção: Peter Jackson/ Elenco: Ian McKellen, Martin Freeman, Richard Armitage, Ken Stott, Graham McTavish, William Kircher, James Nesbitt, Stephen Hunter, Dean O'Gorman, Aidan Turner, John Callen, Peter Hambleton, Jed Brophy, MArk Hadlow, Adam Brown, Orlando Bloom, Evangeline Lilly, Lee Pace, Cate Blanchett, Benedict Cumberbatch, Mikael Persbrandt, Sylvester McCoy, Luke Evans

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