Dizer que nada de novo é produzido em Hollywood seria um exagero, porém é verdade que a indústria cinematográfica vem sugando de maneira desmedida os famosos reboots e remakes. Parece que o saudosismo e as peculiaridades do passado se tornaram uma rentável alternativa para os grandes estúdios. Por isso, quanto mais melhor (?). Mas enquanto algumas dessas realizações acertam no tom e principalmente na intenção, outras erram feio.
Chegamos então neste Oldboy, agora americano. Oficialmente, o filme não é um remake daquele outro Oldeuboi que foi dirigido de forma brilhante por Chan-wook Park em 2003. No caso, ele seria uma diferente adaptação da série mangá homônima de Garon Tsuchiya e Nobuaki Minegishi. Mas na teoria essa conversa não convence, pois afinal, a produção pega carona no sucesso da versão sul-coreana sem suar nenhuma gota.
Oldboy é um dos mais famosos contos de vingança de nossa cultura pop moderna. Ele nos fala sobre o sofrimento de Joe, sujeito que é preso por duas décadas em um quarto de motel sem nem ao menos saber a razão. Mas num dia qualquer o mesmo acaba solto, abandonado no meio do nada dentro de uma mala. Seu único instinto ao recobrar a consciência é: descobrir porque foi preso e destruir o responsável por isso.
Apesar de estranha, a escalação do diretor Spike Lee trouxe credibilidade para o projeto, assim como a presença de Josh Brolin no papel do protagonista Joe. No entanto, o que vemos na tela é uma tentativa frustrada de emular uma grande história. A personalidade da obra fica perdida em meio aos expressivos conceitos orientais de cinema e ao pastiche dos filmes americanos de ação.
O roteiro de Mark Protosevich é talvez o maior dos problemas. O argumento se estende de forma desnecessária por entre os atos do filme, tornando o andamento pouco natural. A abordagem da temática é rasa, cheia de inconsistências e facilitações. Para citar dois exemplos destes problemas, peguemos a longa e cansativa sequência inicial, que tenta, sem sucesso, se aprofundar na falta de caráter de Joe, como se procurasse uma justificativa. Opção caricata e ausente de propósito. Já a cena em que a personagem Marie Sebastian conhece Joe (um momento importante) é de um acaso relaxado e extremamente pouco inspirado (aqui você não verá ninguém comendo aperitivos vivos).
No geral, nada novo consegue tornar a trama digna do interesse que merece. As tentativas de ocidentalizar elementos da narrativa não comungam com o espírito da história. Elas são aleatórias e esquecíveis, para se dizer o mínimo. Mesmo que o personagem Adrian ofereça algumas ideias transformadoras, nenhuma agrada plenamente. O fato é que, com este lançamento, as apostas criativas deveriam ser altas, e não foram. Mas isso já parecia extremamente óbvio para boa parte do público.
Tecnicamente a produção tem seus acertos. A cenografia é competente, existe um eficiente trabalho com a paleta de cores, a trilha sonora funciona, assim como a violência bruta, que é visualmente realista.
Mas os defeitos não são atenuados a marteladas ou tiros de espingarda calibre 12. A fotografia escolhida é ordinariamente padronizada. Ela arranca a vida da tela e enlata. As lutas coreografadas sofrem com tamanha falta de naturalidade que, de tão obvias, é possível prever para onde a câmera vai ou quem é o próximo a golpear - bem diferente da versão de Wook Park. Mas lá não existe esse esquema de luta coreografada, apenas ensaiada.
As coisas não melhoram com o elenco. Josh Brolin foi uma péssima escolha para o papel de protagonista. Primeiramente, por causa dele, não percebemos em Joe nenhuma transformação, nem física (inicialmente ele estufa barriga, posteriormente ele murcha) e muito menos psicológica. Brolin aborda o sofrimento do personagem de maneira pedante, e para o ódio oferece somente uma cara fechada, alguns gritos e braços erguidos. Elizabeth Olsen ainda é uma atriz inexperiente, mas convence em poucas cenas (inclusive na de sexo). Já Sharlto Copley demonstra entusiamo como Adrian, mas infelizmente não consegue desenvolver algo mais relevante devido as inadequações do roteiro.
Em resumo, esta versão americana de Oldboy é mais ou menos o esteriótipo do que seria o esteriótipo da versão sul-coreana. Sua característica mais impressionante é conseguir arruinar uma história incrível, e confesso que isso me parecia impossível. Unindo então minha voz ao coro, digo que este filme pode ser definido plenamente em uma só palavra: desnecessário.
PS #1: Já estava esquecendo, o Samuel L. Jackson também aparece no filme.
PS #2: This is a bad trip joint!
Oldboy - Dias de Vingança/ Oldboy: 2013/ EUA/ 104 min/ Direção: Spike Lee/ Elenco: Josh Brolin, Elizabeth Olsen, Samuel L. Jackson, Sharlto Copley, Michael Imperioli, Pom Klementieff